Review – Air Gear é só mais um rosto bonitinho?

Que Air Gear é um título de sucesso, que é reconhecido por todo mundo, isso é inegável. Mas… vale a pena comprar?

Continuando com as reviews da última enquete, chega a vez de falar de um dos mangás mais comentados desse ano: Air Gear. A editora Panini mais uma vez acertou no título para o mercado nacional, trazendo um mangá com grande apelo para os fãs de shounen e que certamente era esperado por muitos desde o lançamento de Tenjho Tenge pela concorrente JBC. Aliás, esse é um dos grandes pontos de Air Gear e da Panini: surpreendeu. Muitos já davam certo esse título pela editora rival depois da publicação do outro trabalho do autor. Mas para a alegria dos fãs, esse fato não se concretizou. E nem digo pela editora em si, mas acho que muitos como eu ficaram traumatizados depois dos casos e descasos na tradução e adaptação de Tenjho Tenge. Essa não deu pra passar, JBC.

Mas enfim, novamente não quero entrar na questão editora X contra editora Y. Vamos falar do que realmente interessa e o que todos querem saber: Air Gear. Vale a pena comprar esse mangá? Porque ele é tão badalado pelos fãs? Qual o diferencial? Como foi o trabalho da Panini no Brasil? Pois bem. Vamos por partes…

A história

Minami Itsuki é um garoto de 15 anos que como a maioria dos protagonistas atuais é o famoso “bad boy” da turma. Líder de uma “gangue” do colégio, os “Guns do Leste” e temido por todos, Itsuki convive diariamente com desafios de outras turmas, mas sempre acaba vitorioso. Porém um dia a história não segue o planejado, e Itsuki acaba com um sujeito que se dizia amigo de uma gangue denominada “Skull Saders”. O perdedor realmente não brinca com suas afirmações ameaçadoras e os perigosos acabam indo atrás do protagonista e de seus amigos.

Os Skull Saders se mostram uma gangue impiedosa que se utilizam de “Air Trecks” (espécie de patins motorizados) para fazer seus ataques, e eles partem ao encontro de Ikki (como também é chamado Itsuki), lhe aplicando uma grande surra e deixando o garoto em um estado deplorável. Mas o pior ainda estava por vir, e a gangue violenta sexualmente algumas amigas do garoto. Uma cena chocante.

É nesse instante que surgem os Air Trecks na vida de Ikki, e com a ajuda de suas companheiras de quarto (a explosiva Mikan, a pequena Ume e a doce Ringo) ele resolve aprender (obrigado) mais sobre os aparelhos e suas manobras incríveis, inspirado pela sua admiração, a bela Simca. E claro, que o desejo de vingança surge cada vez mais no jovem, disposto a recuperar sua reputação junto aos seus amigos e a dignidade de seu colégio e dele mesmo. Porém muitos mistérios e revelações aparecem em sua vida, e aos poucos ele percebe que não conhecia tão bem assim as garotas que moravam com ele… Além, é claro, de cada vez mais Itsuki entrar no mundo dos Storm Riders e partir em busca do “vôo perfeito”. Será que ele conseguirá se destacar ou será “só mais um”?

Considerações Técnicas 1 – O trabalho da Panini

Bem,  vou primeiro falar do trabalho da Panini. Tenho que dizer que dos mangás “standards” (os normais, mensais e bimestrais) Air Gear com certeza já é o de melhor acabamento e trabalho por aqui, sem dúvida nenhuma. Ao lado de Basilisk (que possui resenha da Roberta lá no Elfen Lied Brasil) é incrível a qualidade gráfica desse título comparado com os outros títulos, tanto da própria Panini como da JBC. O mais incrível é que com os mesmos R$10,90 que você paga na editora concorrente, aqui você consegue um mangá com páginas coloridas em papel de boa qualidade, sem manchas na impressão e com os mimos que a Panini já vem oferecendo para seus leitores, como capa interna desenhada e tudo mais. É tão difícil assim manter esse padrão para os nossos produtos? Claro que ainda falta MUITO para chegarmos aos pés dos mangás americanos e europeus (E quando chegamos próximos, o pessoal ainda reclama do preço. Vide NewPop.), mas um avanço agora seria bem vindo. Pessoal, o público está se tornando mais exigente! Está na hora de começarem a pensar nisso! Acordem!

Mas enfim, vamos direto ao ponto. Tradução de Karen Kazumi e adaptação de Beatriz Berto, ambas de qualidade em Air Gear. Assim como o outro título do autor, Air Gear é recheado de gírias, expressões estranhas e até alguns palavrões de vez em quando. Nesse quesito nada a reclamar. Não inventaram como a JBC tentou em Tenjho Tenge (desculpe gente, eu nunca vou esquecer isso) e mesmo assim conseguiram deixar uma leitura fluente e sem afetar em nada o leitor.

Um dos grandes pontos que eu gostaria de destacar, é que a Panini agora utiliza um plástico diferente em seus mangás… Um plástico que lembra muito aqueles que a Comix embala todos os mangás em eventos como o Fest Comix, e que é de uma qualidade diferente do anterior. EU particularmente achei esse melhor. Ele não sufoca o mangá como o outro fazia e ainda se for aberto de forma correta, pode ser reaproveitado posteriormente para guardar as revistas. Porém algumas pessoas não têm a mesma opinião e acreditam que o plástico seja de baixa qualidade, ou que a editora apenas esteja “cortando gastos”. Eu particularmente acho isso muito difícil, e no final acaba realmente sendo um caso de opinião…

No mais, a Panini está de parabéns. Que Air Gear e Basilisk se tornem um novo padrão de qualidade dos mangás brasileiros por hora. Precisamos desse tipo de cuidado e mimo para os leitores nacionais.

Considerações Técnicas 2 – A história

Vamos direto ao ponto: a arte de Air Gear é sensacional!! O autor “Oh Great!” (pseudônimo) manda muito bem nos desenhos, e quem leu Tenjho Tenge sabe que os traços dele só melhoram com o decorrer da série. Evolução que você também vai conseguir ver em Air Gear, tendo em vista que as duas séries foram feitas durante boa parte do tempo em simultâneo.

No mais, posso dizer que Air Gear não é nada de especial se tratando de roteiro e história. Assim como TenTen, o autor às vezes joga fatos “do nada”, coloca lutas, enrola na história, personagens brotando à todo instante. É um carnaval frenético. E frenético é o melhor adjetivo para definir essa série. Ela é constantemente um prato cheio para quem gosta de ação com uma dosagem camuflada de esporte. Tirando é claro o alto nível de fanservice, prato cheio do autor e marca registrada dele. A Simca é uma paixão para os olhos.

Mas como comentei, acredito que aqueles que buscam por uma “história” de fato, não vão se satisfazer com Air Gear. Ele é um mangá sem preocupação, para se admirar, pra passar o tempo e pra não ter preocupação nenhuma com o roteiro. São 32 volumes sem perder o ritmo, com muita porrada, desenhos sensacionais e algumas partes emocionantes, de pura adrenalina! Air Gear é o típico shounen feito para DIVERTIR! E cumpre seu papel.

Comentários gerais

Air Gear é publicado na revista japonesa Shounen Magazine e já conta com 32 volumes encadernados com mais de 320 capítulos. Não acredito que o mangá será “eterno”, mas acho que temos um bom caminho pela frente. Se você está disposto à colecionar um mangá mensal recheado de cenas “muito loucas” e “massa demais” de ação, pode ter certeza que esse é para você. Se você procurar um título que mostre uma história consistente, super desenvolvidos e algo “cabeça”, CORRA! Esse mangá não deve fazer o seu gênero.

No mais, fico muito feliz com esse título por aqui. É uma marca forte, e que com certeza venderá bem (Inclusive em algumas bancas de São Paulo o mangá acabou bem rápido. Fica a dúvida do tamanho da tiragem). Com personagens carismáticos, traços LINDOS (vale muito a pena reforçar isso) e com um grande apelo ao público masculino, Air Gear tem tudo para ser um dos carros chefes da Panini por muito tempo. Além do mais, é bom de vez em quando ter um título descompromissado assim na sua prateleira. Passar o tempo e se DIVERTIR é algo que o nosso público parece vir esquecendo de fazer. Vamos ser exigentes, vamos cobrar, mas vamos dar algumas risadas e descontrair de vez em quando também, não é?  Não machuca ninguém de vez em quando.

por Dih

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.