Review – Um choque cultural chamado Bakuman!

No último dia 10 de Agosto, foi as bancas o mangá Bakuman pela editora JBC. Muitos já conheciam a história mas… E quem o encarou pela primeira vez?

Bakuman era um dos mangás mais aguardados pelos fãs no Brasil esse ano de 2011. Depois de muito mistério, a JBC lançou o título e claro que junto de um grande título aparece uma grande repercussão. Já vi algumas reviews e impressões espalhados por aí na internet, como a análise “técnica” e muito boa do meu amigo Leandro do Buteco Shonen, a engraçada e despojada da Mara no Mais de Oito Mil ou a comparação com a edição americana do meu xará Diogo do MBB Anikenkai. Talvez o que vocês verão hoje aqui, confronte um pouco com a opinião de ambos. Mas em nenhum momento nós estamos tentar formar opiniões em vocês. São apenas visões diferentes de pessoas que leram e interpretaram o título de diferentes maneiras e que estão transpassando esse “sentimento” aos leitores. Fico feliz que mesmo com as diversas opiniões encontradas na internet, tenham pedido por esse mangá ser resenhado por aqui. Mas enfim, chega da parte burocrática…

Em primeiro lugar, acho necessário dizer algo que muitas vezes as pessoas se esquecem: não é porque você conhece algo e porque gosta, que o outro é obrigado automaticamente a fazer o mesmo. Vi muita gente comentando no Facebook, Twitter e outros que jamais tinha lido o mangá de Bakuman e muito menos assistido o anime. Então não adiantaria eu chegar aqui e começar a criticar a história  sem comentar sobre ela. Da mesma forma que não posso comentar somente da qualidade física da JBC e deixar de lado o que realmente importa: Bakuman.

A história

Bakuman conta a história de dois jovens, Moritaka Mashiro e Akito Takagi. Mashiro tem o mesmo destino (aparentemente) de todos os garotos de sua idade: estudar e tentar frequentar uma faculdade boa e que lhes de um bom futuro. Porém tal idéia não parece ser levada pra frente com muito entusiasmo pelo garoto. Um dia, tudo muda graças à Takagi. Depois de um dia de aula normal, Mashiro decide ir para casa estudar, mas percebe que havia deixado seu caderno no colégio. Preocupado (ou receoso) pelo conteúdo que ele havia deixado no caderno, o garoto resolve ir buscar seu pertence, mas chegando lá se depara com Takagi segurando o objeto. Ele diz que vai devolver o caderno para Mashiro com uma condição: que ele desenhe suas histórias e juntos se tornem mangakás reconhecidos. Tudo porque ele viu o desenho que o garoto fez da sua amada Azuki em uma das páginas do caderno.

Mashiro acha a idéia totalmente maluca, principalmente vinda do estudante número 1 da sala. Porém, depois de muito persistir, ele aceita pensar mais sobre o assunto. Mas claro que Takagi, inteligente como é, já tinha um plano em mente, e resolve levar Mashiro até a casa de Azuki, fingindo (ou ao menos parecendo fingir) que ele iria se declarar para a garota. O problema é que ao chegar lá, Mashiro percebe que a intenção dele era totalmente diferente e que na verdade ele queria é que o próprio se declarasse para a menina. A grande surpresa se revela quando Azuki diz que seu sonho era de se tornar uma dubladora (seiyuu) e Mashiro revida dizendo que vai se tornar um mangaká. Mas o pior não estava aí: Mashiro pede Azuki em casamento! Mas para isso, ele precisaria primeiro ter um anime em exibição na TV e ela deveria ser a dubladora da sua protagonista.

A confusão aumenta ainda mais quando Azuki aceita a proposta, mas diz que eles não vão se ver até que o sonho de ambos se torne realidade. Agora Mashiro e Takagi terão que correr contra o tempo para conseguir o sucesso no mundo dos mangakás. Para isso, eles contarão com a “ajuda” do tio de Mashiro, Taro Kawaguchi, que apesar de ter morrido por causa da falta de sucesso em suas serializações, deixa de “presente” para seu sobrinho um escritório com todos os seus pertences da época de mangaká, além de todas as lições de vida, inclusive no amor. Será que Mashiro e Takagi conseguirão um anime antes dos 18? E será que superarão Taro e conseguirão o sucesso de fato? Bem, só o tempo dirá…

Considerações Técnicas 1 – Sobre a história

Bem, devo dizer logo de cara: Bakuman não vai agradar a todos. Para falar a verdade, no início eu não achei que Bakuman faria o sucesso que fez (ou pelo menos a “fama”). Talvez o fato de ser dos mesmos autores de Death Note tenha alavancado muito o sucesso da série, não sei… Quem comprar Bakuman esperando um mangá agitado, movimentado, repleto de cenas de ação e de aventura ao melhor estilo “porrada”, pode ter certeza que jogará seu dinheiro fora. O mangá não chega nem perto disso. Talvez seja movimentado sim, nas reviravoltas que o enredo às vezes trás (mesmo que algumas vezes sejam previsíveis) e na forma como os autores conseguem conduzir a história, sempre de maneira muito igual e retilínea.

O desenvolvimento da série chega a ser lento, massante, e algumas vezes ler o volume “fechado”  pode ser muito mais cansativo do que ler os capítulos semanais do mangá. São muitas informações, muitas referências, muitas curiosidades e muita análise “psicológica” digamos assim, dos personagens. Principalmente quando falamos do romance entre Mashiro e Azuki, que chega a ser utópico e cansativo muitas vezes no decorrer do mangá (e que particularmente acho um dos pontos fracos da história). Não que eu não ache a história “bonitinha” e “fofinha”, mas pense nesse plot se arrastando por mais de 10 volumes. Não é lá muito animador.

Mas existe um ponto que eu gostaria de destacar e que ilustra o título dessa postagem: Bakuman é um choque cultural para a sociedade brasileira. Isso não é algo ruim, claro que não. Pelo contrário. O que realmente me atrai em Bakuman é esse clima “real” da história, explicando alguns processos de produção de um mangá (mesmo que isso pareça ter sido limitado com o tempo por ordens “superiores”) e mostrando muito da vida de alguns jovens japoneses que realmente possuem seus sonhos e enfrentam uma sociedade conservadora. Mas algo que você percebe é um certo tom “machista” na história, o que pode incomodar um pouco alguns. Como falei antes, a história é baseada no padrão de vida JAPONÊS e como a sociedade daquele país se comporta. Podemos perceber muito disso nas falas do Takagi sobre a vida da Azuki e como ela deveria se tornar uma “moça comum”.

Eu particularmente espero que as pessoas não encarem isso como “que mangá preconceituoso” ou “mangá machista”, mas sim como um aprendizado. É interessante ver como isso conseguiu ser passado no mangá (e continuará sendo com o tempo) e serve como base para uma comparação com nossa sociedade (que também tem muito a melhorar, convenhamos).

Considerações Técnicas 2 – O trabalho da JBC

Em primeiro lugar, vamos aprender algumas coisas: Não são todas as séries que possuem páginas coloridas no Japão, minha gente. As séries da Jump, por exemplo, só possuem algumas páginas em situações especiais. O que você vê nos scans todas as semanas NÃO são os materiais impressos nos volumes, por isso as páginas coloridas só estão nas revistas. Por esse motivo, reclamar disso já está se tornando chato. “Mas Dih, e Air Gear da Panini?” Alguns mangás são casos à parte e tem as páginas coloridas como atrativos da série, como características delas. Air Gear é uma delas. Tenjho Tenge também (esse sim foi um “erro” da JBC). Não são todos os mangás, são apenas exceções.

Mas vamos sair desse assunto e falar sobre a JBC em si. O que mais preocupou a mim e aos fãs seria sobre a tradução, principalmente depois de fiascos em Tenjho Tenge, Fairy Tail, derrapadas em Hunter x Hunter e outros. Posso dizer que o trabalho foi satisfatório. Gostei muito da tradução do Edward Kondo (que já havia feito um bom trabalho nos volumes finais de TenTen) e da adaptação que a editora utilizou (nesse mangá, a ausência dos honoríficos foi muito bem vinda, ou tornaria a leitura ainda mais cansativa). Tirando um “cê” aqui e outro ali (algo que você consegue passar despercebido na leitura), não temos problemas nessa primeira edição. As referências originais também foram mantidas (nomes de autores e de outros mangás como Dragon Ball e Ashita no Joe) e novamente reforço o bom trabalho da JBC. Não me arrependi em comprar.

Quanto à qualidade física, não podemos falar muito. O formato escolhido é o padrão da JBC (tanko comum) e não temos os mesmos “mimos” que vemos na Panini (contra-capa diferente da capa, capa interna desenhada). Nesse quesito a JBC ainda perde feio comparada com sua concorrente italiana, não é novidade para ninguém. Já os extras, temos os mesmos dos originais, com os rascunhos dos autores entre os capítulos, mantendo o padrão de Death Note, onde cada capítulo vinha com uma página do caderno da morte “original”.

Bem, poderíamos ficar aqui discutindo horas sobre Panini x JBC, mas não será esse o caso. A questão é que a JBC não comprometeu e conseguiu chamar mais atenção pelo título do que por suas gafes nas edições nacionais. Ponto pra ela.

Comentários gerais

Bakuman chega para ser um dos destaques de um ano ótimo para os fãs de mangás no Brasil. Muitas surpresas virão, mas Bakuman conseguirá ser protagonista ao lado de outros títulos, isso sem dúvida nenhuma. Eu particularmente gosto muito de Bakuman mesmo a história sendo cansativa em alguns momentos. O tema é bom, a história é agradável e o traço de Takeshi Obata é muito do meu agrado. Algo interessante é que o mangá não faz “lembrar Death Note” como alguns autores fazem com seus desenhos. Ele tem sua identidade própria.

No momento, existem 14 volumes lançados no Japão, e com a nossa periodicidade sendo mensal, deveremos alcançar os japoneses daqui pouco menos de 2 anos (considerando a idéia de que quando chegarmos aos 14 volumes, já existirão novos por lá). A série também teve um anime de 25 episódios e que ganhará segunda temporada em breve (e que não foi lá muito do meu agrado comparado com o mangá, mas que corre num ritmo muito melhor).

Resumindo: vale a pena comprar Bakuman? Vale se você for fã de histórias com uma temática mais trabalhada do que concentrada em lutas. Bakuman tem seu charme próprio, mas que não consegue atingir a todos. Pode parecer conversa de fã, mas eu recomendaria ao menos lerem os 3 primeiros volumes antes de dropar. Os melhores personagens ainda irão aparecer e a história ainda vai se desenvolver muito. E preparem-se para conhecer de uma forma muito criativa um pouco desse grande universo dos mangakás japoneses.

por Dih

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.