Comparando #01 – ST&RS vs Twin Spica: Semelhanças espaciais?

Como é encontrar semelhanças em séries para vocês? Começa hoje no Chuva de Nanquim uma nova seção pra mostrar que nem tudo precisa ser ruim… ou bom.

Sabe quando você lê uma série e sente uma sensação de “já vi isso em algum lugar”? Qual a sensação que você sente? Cópia? Bom ver semelhanças entre séries? Pois bem, as reações são diferenciadas e é isso que essa nova seção tentará passar para vocês. Ele não terá a mesma frequência que o “Eu Recomendo” ou o “ChuNan! Top”, mas sempre que surgir uma idéia legal teremos algo aqui, portanto fiquem de olho! Nesse primeiro texto, nosso colaborador Fabio nos trás uma discussão envolvendo a nova série da Jump, ST&RS e uma série que já teve até seu anime exibido no Brasil, Twin Spica. Confiram o texto do rapaz e não deixem de comentar! Prepare o refrigerante e boa leitura:

As semelhanças dos mangás espaciais

Quando houve o anúncio do mangá St&RS da Shonen Jump, apenas citaram que era a história de um garoto que sonhava em ser astronauta. O próprio Sasaki, na época ainda editor chefe da revista, se dizia muito empolgado com o título e divulgou muito em seu Twitter o site em que a revista disponibilizava o primeiro capítulo em inglês. Só que, enquanto eu me empolgava com a idéia do mangá, outra série veio à minha mente automaticamente apenas de ouvir a premissa. Lembrei de Twin Spica, um mangá sobre uma garota que sonha em ser “piloto de foguete” desde criança.

Nesta matéria eu almejo comparar essas duas séries de premissa semelhante, mas não com o intuito de acusar St&RS de plágio ou de ter se inspirado em Twin Spica. O mais interessante é tentar entender por que as duas séries possuem estas mesmas semelhanças de protagonistas cujo sonho é o espaço.

Por que o espaço?

Ainda hoje temos muitos filmes que exploram o espaço, como o recente Apollo 18. O espaço ainda é um tema que fascina o ser humano porque ele é algo desconhecido, que não temos acesso fácil e que as dúvidas abundam enquanto as respostas antigas são destruídas a cada nova descoberta. No período que essa matéria foi escrita tivemos a NASA anunciando que um satélite ia cair na Terra e eles não conseguiam nem ao menos calcular o lugar da queda ou o horário, e isso mostra como o território além da estratosfera ainda é um grande vazio a ser explorado. E tanto Twin Spica quando St&RS se apóiam nesse desconhecido e o transforma em ponto de chegada para os personagens.

Twin Spica é um mangá seinen que se passa algumas décadas depois do nosso presente, onde o Japão conseguiu juntar recursos e tecnologia para mandar um foguete com astronautas dentro, mas poucos segundos depois da decolagem, uma falha terrível acontece e o foguete cai em cima de um bairro, matando muitas pessoas. Uma destas é a mãe de Asumi Kamogawa, a protagonista do mangá, que mesmo com tudo o que aconteceu deseja ser um “piloto de foguete”. Um dos motivos para Asumi também querer ir ao espaço é por conhecer um espírito que veste uma máscara de leão, e que ela chama de Senhor Leão, e que na verdade é o espírito do piloto do foguete que morreu. Depois de crescida, Asumi vai para a cidade grande para estudar na recém inaugurada escola de astronautas, e lá precisa enfrentar diversos problemas.

St&RS, por outro lado, é um mangá majoritariamente shonen (como se poderia esperar, afinal é publicado pela Shonen Jump) que também se passa algumas décadas à frente. No ano de 2019, uma garota de dez anos chamada Fifi conseguiu descobrir uma mensagem alienígena recebida pela Terra. Um grande anúncio foi preparado pelas autoridades e Fifi revelou o conteúdo da mensagem, que é algo como “7 de Agosto de 2035, vamos nos encontrar em Marte”, e isso inicia uma “corrida espacial” para que o homem consiga chegar em Marte na data estipulada pela mensagem. Simultaneamente ao recebimento da mensagem, o bebê Maho Shirafune diz suas primeiras palavras para seus pais: “Marte”. Achando que o destino de seu filho é o espaço, seu pai o incentiva desde sempre a ser um astronauta, mas será que a primeira palavra de Maho não tem a ver com uma segunda mensagem enviada pelos alienígenas que Fifi ainda não conseguiu traduzir?

As semelhanças, as diferenças

Através da sinopse das duas histórias já deu para ficar claro que os dois mangás possuem gêneros bem distintos. Twin Spica tem um drama carregado, e não seria estranho ouvir relatos de leitores que foram às lágrimas com os dramas de Asumi. Ela não é nenhum supergênio, e sua estatura abaixo do padrão japonês traz problemas para a escola de astronautas, afinal seria necessário gastar muito dinheiro para se produzir equipamento apenas para o tamanho de Asumi. St&RS, na contramão, é um mangá bem mais alegre que sua contraparte seinen. Maho decide se inscrever numa escola de astronautas ao lado de dois amigos da escola, e as situações são bem mais alto-astral que em Twin Spica.

Um dos pontos que ambos têm em comum, além da motivação dos protagonistas de chegarem ao espaço, está na avaliação para entrar na escola de astronautas. Nos dois mangás os personagens passam por provações difíceis em que precisam unir resistência e amizade. Uma das primeiras provas de St&RS faz com que um trio consiga juntar as peças e formar uma construção, mas com cada integrante em uma sala diferente, se comunicando por áudio para que completem a tarefa no menor tempo possível. A primeira prova de Twin Spica mostra Asumi e outras duas garotas dividindo um cubículo e necessitando construir um caminho de dominós. Ambas as provas trabalham com os mesmos desafios, que é a integração entre os proto-astronautas e a união.

E essa necessidade de união explica também por que o espaço é um tema interessante de ser abordado em um mangá, pois muitos trazem como o tema a união e a amizade (os seriados Super Sentai estão aí todos os anos trazendo valores de amizade para as crianças japoneses, por exemplo). Em Twin Spica, mesmo com o drama, uma das frases mais marcantes ditas pelos personagens é que “ninguém consegue ir ao espaço sozinho”, e essa idéia é tratada também durante as avaliações de St&RS.

Os dois mangás também trabalham muito bem com a fantasia. Twin Spica tem o fantasma Senhor Leão que sempre ajuda Asumi em muitas questões, mas o mangá é tão pautado em realidade que muitas vezes começamos a achar se o Senhor Leão não é apenas um delírio de Asumi. E a fantasia está por todo St&RS, pois Maho exibe em diversos momentos alguma habilidade improvável em um ser humano normal, tal qual uma capacidade absurda de armazenamento de informações e uma habilidade espacial (como em uma prova em que ele consegue correr e saltar usando o corpo de um robô que tem 3 segundos de atraso de movimentos) que o torna aquele personagem de shonen que nasceu com uma habilidade especial e irá usá-la.

Por falar em shonen, a primeira impressão que tive de St&RS é a que era uma mistura de Twin Spica com Naruto. A parte de Twin Spica é bem clara, pela ambientação, pelo objetivo e pelo desenvolvimento, com a diferença que os personagens dramáticos do primeiro foram substituídos por emulações de personagens de Naruto. Maho é tem uma personalidade “pra cima” semelhante ao Naruto, sua amiga Meguro é a garota do grupo que tem aquela “Sakura interior” e Wataru é o mais calado e mais capaz do trio, ocupando a vaga de Sasuke. E não seria estranho se essa impressão que eu tive fosse proposital, pois segue as características de seleção de elenco para mangás da Shonen Jump.

Os mangás logo começam a se diferenciar, pois St&RS insiste em mais avaliações para seleção para a Academia Espacial e Twin Spica prefere ir logo para as aulas e os dramas entre os alunos.

Conclusão

Os dois mangás são bem parecidos, mas não quer dizer que a leitura de um te exime de ler o outro. Twin Spica é um drama fantástico, e o traço limpo e simples te faz mergulhar fundo naquela história em que tudo parece relacionado ao acidente do foguete, e você se pega torcendo ferozmente para que Asumi ultrapasse seus desafios e consiga ir, junto de seus amigos, ao espaço como sempre sonhou. St&RS te fisga pelo mistério, pois a cada capítulo uma nova revelação sobre o mistério da segunda mensagem surge, e simultaneamente a isso você fica na mesma posição que Fifi tem ao observar as provas de Maho, e acaba também sempre se surpreendendo com as habilidades do garoto misterioso.

Tanto como shonen como quanto seinen, mangás sobre espaço são a ambientação perfeita para falar sobre o desconhecido, sobre valores de união e amizade e para trazer o sentimento de que nunca devemos desistir de nossos sonhos.

Minha recomendação, então, é que os dois mangás sejam lidos e igualmente apreciados.

Twin Spica é de autoria de Kou Yaginuma. O mangá tem 16 volumes e já foi encerrado. Vem sendo publicado pela Vertical nos EUA, e por isso é facil de ser importado. O anime de 20 episódios foi exibido pelo Animax brasileiro e traz apenas a história dos primeiros seis volumes com algumas diferenças (e uma dublagem bem feita, porém confusa por causa da tradução). A série também tem um dorama, que ficou bem ruim. Já St&RS tem desenhos de Masaru Miyokawa e roteiro de Ryosuke Takeuchi. Começou a ser publicado em 2011, então não tem volume encadernado, não tem anime e nem tem um dorama.

por Fabio G.

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.