Review – Real: conhecendo outro mundo com Takehiko Inoue

O criador de Slam Dunk nos apresenta um lado totalmente diferente do basquete.

Takehiko Inoue é um dos poucos mangakás que eu respeito totalmente e que chamo de gênio. Os trabalhos mais famosos dele são: Slam Dunk – a melhor obra do meu gênero favorito e que você pode ler a review AQUI – e Vagabond – obra baseada na famosa história do samurai Musashi e um dos melhores mangás de luta com espadas que eu já li. Inoue ainda esteve envolvido na criação de outra obra de basquete chamada Buzzer Beater, mas essa mesmo com 2 animes para TV, não foi tão destacada assim. Já Real foi um dos mangás mais cobrados no Eu Recomendo sobre Seinen que eu escrevi. Na época eu decidi não colocar dois mangás do mesmo autor e dar uma oportunidade para o ótimo Giant Killing.

Resolvi fazer essa review após ler todos os capítulos disponíveis. Infelizmente acabei atrasando por causa do natal e só está saindo hoje, já que o Brasil só funciona depois do carnaval. Afinal de contas o que tem de tão especial em Real? Tirando o que eu estava devendo por ter deixado esse mangá maravilhoso de lado, eu gostaria de fazer um post mais detalhado, mas preferi deixar totalmente livre de spoilers. Não sei se vai agradar a todos, mesmo assim não quero estragar a experiência de ninguém.

A História

Nomiya Tomomi está tendo grandes problemas na sua vida e todos concordam que tudo começou a dar errado quando ele saiu do time de basquete após uma briga com os integrantes do clube. Sua personalidade instável não o ajuda a seguir adiante, mal consegue ficar no colégio, trabalho nem pensar, e em uma de suas caminhadas a noite encontra uma garota e comete o pior erro de sua vida. Um acidente de moto fez com que ele deixasse Natsumi, uma garota que ele nem conhecia, paralitica para a vida inteira e esse culpa o consome todo dia e chega ao ponto dele ser expulso da escola.

Takahashi Hisanobu é um cara popular, atual capitão do time de basquete e um dos principais responsáveis pela saída de Nomiya. Tem uma personalidade bem desagradável, totalmente convencido, mal joga pelo seu time e ainda aplica castigos quando alguém o atrapalha.

E finalmente temos Togawa Kiyoharu, um jovem que acabou adquirindo uma grave doença, tendo que retirar uma de suas pernas para evitar que ela se espalhasse pelo corpo. Atualmente é um ótimo jogador de basquete em cadeira de rodas, mas que possui um grande orgulho e isso o atrapalha na hora de voltar para o seu antigo time, o Tigers.

Real conta a história de superação desses três jovens, que no começo não parecem ter nada em comum, mas no fim vão ter o esporte como uma ajuda para sua reabilitação.

Considerações Técnicas

Real é muito mais que um mangá sobre basquete. A história que o mestre Takehiko Inoue criou tem apenas o esporte como plano de fundo para o drama dos seus personagens principais e é nisso que o mangá se destaca de todos os outros. Confesso que ha alguns anos atrás, fui dar uma conferida no mangá apenas com o pensamento de ser mais um Slam Dunk da vida. E posso dizer que aquilo foi um tapa na cara.

Começando como o autor mostra a visão dos três personagens principais com os seus problemas, totalmente diferentes um dos outros e que tem em comum o fato de serem marginalizados pela sociedade. Primeiro conhecemos Nomiya Tomomi, que é o meu preferido entre eles. O cara o tempo todo só faz merda na vida e não consegue de maneira alguma voltar a ser feliz como era jogando basquete. Togawa Kiyoharu no começo parecia ser uma espécie de Sakuragi cadeirante, mas começamos pouco a pouco conhecer a sua história e realmente conseguimos nos simpatizar com tudo o que ele passou e entender um pouco a sua personalidade no inicio. Por fim temos o odiável Takahashi Hisanobu. Sério, não consigo gostar desse personagem de maneira nenhuma. Tenho vontade de pular cada parte sobre ele, mesmo sabendo que é uma das mais importantes.

Mas afinal de contas, como ligamos a história desses três personagens? É ai que entra o basquete como meio para cada um deles superarem as dificuldades que a vida lhes proporcionou. Muito bonito ver com o passar dos capítulos como a paixão por um esporte pode ajudar no crescimento dos três. Uma das grandes qualidades do mangá é a maneira que o autor nos mostra as dificuldades que cada um passou ou passa. Você realmente pode acreditar que aquilo aconteceu com ele mesmo ou alguma pessoa conhecida, tornando aquilo muito REAL (Olha só.).

Uma das histórias mais bonitas vem de um personagem que nem é um protagonista. Yamauichi conversa com Togawa sobre sua doença. Ele tem uma enfermidade rara, onde aos poucos ele vai perdendo o controle dos seus movimentos. Primeiro ele começava a cair mais frequentemente, depois não podia mais andar, e no futuro ele só poderá mover os dedos e os músculos do rosto, chegando ao ponto que irá falecer ao fazer 20 anos. Togawa fica maluco sem entender como Yamauichi consegue ficar tão tranquilo mesmo sabendo que iria morrer daqui a alguns anos e ali ele diz uma coisa para o garoto que o marcou. E para descobrir, óbvio que você terá que ler o mangá.

Todo o capricho visual também ajuda a criar bem o tom de realidade que ele se propõe e por isso ele é o meu desenhista favorito de longe. Podemos perceber bem quando um personagem começa a ficar bem debilitado (não é só por causa de uma covinha colocada no rosto). Isso sem falar na riqueza dos traços nas expressões faciais, sejam de alegria (onde temos algo mais caricato lembrando Slam Dunk) ou até mesmo como tristeza profunda e dor. É um show visual que com certeza vai te encantar do primeiro até o capítulo mais recente da história.

Comentários Gerais

“Ahhhh Real é só mais uma história sobre basquete, querendo apenas ir no hype de Slam Dunk. Que autor sem personalidade.” Já vou avisando uma coisa: se falar isso na minha frente toma uma tapa na cara para aprender a não ser moleque. Real é sobre como as pessoas podem superar grandes problemas e utiliza o esporte como um guia. Os personagens e suas histórias parecem ter sido tirados de algum documentário de tão humanos. Conseguimos torcer pelo sucesso de alguns – menos você Takahashi – de tão “real” que é a história. Real é voltado para uma temática que pode ser resumida no drama tanto quanto para o desenvolvimento dos seus personagens (amadurecimento, escolha de decisões), e não sobre basquete em si (temos até bem poucas partidas se pararmos para analisar).

Eu recomendo que todos leiam, é quase uma obrigação. Não se preocupe com o ritmo. Eu estou completamente enjoado de ler mangás novos, mas mesmo assim consegui ler 10 volumes em apenas dois dias sem demonstrar nenhum cansaço e sem pular nenhum página. Takehiko Inoue estava extremamente inspirado quando criou a história, e para nossa felicidade a série deve voltar logo a atividade – já que o autor estava doente mas já confirmou que vai voltar com Vagabond, sua prioridade no momento. Uma pena, porém, que dificilmente esse mangá chegue ao nosso país depois de ter Slam Dunk completo publicado no sufoco pela Conrad e Vagabond cancelado.

por Luk

Luk

Eu juro que gosto de animes, apesar de todo o meu haterismo.