Review – O limite entre idealismo e fanatismo de Melodia Infernal

Até onde você iria para alcançar seus objetivos?

Melodia Infernal foi lançado no Brasil em 2009, pela editora Conrad, sem muito (ou nenhum) alarde. É uma série de dois volumes, escrita pelo chinês Lu Ming três anos antes. Eu nunca havia nem procurado saber sobre a história, principalmente devido a grande quantidade de lançamentos que Panini e JBC vêm trazendo, mas acabei achando o primeiro volume num sebo no começo do ano. Ao ler a contra-capa e ver que se tratava de uma história com fundo musical, principalmente de heavy metal, um gênero que aprecio bastante, acabei me empolgando e comprei.

Devo desde já deixar claro que os apreciadores desse gênero, com toda certeza, apreciarão bem mais o manhua (isso mesmo, diferente do japonês “mangá” e do coreano “manhwa”) do que aqueles que não gostam, pois os personagens defendem o estilo de todos os modos possíveis, o que pode agradar ou desagradar, dependendo do ponto de vista de cada um.

A História

O manhua se inicia com um garotinho tocando rock em sua guitarra na rua, a fim de ganhar dinheiro com a música, enquanto as pessoas passam ao seu lado desprezando a sonoridade do que ele toca. Até que aparece um homem, vestido todo preto, com longos cabelos, que pede a guitarra ao garoto e começa a tocar “Eruption” da banda Van Halen, e assim atraindo a atenção de todos que circulavam a sua volta.  Desse modo todos começam a admirar o som e querer aprender a tocar como ele, que diz ser alguém que só gosta de música.

Daí então, a história se volta para um lugar chamado Pradaria do Paraíso, lugar entre o mundo dos vivos e o paraíso, onde ficam as almas daqueles que cometeram suicídio, exiladas por muito tempo. Lá existe uma banda de heavy metal, chamada “Third Man”, que quer encontrar um novo guitarrista solo, após o anterior se retirar, por estar “cansado do gênero musical”.

Os três integrantes, que se chamam Liu Hei (baterista), Zhang Xiao (guitarrista secundário) e Li Yanan (baixista), partem então atrás da feiticeira Maya, que também habita a pradaria, para pedir a ela que encontre quem possa ser o guitarrista da banda. Ela mostra que quem tem a capacidade de ser quem eles procuram é Xiang Zheng, o homem que havia tocado a guitarra do garotinho no início. O único problema é que ele ainda está vivo! Mas, isso não é o suficiente para impedir que o “Third Man” vá atrás dele, e para isso não medirão esforços.

Considerações Técnicas

A leitura do manhua foi mantida no sentido ocidental, que também é a utilizada na China, e sua narrativa se desenvolve de maneira rápida, que prendeu a mim com muita facilidade. Sobre os traços, acredito que as opiniões sobre os traços de Melodia Infernal sempre terão opiniões divergentes. Apesar de eu considerar o traço, de certo modo, sujo, em alguns momentos, não posso deixar de dizer que gostei do desenho, principalmente dos cenários e das guitarras, além do modo como o autor desenha as expressões de fúria de seus personagens. Porém, é justamente esse último ponto em que muitos poderão não gostar, pois o traço se torna mais escuro, mais borrado e sujo que no restante do decorrer.

A quantidade de menções ao heavy metal e os mais diferentes tipos de guitarras desenhadas, evidenciam o quanto o autor gosta do gênero, chegando a mencionar nomes de astros e bandas, além de músicas, de rock e de jazz também. É possível ver nas entrelinhas a própria visão do autor sobre o heavy metal, na fala das personagens, o quanto gosta e defende o gênero, o que torna um atrativo a mais para quem o aprecia.

Para a edição do manhua, a editora Conrad convidou o quadrinhista e guitarrista Marcatti para comentar sobre as guitarras utilizadas na obra, o que concede um charme a mais para que se possa entender as diferenças de uma para a outra.

Comentários Gerais

Melodia Infernal é uma obra que vai ser bem apreciada por aqueles que, assim como eu, gostam de rock, especialmente de heavy metal. Digo isso porque o autor acaba sendo extremista em sua apreciação musical pelo gênero, assim como muitos outros fãs o fazem, inferiorizando o jazz, por exemplo, e justamente por isso pode desagradar aqueles que curtem outro tipo de música.

Pessoalmente, gostei muito do modo com o autor muda o traço, de acordo com a agressividade de cada personagem, pois me deu a impressão de, ao mesmo tempo, torná-los mais humanos, por causa de suas fraquezas e frustrações, algo que todo ser humano sente, e também tornar os personagens mais sombrios, demoníacos, dando realmente a impressão de que fariam qualquer coisa para alcançar seu objetivo.

Também tenho que admitir que a história me surpreendeu positivamente. Apesar de eu gostar da sinopse, foi porque eu achei que seria louca (sou um apreciador de histórias beeem doidas xD), mas acabou prendendo muito minha atenção, até mesmo pelo fato de o desenvolvimento ser rápido.

A história tem lá sua criatividade, achei a ideia original bem interessante, porém, na minha opinião, o autor acaba se perdendo no meio da história, fazendo com que fique um tanto forçado. Se for lido despretensiosamente, para matar o tempo, pode ser um bom passatempo, mas é bom não esperar muito mais do que isso.

 por César

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