Review – Chihayafuru e seus problemas fora das telas

Quando a falta de incentivo vinda dos japoneses – em diversos sentidos – pode interferir em um anime.

Apesar de já ter dito milhares de vezes aqui no Chuva de Nanquim, vou repetir que esportes é o meu gênero favorito de animes e sempre tento dar uma conferida nos novos que saem a cada temporada. Meu nível de aceitação varia dependendo do meu conhecimento sobre o esporte. Vamos pegar por exemplo Kuroko no Basket que para muitos é um ótimo anime, mas essa coisa de poderes exagerados acabam me incomodando muito e me tirando da partida. Já Hikaru no Go vai para outro estilo. Eu sei que há coisas ali muito exageradas, mas não me importo com nada, já que não faço a mínima ideia de como Go é jogado.

Já na última temporada tivemos dois animes de esporte desses dois estilos, Area no Kishi e Chihayafuru. Area no Kishi é um anime bem simples, onde não vi nada demais na história apesar do que acontece ali no começo ser bem legal. Mesmo assim não foi voltado para o lado “real” do futebol e isso me incomodou bastante. Já Chihayafuru veio com outro estilo de narrativa e com Karuta, algo que eu mal conhecia e só tinha ouvido falar. Mas já que o anime estava sendo alvo de grandes elogios de todos (exagerados ou não é outra historia), estou vindo aqui para dar uma comentada sobre minha decepção em relação ao anime, e não é por causa da qualidade da história, que fique claro.

A história

Chihaya Ayase é uma garota que sempre fala a primeira coisa que vem a cabeça e que possui uma grande admiração pela irmã, tanto que o seu sonho seria vê-la se tornar uma top model do Japão. Um dia somos apresentados ao mais novo aluno transferido da sua classe, Arata Wataya, que acabou sendo alvo de gozação por uma besteira que ela disse e ao perceber isso tenta virar amiga do garoto. É com essa amizade que Chihaya tem o primeiro contato com Karuta, que para ela era apenas um jogo no começo e que no fim vai se tornar o seu grande objetivo e interesse com o passar dos anos. Taichi Mashima que era um dos responsáveis pelas zoações com Arata, acaba também se interessando mais pelo jogo, por teimosia e para mostrar que era muito melhor que Arata.

Os anos se passam e com isso os três acabam se separando, mas a paixão por Karuta ainda permanece em Chihaya. Então, logo após entrar no colegial ela resolve fundar um clube para jogar campeonatos e cumprir uma promessa feita anos atrás, mas o grande problema que o esporte não é popular e sua personalidade um tanto engraçada acaba causando estranheza. Só que uma surpresa vai acabar mudando o possível fechamento do clube e animando ainda mais a garota.

Considerações Técnicas

A primeira coisa que percebemos no primeiro episódio foi que mesmo com o baixo orçamento a belíssima animação conseguiu ser destaque, desde os personagens bem trabalhados, indo até os cenários que são lindos e detalhados. Claro aos poucos vai diminuindo a qualidade (não que isso seja ruim, é até normal isso acontecer devido a verba destinada para a produção) mas você acaba não ligando para isso e nem ao menos prejudica o andamento do anime. Também a trilha sonora é perfeita para a série. Gosto muito da música de abertura – e olha que normalmente eu sou bem chato com esse tipo de coisa.

O grande destaque do anime vem dos seus personagens no qual a sua grande maioria são bem carismáticos, com destaque para o “triângulo amoroso” formado por Chihaya, Taichi e Arata. Somos apresentados ao trio principal com um flashback muito bem encaixado, onde nos é mostrado como a amizade dos três começa a ficar muito forte através de um esporte e como o Karuta é importante também para a Chihaya, que era uma garota sem sonhos próprios. Muito bom também é ver como a história consegue nos fazer mudar de opinião sobre quem ficaria com a protagonista. No começo torcemos pelo Arata por ser bem mais gentil que o Taichi, que era um garoto bem ciumento e as vezes maldoso. No final do anime já tinha muito mais gente torcendo pelo Taichi, já que acompanhamos muito mais o dia a dia entre os dois, enquanto o Arata está mais isolado e um pouco diferente de antes. Porém vale dizer que apesar do romance na série, ele é apenas um “aperitivo” para o enredo que continua tendo o Karuta como o grande foco principal.

Os personagens secundários vão entrando aos poucos na história, alguns com pouco destaque e outros importantes para o crescimento da Chihaya, que ensinam muito para ela, mesmo sendo menos experientes no esporte. Desses os que mais gostei foram dois: a primeira é a Rainha Shinobu – que aparece pela primeira vez em uma partida contra a protagonista e a maneira dela jogar é totalmente diferente da “estabanada” da Chihaya. Depois conhecemos todo o passado da garota, mostrando todas as motivações para amar o Karuta. O outro personagem que eu gosto é o Komano, que só pensava em estudar, não tinha amigos e que foi crescendo com o passar dos episódios e ficando cada vez mais confiante.

Só que nem tudo são flores. Como eu sou um cara chato preciso reclamar de algumas coisas e começo com o passo lento que a história acabou se desenvolvendo. Não que eu tenha achado ruim, mas foi uma temporada de 25 episódios que você não sentiu que aconteceu algo realmente importante e na maior parte do tempo só vemos o treinamento dos personagens. Claro que isso é importante para desenvolver bem a personalidade de cada um, não deixando eles serem apenas personagens rasos, só que acabava sendo frustrante quando íamos finalmente para um campeonato e vemos ele acabar rapidamente em uma das primeiras rodadas. Claro que na vida real é muito complicado você já sair chegando em finais de campeonatos, mas ficava aquele gostinho amargo na boca, ainda mais quando víamos a Chihaya admirar todo o tempo os seus possíveis adversários.

Só que esse problema que eu senti poderia ser facilmente consertado com mais uma temporada, que poderia finalmente mostrar algum avanço no grupo. Mas esse é justamente o grande vilão para Chihayafuru. Infelizmente o anime não fez sucesso no Japão, retornou pouco ibope, vendeu poucos DVD’s/Blu-ray’s e contou com um baixo investimento e número de patrocinadores, dando pouca esperança que uma segunda temporada venha acontecer. Mesmo o mangá sendo um enorme sucesso no Japão, premiado com prêmios importantes para a indústria do quadrinho nipônico, o anime não teve muita sorte. Com isso temos o problema do anime ficar com um final totalmente aberto, sem nenhuma conclusão quanto ao sonho da Chihaya e um possível relacionamento entre ela e Taichi ou Arata. Para piorar, o Karuta é um esporte muito desconhecido no Brasil e dificilmente será um mangá que veremos chegar aqui no Brasil, fazendo com que fiquemos aquém de internet, que também não é lá a forma mais fácil de se encontrar algo de Chihayafuru.

Comentários Gerais

Chihayafuru foi um dos meus animes preferidos de 2011, com um grande destaque para os seus personagens bem trabalhados e carismáticos, uma animação linda, um novo tipo de esporte para conhecer e uma história gostosa de acompanhar, apenas pecando pela lentidão para acontecer alguma coisa importante. Nessa série você terá a chance de se emocionar com os personagens, rir das bobagens da Chihaya, torcer para a equipe de Karuta e provavelmente se identificar com algum dos membros da equipe – ou mesmo secundários do decorrer da obra.

Infelizmente não posso recomendar totalmente o anime por vários problemas fora da tela que tornaram uma segunda temporada bem improvável e que acabaram deixando a história sem conclusão nenhuma. Se você já assistiu animes como Skip Beat, no qual o final foi totalmente em aberto e até hoje “prometem” uma segunda temporada, saiba que enfrentará os mesmos problemas com Chihayafuru. Será angustiante esperar por algo que dificilmente virá à tona.

É extremamente recomendável que você procure a leitura do mangá que é publicado desde 2006 e que atualmente se encontra no volume 16 no Japão. Será difícil encontrar material do mesmo na internet e o título ainda não é publicado nos Estados Unidos (embora não acredito que isso vá demorar para acontecer). Vale dizer que embora pareça um título shoujo, o mangá é um josei publicado na revista Be Love, por isso existe uma grande preocupação no desenvolvimento dos personagens, o que pode acabar frustrando um pouco quem espera somente por “batalhas épicas” no sentido do jogo.

Mesmo assim Chihayafuru é uma ótima obra, com um anime lindo, mas que infelizmente contou com o azar de uma produção infeliz monetariamente, se juntando a vários que tiveram o mesmo problema. Uma pena por um lado, mas um prazer por ter conhecido essa bela série. Fica a recomendação do título, mas pense duas vezes antes de assisti-lo: você pode nunca ver o final dessa disputa de Karuta ou pelo coração da nossa inocente Chihaya.

Por Luk

Luk

Eu juro que gosto de animes, apesar de todo o meu haterismo.