Review – Uma experiência diferente com Sakamichi no Apollon (2012)

sakamichi-reviewUma série marcante de uma forma diferente para cada um.

Confesso que eu tenho uma certa “vergonha” quando meus pais e minha namorada comentam para os outros que eu tenho um blog de anime, porque eu sei que muitos deles vão pensar que é coisa de criança ou que eu vejo aqueles animes mais estranhos e bizarros. Eu sou uma pessoa normal, que sente uma paixão por certas histórias que só os japoneses sabem contar, seja sobre esportes, lutas ou apenas dia a dia. E claro, isso é  um mérito dos japoneses, que criaram uma escola de animação que hoje em dia é base para diversas outras industrias de animação do mundo, como a própria americana ou a francesa. Só que temporadas como a de Julho de 2012 me fazem esquecer sobre o porquê de eu gostar disso. São vários animes sobre a vida escolar com menininhas bonitinhas e que parecem ter 12 anos – claro que eles tem o seu público alvo, mas não é o meu caso.

Muitos gostam desse tipo de anime e não há mal nenhum nisso.  No meu caso, até gosto de K-on, mas por exemplo, teria muita “vergonha” de assistir isso na frente do meu pai – me lembrando até essa tirinha. Lembrando que isso é um caso meu, e não necessariamente todos guardam o mesmo pensamento. Porém no dia que você assiste uma animação que entra profundamente do seu coração e que solta aquele sorriso bobo do seu rosto, tudo muda. E eu estou falando de Sakamichi no Apollon – um dos melhores (quiçá o melhor) anime de 2012.

A história

A história se passa na década de 60 e gira em torno de Nishimi Kaoru, mais um daqueles garotos japoneses acostumados a se mudar constantemente por causa do trabalho de seu pai, que é divorciado de sua mãe. O garoto acaba se mudando para a casa de alguns parentes, mas não parece muito empolgado com o ambiente em que vive. Ele, que sempre foi visto como um garoto inteligente, estava acostumado a ser sempre o foco das brincadeiras durante suas curtas estadias nos colégios, mas tudo mudou até ele conhecer duas pessoas diferentes em sua nova escola: Mukae Ritsuko, a presidente da classe e Kawabuchi Sentaro, um garoto que sempre foi o legítimo badboy, matando aulas e se metendo em diversas brigas. Mas não são as personalidades que fazem os 3 se aproximarem, e sim um gosto em comum: a música. Kaoru aprende como pode ser divertido tocar jazz e encontra a primeira pessoa que pode chamar realmente de amigo e também encontrar a primeira garota na qual pode se apaixonar. E assim começa uma bela história de amor e amizade.

Considerações Técnicas

Fiquei animado quando li a noticia que o diretor de Cowboy Bebop estava fazendo um anime sobre Jazz, é um estilo de música muito gostoso e estava sentindo falta de uma historia nesse estilo desde Nodame Contabile. Shinichiro Watanabe já havia sido o diretor de outras séries fantásticas como Samurai Champloo e Macross Plus, além de outros trabalhos que atestaram a qualidade do diretor – que ao lado de Yoko Kanno, responsável pela trilha de CowBe, estaria de volta para comandar Kids on the Slope, mais conhecido como Sakamichi no Apollon. E logo de cara comprovamos a eficiência da dupla no primeiro episódio. Já me impressiona a animação do estúdio Tezuka Productions e Mappa, com um tom retrô acompanhando a época da história e com personagens que fogem do design que virou moda atualmente. Por sinal, o character design de Apollon é de Nobuteru Yuki, que assinou o visual de Chrono Cross, famoso jogo de Playstation 1, além de ter trabalhado em animes como Paradise Kiss e Record of Loddoss War. Eles realmente parecem colegiais e não crianças. A história também me empolgou, apesar que o protagonista não era tão bom e parecia que Sentaro iria dominar todas as atenções. Parecia.

Corri para comentar sobre o anime e percebi que haviam algumas pessoas que se incomodaram com apenas uma cena do primeiro episódio, que podia indicar que o personagem era homossexual e pararam de ver o anime ali. Isso até gerou um excelente post no nosso parceiro Gyabbo! , e eu concordo com tudo oque ele disse ali. Até ouvi alguns comentários depois de alguns episódios que só quem pagava de Cult que dizia que Sakamichi era bom. Claro que isso é bobagem, e quem continuou até o final pôde provar disso.

A animação é maravilhosa como eu já comentei ali em cima, talvez só se igualando ou perdendo para a de Tsuritama nesse ano; o design dos personagens são cativantes e faz você acreditar que são pessoas de verdade, fazendo nos aproximarmos de uma forma “real” da história. Mas se realmente quisermos elogiar, é bem fácil tocar no principal ponto da animação de Apollon: as músicas. A trilha sonora e a animação entraram em uma harmonia perfeita, gerando movimentos fluídos e cenas que lhe trazem a sensação de estar vendo uma session de Jazz ao vivo. Inclusive, logo após de Apollon percebemos o quanto a animação de outras séries como Beck ficaram datadas – mesmo não perdendo todo o carisma do anime, que continua sendo um dos meus favoritos.

Mas vamos falar um pouco mais da trilha sonora. Não sou nenhum grande entendido de música como o Noots, do Subete Animes, que gerou três posts fantásticos sobre Jazz e cultura durante a exibição do anime e que vocês devem conferir clicando AQUI, AQUI e AQUI. Mesmo assim, seria um pecado deixar de citar o trabalho fantástico de Yoko Kanno nesse anime, provando que ela ainda é a especialista. Em especial podemos comentar sobre a trilha “Sakamichi no Apollon Original Soundtrack”, onde encontramos todas as músicas tocadas no anime em suas versões estendidas e que com certeza fará parte daquela sua coletânea indispensável de músicas na noite.

Os destaques são muitos: logo de cara somos encantados por Moanin’, música de Art Blakey and the Jazz Messengers de 1958. Essa música foi muito importante para apreender o telespectador para a série logo em seu início. A interpretação foi simplesmente fantástica e já serviu para nos mostrar que Apollon era um diferencial no meio das animações dos últimos anos. O terceiro episódio contou com a música Someday My Price Will Come de Bill Evans que havia sido composta para o filme A Branca de Neve e os Sete Anões de 1937 – o engraçado é que posteriormente Bill Evans acabou se tornando o apelido de Kaoru, vista a semelhança entre ambos. No episódio 7, tivemos referências aos Beatles e aos japoneses The Spiders quando comentado sobre as “boybands” e o aclamado Festival Escolar. Porém, sem falar de todas as sessions sensacionais que tivemos na série, a música que retrata melhor essa postagem é My Favorite Things, canção do filme A Noviça Rebelde que pode ser considerada extremamente marcante, acolhedora e emocionante.

E a música é responsável pelas duas cenas mais marcantes pra mim. A primeira é a bela apresentação dos dois garotos no festival do colégio, eles estavam brigados por causa do medo do Kaoru de perder o único amigo e ele não conseguia voltar a conversar com o Sentaro mesmo sabendo que estava errado. A única maneira que eles conseguem se desculpar um com o outro é atravez do jazz, tanto que não há um pedido de desculpas falado ali e a cena é perfeita em sua direção e execução. A segunda cena que mais me marcou foi a conversa entre os três garotos sobre quais são as suas coisas favoritas – exatamente a última música comentada no parágrafo anterior – e Kaoru acaba não comentando para os amigos as dele, mas em seus pensamentos ele diz que aquele momento com os dois era sua coisa favorita. Me fez lembrar o quanto eu guardo certas coisas dentro de mim e que algum dia eu vou me arrepender por não ter dito.

Mas voltando a comentar um pouco s0bre a série: o trio de personagens principal tem força o bastante para você simpatizar com alguém, quem quer que seja. Ou até mesmo os personagens de “apoio” como Yurika e Jun. A Ritsuko talvez seja a mais ‘fraquinha’, já que tem bem menos tempo de tela e às vezes realmente me irritava com a sua indecisão – porém vale dizer que ela foi extremamente importante no amadurecimento de Kaoru. Sentaro parecia ser apenas mais um personagem fortão, mas você já percebe logo de cara que ele tem algo mais profundo em sua vida e vai acompanhando pouco a pouco o garoto se abrindo para o amigo. No final do anime nós conseguimos perceber onde ele está forçando um sorriso e apenas pelos trejeitos sabemos o que ele realmente está sentindo. Imaginem aquele seu amigo que você chega no colégio e já sabe dizer como ele se sente. É assim que você vai conseguir se apegar ao “grandalhão”.

Só que o meu personagem favorito (apesar de ser um babaca no final) é o Kaoru. No começo ele parecia ser um cara arrogante, não gostava de se misturar com as pessoas e sentia até mesmo um certo enjoo com pequenos estresses. Aos poucos percebemos que ele é assim por certos motivos, como não conseguir se relacionar direito com as pessoas pelo fato dele sempre mudar de colégio e acabava perdendo qualquer laço de amizade com um amigo, mesmo esse prometendo que enviaria cartas. Tanto que ele acaba usando a música como uma certa desculpa para poder se aproximar do Sentaro, mesmo ele dizendo que era apenas para mostrar que com prática ele poderia entender jazz. Fora algumas coisinhas pequenas que mostram a personalidade do garoto, como por exemplo ele sempre tirar os óculos na frente da Ritsuko porque ela elogiou seus olhos.

O grande fato é que os 3 personagens se completaram do início ao fim. A cena final e sua relação com o começo da série – inclusive na imagem do banco coberto por um lençol branco – mostra o quanto a amizade dos 3 ultrapassou as barreiras e se transformou em algo muito mais lindo e profundo do que poderíamos imaginar ao começarmos a acompanhar a série. Foi um amor puro e que conseguiu tocar muitos com uma sensibilidade acima da média na direção de Watanabe e em um trabalho simplesmente fantástico exibido no noitaminA. Digno de se tornar uma série marcante e memorável durante muitos anos.

Comentários Gerais

Muitos podem achar o anime chato como eu vi um pessoal na internet comentando. Claro, é questão de gosto, mas eu tive uma ótima experiência com Sakamichi no Apollon. Ele me lembrou dos vários motivos que eu sou apaixonado por animes e que eu não devo ter vergonha de comentar para os outros que tenho um blog de animes. Ele não tem personagens rasos como outras séries, a animação é linda e a história vai crescendo positivamente aos poucos. Eu recomendo que vocês assistam, mesmo os que deixaram de lado logo após o primeiro episódio. Não importa se no final tivemos um final “gay” como sugeriu o Panino Manino no Subete, ou até mesmo um final “machista” como dito pela Valéria do Shoujo Café. No fim, Sakamichi soube marcar e se impôr na indústria. Mostrou que os japoneses ainda sabem manter um ritmo e uma narrativa que emociona, que encanta, e que virou escola e não foi a toa.

Vale citar também que Apollon foi baseado em um mangá de Yuki Kodama, e como toda adaptação houveram críticas por algumas “lacunas” deixadas para trás, principalmente na parte do timeskip (que obviamente não será comentada mais afundo para evitar spoilers para os leitores). Mesmo assim, analisando o anime como uma mídia “única”, em que você deve assimilar as informações contidas naquele tipo de veículos, podemos dizer que Apollon fechou satisfatoriamente bem, com um ritmo um pouco mais rápido no final devido aos seus apenas 12 episódios, mas que mesmo assim não comprometeram o resultado final da série.

Sim, eu comecei a ver Sakamichi basicamente porque era do diretor de Cowboy Bebop e que tinha a promessa de ser um ótimo anime sobre música – algo que está faltando hoje em dia. No final do anime eu fiquei deprimido, não porque o final foi triste e sim porque eu queria acompanhar mais um pouco da vida daqueles personagens e ver sua amizade crescendo ainda mais. Infelizmente acabou e um buraco no meio peito ficou aberto por não ter mais nada depois…

por Luk e Dih

Luk

Eu juro que gosto de animes, apesar de todo o meu haterismo.