Especial – Um ano do final do mangá de Naruto

naruto finalSinto sua falta.

O ano era 2005. Eu havia acabado de me mudar de escola. Nunca tive muita dificuldade de fazer amigos e pra ajudar um dos meus do antigo colégio havia se transferido junto comigo. Mas ainda era estranho. Passar 10 anos no mesmo colégio e ir pra um ambiente novo foi um pouco repentino e eu tive que aprender a entrar naquele grupo. Pois bem. Faz parte, não é?

UmAnoSemNaruto (2)Conheci bons amigos na época e o mais legal: que tinham muitos interesses em comum. Havia acabado de sair de um lugar onde eu trocava mangás pra ler na sala de aula, falava dos últimos episódios de Dragon Ball, InuYasha, Samurai X. Seria estranho se isso não acontecesse em outro lugar.

Eu não tinha internet em casa. Eram períodos de trevas, se vocês um pouco mais novos estão se perguntando. Lia pouco (tínhamos bem menos opções em bancas e Negima era o mais diferente que saia aqui) e conhecia menos ainda. Até que um dia um desses meus amigos falou “Cara, comprei o novo filme de Cavaleiros do Zodíaco legendado! Quer emprestado?”

O filme (Prólogo do Céu) era uma bosta bem bosta, mas dane-se. Fazia muito tempo que eu não comprava nada (saudades, VHS de Escaflowne) e eu queria ver algo diferente.

“Eu também comprei esse aqui. Assiste lá.”

O nome era Naruto. Já tinha lido sobre ele em algumas revistas de anime famosas naqueles anos 90/00, mas eu nem sabia que aquilo já tinha disponível nos sensacionais DVDs de 7 reais da Liberdade. Peguei dois DVDs, com 3 episódios cada. Na mesma tarde resolvi assistir depois do trágico Prólogo do Céu. “Não pode ser pior”.

UmAnoSemNaruto (3)E não foi. Foram 6 episódios que eu assisti durante os 3 dias que os discos de meu amigo estavam comigo, em looping. Já tava cansado de não ver o final da luta com o Zabuza, mas tá valendo. Me apaixonei, me encantei, me diverti. Eu havia acabado de fazer um amigo naquele dia, e era um tal de Kishimoto. Era o autor daquela história, que eu logo tratei de correr atrás do mangá em inglês no finado One Manga nos intervalos do meu curso de inglês, no laboratório de informática. Apresentei pra um outro amigo e logo a gente tava comprando todos os DVDs a medida que iam saindo mais episódios. Lembro de um dia ter visto 26 episódios em sequência, praticamente sem dormir.

Aquele amigo, o Kishimoto, me acompanhou por todo o ano. E no seguinte, quando voltei para meu antigo colégio também. E lá também conheci mais pessoas que o conheciam e sua história. Fiz mais amigos. Naruto foi crescendo comigo e isso é muito engraçado. Lembro quando a Panini anunciou a publicação do mangá no Brasil e lembro mais ainda quando ele apareceu nas bancas. Saí da escola e passei na banca apaixonado pelo primeiro volume que tinha em mãos (acreditam que houve um tempo que mangás custavam R$9,90?? Juro!). Devo ter batido em umas 5 pessoas no caminho, já que abri o plástico na rua mesmo e fui lendo na calçada mesmo, até chegar em casa. Nem almocei enquanto não terminasse aquele mangá, que já devo ter lido umas 50 vezes (umas 40 só na semana que o comprei). E assim seguiu até esse ano, comprando cada volume novo assim que saísse nas bancas.

UmAnoSemNaruto (2)Anos depois, na faculdade, também foi assim. Pessoas que eu jamais pensei assistiam e eu acabei me aproximando delas por causa disso. Chegamos a ler capítulos de Naruto no retroprojetor de um dos laboratórios. E eu não me importava com algumas piadinhas, o que fez com que elas praticamente não existissem. Estudar em um campus de “artes” ajudava, claro. Aliás, o mais engraçado é saber que anos depois, com o fim da faculdade, outras pessoas hoje assistem anime.

Mas enfim. O Naruto. Passamos momentos divertidos, apreensivos, chatos, de risadas e de muita tristeza. Até hoje lembro de cenas do anime e de quadro do mangás de muito tempo atrás. A luta de Naruto e Sasuke antes de Shippuuden continua muito recente na minha cabeça, bem como o arco dos 5 selados, da luta de Gaara e Lee… Nossa, quanta coisa. Suei pelos olhos com o Jiraya, senti pena e aprendi a admirar o Itachi, achar o Naruto um protagonista muito bom e também ficar com raiva do tal Kishimoto quando enrolava demais no arco da guerra ninja. E como enrolou, putz!

UmAnoSemNaruto (5)Em 2014, uma notícia forte. Naruto ia acabar. Eu não sabia se estava pronto pra isso, embora eu quisesse que tudo chegasse a um fim e eu não ficasse com raiva do Kishi. Foram 3 semanas agonizantes, acordando cedo todas as quintas pra ler os capítulos recém lançados. No último eu desabei. Acabou. Nem um capítulo colorido serviu pra consolar o fim daquela amizade. Foram 10 anos, lado a lado, crescendo e aprendendo juntos. Meu amigo não estaria ali na semana seguinte.

Mas a coisa não acabava por aí. No final do ano comecei a trabalhar no emprego dos meus sonhos. Em uma editora de mangá. E pra minha felicidade, Naruto ainda faltava dois volumes para seu final oficial no Brasil. Tive o prazer de fazer as letras de um desses volumes. Foi um gostinho mais que especial! E foi aí que eu percebi: a amizade não tinha que acabar. Eu ainda teria muitas lembranças pela frente, muitas conversas, discussões e teorias sobre aquela história.

UmAnoSemNaruto (1)Naruto me acompanhou em diversas fases da minha vida ao longo desses 10 anos. Me possibilitou conhecer muitas outras séries também. Mangás, animes, sites, pessoas, lugares, sentimentos. Uma sensação bem parecida com o que eu tenho com Harry Potter, mas com um diferencial: eu sentia aquela companhia todas as semanas, e ele sempre esteve lá.

Hoje, completamos 1 ano sem a série original. E não me venha falar de spinoff, Gaiden e não sei o que. A história acabou de verdade a 1 ano atrás e até hoje me dá saudades e me faz acordar pensando “será que já saiu capítulo novo?”. Infelizmente vejo muitos que curtiram o mangá ou o anime um dia simplesmente ignorando-o (ok, tá no seu direito) ou zombando pra parecer “legal” perto de quem detesta a série por algum motivo que não é do meu bico saber. Sinto pena. Mas cada um é cada um. Eu acho muito doido olhar pra isso e ser como se minha adolescência estivesse alí, vivinha. Não nego que gosto e se alguém não gostou, paciência.

UmAnoSemNaruto (4)Kishimoto, te considero um amigo. Naruto, obrigado por tudo. Obrigado por se tornar uma das séries que mais tenho carinho no mundo. Jamais vou me esquecer disso tudo, desta história. Valeu por tudo entre 2005 e 2014, de tantas oportunidades que você sempre esteve lá me fazendo companhia, de certa forma. Você foi demais, cara. Talvez com alguns escorregões feios no caminho, mas que amizade não acontece esse tipo de coisa, não é?

UmAnoSemNaruto (1)Ah, e não, isso não é uma resenha, claro. Até porque quero fazer algo a altura. Mas até esse dia chegar, fico feliz em ter escrito isso.

Quem sabe um dia eu não conte um pouquinho como eu conheci um capitão com chapéu de palha muito doido? Espero que esse dia ainda demore muito, por sinal.

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.