Review – Boku no Hero Academia, de Kouhei Horikoshi

Boku no Hero Academia ReviewO novo trunfo da Shounen Jump!

Lembro quando Naruto acabou. Lembro dos fanarts mostrando nosso ninja de cabelos loiros passando o bastão para um garoto franzino, estranho e com cara de medroso. Eu não botava fé apesar de tal série já mostrar que tinha futuro naqueles dias, desbancando outros “novatos”, assumindo o topo do ranking semanal e surpreendendo a todos com suas vendas. Mesmo assim eu não queria ver. Não queria aceitar que alguém pudesse conquistar aquele lugar, provavelmente pelo carinho que eu tinha por ele.

Fui idiota. Convencido pelo hype dei lugar a leitura dos primeiros 6 volumes de Boku no Hero Academia e entendi que todo o barulho pela série tinha um motivo real. Ela é excepcionalmente boa, divertida, emocionante, empolgante e explosiva. Com um anime prestes a ser lançado, estamos vendo o possível lançamento de uma série de sucesso imensurável prestes a se erguer.

Que comece o reinado de Deku e companhia.

Boku no Hero Academia Review (3)A HISTÓRIA

A humanidade desenvolveu poderes especiais em 80% de sua população, os chamados super poderes. Essas novas habilidades dão origem a uma sociedade dividida entre super heróis e vilões. Uma prestigiosa escola conhecida como “A Academia de Heróis” treina jovens com super poderes com o intuito de usar suas forças para proteger o mundo.

O estudante do ensino médio chamado Izuku Midoriya – conhecido como Deku, forma que é chamado pelo seu “amigo” de infância Bakugou – sonha em se tornar um herói mais do que qualquer. Mas ele faz parte dos 20% da população que não possui nenhum tipo de super poder. Apesar de seu sonho parecer impossível, ele pretende prestar o exame para ingressar na Academia de qualquer maneira, como parte do grupo para construir heróis. Porém tudo na vida de Deku pode mudar ao conhecer o herói mais poderoso e conhecido de todos, o espetacular All Might, que diante de um grande segredo resolve fazer de seu garoto o seu mais novo aprendiz em busca do poder supero.

Boku no Hero Academia Review (1)CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

De autoria de Kouhei Horikoshi, Boku no Hero Academia (My Hero Academia) foi lançado na revista Shounen Jump em julho de 2014 – e teve publicação quase simultânea com a Shounen Jump US, nos Estados Unidos. Atualmente a série se encontra em seu sexto volume e já é considerada um sucesso absoluto da editora, sendo lançada também em diversos países. Até o fim dessa postagem o mangá ainda não havia ganhado publicação em território nacional.  Um anime produzido pelo estúdio BONES foi anunciado para o ano de 2016.

Boku no Hero Academia quebra paradigmas. Não que seja o primeiro mangá sobre super heróis. Pode ser que para alguns não seja nem mesmo o melhor, dependendo do que se encaixar nesse grupo. Claro, ainda está em andamento, então é sempre bom tomar cuidado pra não queimar a língua. Mas com certeza já é um dos mais populares, mesmo com tão pouco tempo de serialização. E por que isso? Porque definitivamente é o mangá mais divertido e ao mesmo tempo empolgante desse estilo. Se One Punch-Man consegue ser sensacional pela sua dosagem se comédia e tiradas do autor, Boku no Hero Academia junta o melhor do espírito shounen de superação e laços de amizade com o trivial herói norte americano. É claramente uma homenagem de um autor abertamente apaixonado pelos quadrinhos de Marvel e DC.

Boku no Hero Academia Review (6)E é nisso que está apoiada a história do mangá. Que criança nunca quis um super herói na vida e ser como seu grande ídolo? Quem nunca se viu inspirado pela ação daqueles heróis mascarados? Então basta imaginar esse cenário onde todos possuem super poderes, mas mesmo assim não abandonam em nada essa motivação. Nosso herói Deku é a nossa presença dentro da história. Ele vibra, chora, se esforça, admira e tenta se superar a cada desafio, mesmo não tendo nenhum super poder e recebendo o seu como um presente de seu maior ídolo. Percebeu? É quase como se perguntar “o que eu faria se tivesse poderes?” fosse o modelo para esse personagem.

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Aliás, é com Deku que acontece o melhor núcleo de personagens. Ao lado do esquentado Bakugou e do poderoso Todoroki, o autor nos apresenta dois tipos muito distintos de rivalidade. Com o primeiro temos uma relação que segue desde a infância, enquanto com o segundo existe uma cumplicidade e respeito mútuo, cada um por sua motivação. Os três personagens se completam de forma competente, fazendo cada um valorizar o que há de melhor e pior no outro. Em um dos capítulo essa relação é dita pelo próprio All Might em relação à Deku e Bakugou “através dessa rivalidade eles despertam o que há de mais forte um no outro”, enquanto o pai de Todoroki fica surpreso ao ver como aquele garoto desconhecido consegue despertar todo o poder de seu filho. E tudo isso só é possível graças a forma como o autor decide expor cada ponto.

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E isso é sensacional pois a cada capítulo você sente que um novo leque de possibilidades se abre para cada um dos personagens em questão. Quem nunca se pegou imaginando se Bakugou não cederia para o lado vilanesco pelo seu jeito agressivo? Ou se existe um traidor entre eles? Ou mesmo se algum dos alunos corre risco de vida em algum ponto decisivo?

Horikoshi sempre teve muita leveza em sua narrativa. Seus dois trabalhos anteriores (Sensei no Bulge e Oumagadoki Zoo), mesmo sendo cancelados depois de um tempo, nos mostravam uma obra com visual lindo, enquadramento impecável e uma composição visual que fluía naturalmente durante a narrativa. E em Boku no Hero ele aperfeiçoa isso e torna cada página e cada quadro um show a parte pra quem gosta disso. Além disso, seu principal problema nas obras anteriores, o timing e ritmo de andamento das histórias, é concertado aqui e torna cada capítulo um ritual de espera angustiante pelo próximo.

Boku no Hero Academia Review (5)É uma leitura que ao mesmo tempo que te satisfaz, deixa com um gancho ótimo para a continuação. Coisa fina. Além de toda a mescla do estilo artístico de mangás com o de comics americanas – o visual das capas de capítulos lembrando revistas Marvel e DC, as onomatopeias mais próximas do ocidental e a narrativa de quadros que consegue manter a estética do mangá e ao mesmo tempo dessa “internacionalização“. Ainda sobre a construção dos personagens e da arte da série, acho invejável a criatividade e ao mesmo tempo a inspiração que ele desenvolve no papel. Os uniformes, o design dos personagens (que não são poucos) e a forma de seus poderes são bem trabalhados e mostrados ao público.

Boku no Hero Academia Review (1)Falando em diversidade de personagens, falar dos mesmos e de todo apego que você sente por eles é essencial. Aqui Boku no Hero me lembra muito Naruto com a ideia de uma academia de super heróis e o crescimento de seus alunos. Assim como eu adorava ver os poderes dos outros estudantes de outros times em Naruto (arco dos selados é meu favorito por isso), acho incrível quando ele mostra o potencial dos outros alunos, suas motivações, suas ideias. Obviamente o destaque central fica para Deku, Todoroki e Bakugou, mas eu me apaixonei pelas personagens femininas como a Ochako, e realmente me empolguei com a Aliança de Vilões – grupo destinado a lutar contra os heróis. Pra não dizer que só elogio, infelizmente ainda não consegui a mesma afinidade pelos professores e heróis profissionais, apesar do All Might realmente ser incrível e se destacar no meio de todos eles (não a toa é o número 1). Suas lições de moral, seu cuidado com Deku, as tiradas bobas de comédia e a percepção de perigo somadas as qualidades na hora de combate. Além, é claro, de uma teoria interessante de que o autor se baseia nele para mostrar a queda de um herói e da ascenção de novos poderes na sociedade para continuar as lições que os antigos transmitiram. É mais um personagem que tem uma construção interessantíssima e que pode ser explorada mais a cada capítulo utilizado.

Boku no Hero Academia Review (2)COMENTÁRIOS FINAIS

Até o fim dessa resenha, Boku no Hero Academia conta com 67 capítulos que passam voando na leitura. Não seja o bobo que fui em deixar de acompanhar por medo de achar que é apenas “a busca por um novo sucesso”, assim como não seja o besta a falar que não quer saber mais da série quando a mesma alcançar o famigerado lugar de “modinha”.

O mangá hoje está onde está por méritos próprios, por suas evidentes qualidades e por ter tanto potencial a ser explorado. Pode ser longa? Pode. Provavelmente será. O mundo criado pelo autor abre portas para isso. Mas ainda assim, o que li nestes 5 volumes é o suficiente para ter a certeza que o título veio para ficar e se firmar entre os grandes nomes dessa década na Shounen Jump.

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Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.