Review: ‘Yo-kai Watch’ e a revitalização de um público consumidor

Começam as aventuras de Natham, Whisper e seus amigos yo-kais!

Durante o Anime Friends de 2016 a Editora Panini fez o anúncio do mangá de Yo-kai Watch, baseado na famosa, e crescente, franquia de jogos para Nintendo 3DS, que já tem expressivos números de venda. Como muitos já sabem, a franquia conseguiu rivalizar no Japão até mesmo com o sucesso estrondoso de Pokémon, tornando a série um alvo fácil para o marketing agressivo voltado para o público infantil e apreciadores. Mais do que apenas “mais um”, Yo-kai Watch passou a determinar um seguimento muito importante e ditar muito de um público totalmente revitalizado, influenciando até mesmo os já conhecidos monstros de bolso em seu jogo Sun & Moon.

Era de se esperar que muitos outros produtos surgissem, entre eles o mangá que aqui falamos. A obra tem autoria de Noriyuki Konishi, é publicado na revista Corocoro Comic, da editora Shogakukan, desde 2012. A produtora do jogo, a LEVEL-5, é a criadora da história original e supervisiona a sua publicação. Atualmente conta com o seu anime em exibição, no Brasil está disponível do canal DisneyXD. O sucesso no país é tanto que até mesmo o primeiro filme da série já foi exibido por aqui – e a quantidade de brinquedos nas grandes lojas passam cada dia mais a números expressivos. Seria o mangá uma boa porta de entrada para a franquia?


A HISTÓRIA

Natham Adams (Amano Keta, no original) era um estudante normal, que levava uma vida pacata até o dia em que acabou libertando um Yo-kai e ganhando um estranho objeto chamado Yo-kai Watch. Com ele, Natham passou a enxergar seres fantásticos normalmente invisíveis aos humanos, e resolveu fazer amizade com eles!!

COMENTÁRIOS GERAIS

Atualmente com 12 volumes encadernados no Japão, a primeira vista Yo-kai Watch é um mangá que parece ser bobo, mas acredito que esse pensamento vem pelo traço e por ser uma obra voltada a um público mais novo e que, em sua maioria, não é um leitor frequente. Lançado na Corocoro Comic, a revista tem o perfil de introduzir crianças no mundo dos mangás com obras como Pokémon e o próprio Yo-kai Watch. Por ter este público como público-alvo, a sua narrativa é bem simples e direta, com uma arte de fácil entendimento do leitor, mesmo em cenas mais cheias de movimentos como a invocação dos yo-kais.

Em seu formato episódico, a série conseguiu remodelar o diálogo e a forma como lida com seus consumidores. A franquia ganhou força com os jogos e a forma de incluir muito bem seu público, fazendo com que ele se identificasse com cada elemento na história. Muito por isso, o protagonista Natham Adams é como qualquer criança que está naquele começo do período escolar, aquela fase de descoberta de várias coisas do mundo. E, como qualquer criança, faz exatamente isso no primeiro capítulo do mangá ao ver uma máquina de gashapon e resolver pegar um e sendo surpreendido por Whisper, o yo-kai mordomo. É a partir do momento que Whisper aparece na história que a ligação com o leitor fica evidente, sobretudo quando ele entrega para Natham o yo-kai watch, o item que torna possível o garoto ver os demais yo-kais. O pequeno monstrinho é o responsável por explicar aquele mundo recheado por yo-kais, causadores dos mais diversos fenômenos na vida cotidiana.

De forma direta (ou não) Whisper é o responsável por mostrar diversos pontos e fases importantes para Natham, ensinando ao garoto muitas nuances e personalidades que ele tem que lidar em meio aos seus causos. Isso sem falar na relação do garoto com Jibanyan, que é uma linha muito tênue entre o “certo e o errado”. Muitas das situações inclusas na série acabam passando despercebidas por crianças, mas são facilmente identificadas por adultos. Isso mostra a ideia de também dialogar com um público consumidor não tão infantil assim – coisa que Pokémon também sempre fez.

Os yo-kais são figuras muito presentes na cultura japonesa, mas estão bem simplificados e menos monstruosos, diferentes da forma como são apresentados em diversas produções. Graças ao yo-kai watch, Natham e Whisper conhecem diversos yo-kais e, mesmo com algum conflito inicial por desentendimento ou confusão, acabam se tornando amigos e se ajudando, desde de um gato atropelado que virou yo-kai e quer ficar mais forte até um chapéu que causa amnésia e nunca recebeu um simples “obrigado”.

Mesmo que sejam nas entrelinhas e não sejam percebidas num primeiro instante, em cada volume, Yo-kai Watch traz algumas situações em poucas páginas que mostram lições importantes que ajudam na formação do caráter e na educação dos jovens. A mensagem do mangá não é a de colecionar vários monstros, mas o de entender os outros, aceitar que todos são diferentes e ajudar, mostrando que você pode se divertir e fazer novas amizades.

Yo-kai Watch é um mangá de aceitação, de aprendizado e de amor ao próximo. Por isso a série é tão inclusiva e vem ganhando tanto destaque no Japão e no resto do mundo.


CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Ao ser anunciado pela editora Panini em 2015, o mangá de Yo-kai Watch foi uma grata surpresa por trazer para uma lacuna grande do mercado nacional. Apesar de Pokémon, também lançado pela editora, e por tentativas de outras com obras como Super Onze, a série tem um apelo interessante para o jovem público-leitor – além de estar em alta com anime sendo exibido na TV e com a onda de produtos relacionados. Obras como Yo-kai Watch são importantes para a formação e expansão do público leitor de quadrinhos em geral.

A forma como o mangá foi lançado remete ao passado com seu formato meio-tanko. Esta, porém, foi uma exigência do licenciante por se tratar de um formato mais “amigável” ao público alvo. Tanto que a série foi lançada assim também em alguns dos outros países no qual é publicada. A vantagem desse formato é que permite “prolongar” um pouco mais sua publicação e também baratear o preço para que crianças se favorecem da famosa “mesada” ou de guardar o dinheiro do lanche da escola para comprar. Isso sem falar na probabilidade dos pais ou outros parentes mais velhos comprarem por um valor mais atrativo.

Tirando o formato meio-tanko, o mangá não tem diferenças notáveis quanto as demais publicações no formato padrão da editora. Por seguir a adaptação que foi feita no anime e nos jogos ocidentais, são poucos termos japoneses no mangá – incluindo a escolha de nomes, algo parecido com o que houve com o próprio Pokémon no passado. Algo marcante e que foi mantido é o “nyan”, som emblemático de Jibanyan. Mesmo com poucos termos a edição conta com um glossário, não muito extenso e que está bem didático.

Apesar de um problema de encadernação nos primeiros volumes (o que desmotivou muitas pessoas a seguirem a coleção), o maior problema do mangá está na divulgação fora do nicho da banca de jornal. Mesmo estando disponível em mega-stores online como a Amazon, não houve um grande barulho no seu lançamento e a Panini deixou de aproveitar um bom retorno com a série.


CONCLUSÃO

O lançamento de Yo-kai Watch tem o objetivo, como já disse antes, de trazer novos e jovens leitores para os mangás, mas isso não impede que os veteranos desse tipo de publicação o acompanhem. O importante é entender o público-alvo principal pensado para aquela história, que não é exatamente você que lê a mais tempo e conhece diversas obras. É algo que te deixa mais leve depois de ler, quase um resgate da criança interior de cada um.

O atual momento do mercado de mangás no Brasil é bom, mas faltam mais títulos como este, que apresentam este mundo e servem como porta de entrada. Yo-kai Watch não é revolucionário e não causa estardalhaço por ter saído por aqui, mas é importante tê-lo. Ouso até dizer que foi um dos principais lançamentos do mercado brasileiro em 2016.

Você, leitor que sempre compra vários mangás, pegue o primeiro volume na sua ida à banca e leia. Se não gostou, não tem problema, mas pense em alguma criança que seja seu parente, mostre a revista e sente para ler junto se essa criança não souber ler. Faça você uma leitura para ela em voz alta, explique as situações e, se ela gostar, incentive e, se puder, compre. Faça dessa uma atividade compartilhada, vai ser mais importante do que parece.

Yo-kai Watch é um sucesso e não há dúvidas quanto a isso. Mas ele pode cumprir seu papel de uma forma muito melhor para todo o mercado, e isso inclui todas as editoras e todos os leitores.

Que a chama yo-kai faça crescer esses importantes e pequenos consumidores.


YO-KAI WATCH

Autor: Noriyuki Konishi
Editora: Panini Comics
Demografia: Kodomo (Corocoro Comics)
Total de volumes: 12 edições (em andamento)
No Brasil, cada edição é dividida em duas.

Preço: R$8,90

Nota: ★★★★

 

Asevedo

Designer editorial e leitor de história em quadrinhos de diversos países. Assisto animes de forma esporádica. Sempre estou no Twitter.