Review – Love Hina, de Ken Akamatsu: Volume 1 (Editora JBC)

lovehinaheaderA pensão Hinata é eterna!

Sabe aquelas obras que te marcam por algum motivo de nostalgia? Todo mundo tem uma dessas, ou várias delas. Muitas acabam se perdendo com o tempo e uma leitura futura pode vir a acabar com toda a “diversão” que a tal nostalgia trazia, mas muitas conseguem ter o mesmo impacto como se fosse a primeira vez. Dragon Ball, Sakura, Yu Yu Hakusho, Kenshin.. São todas obras que apesar de alguns defeitos conseguem se destacar em qualquer época em que for apreciada. E Love Hina? Se encaixa nessa descrição?

5Ken Akamatsu mostrou que o ecchi e os momentos constrangedores de um adolescente no meio de várias garotas conseguem marcar muitos. Seja pela diversão da leitura, pelo carisma dos personagens ou pelo desenvolver da história. Afinal, um simples harém é realmente tão bom assim a ponto de ser constantemente lembrado por tantas pessoas? Love Hina entra em um grupo de mangás que merecem ser acompanhados por muitas gerações. Com vocês, todo o carisma da pensão Hinata, do tsunderismo de Naru, da idiotice de Keitaro e do amor de Love Hina!

9A história

Keitaro Urashima é um jovem comum japonês com o sonho de se formar na Universidade Toudai (uma das mais tradicionais do Japão) para ser bem sucedido na vida e cumprir uma promessa que havia feito quando criança: se encontrar com a garota para quem ele havia jurado amor. Claro, apenas uma brincadeira de criança, tanto que ele nem se lembrava do rosto da coitada. Pelo menos era o que ele pensava. Porém o cara é um verdadeiro fracassado nos estudos e é reprovado pela terceira vez no vestibular, sendo praticamente expulso de casa pelo seu pai e correndo para a sua vó, que possuía uma pensão.

Quando Keitaro finalmente pensa que teria a chance de morar em um local afastado da pressão de seus pais, eis uma surpresa: a pensão de sua avó agora é um local que abriga somente garotas! E elas não ficam nem um pouco satisfeitas ao verem o “pervertido” Urashima dividindo o espaço com elas, mesmo ele ganhando a pensão legitimamente de sua avó. Mas o tempo passa e o que era ódio acaba virando uma história de atrapalhadas, de carinho e de amizade entre ele e as garotas. Além disso, Keitaro está cada vez mais perto de encontrar nessas garotas aquela à qual ele fez a promessa quando criança… Façam suas apostas!

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Considerações Técnicas – O mangá

Você percebe logo no primeiro parágrafo desse review o quanto Love Hina é uma obra tradicionalmente nostálgica. E isso não é uma ofensa para a mesma. Publicado na revista Shounen Magazine no ano de 1998 e rendendo 14 volumes encadernados, Love Hina é o mangá mais conhecido de Ken Akamatsu pelo mundo, sendo a obra que realmente o “lançou” para o mundo como um dos percursores do gênero ecchi atual. O mangá ficou muito conhecido na época por conseguir trazer para a atualidade uma história que misturasse comédia, romance, uma quota de sensualidade e inocência ao mesmo tempo, além de um personagem que é praticamente a personificação de um jovem japonês (e porque não de outras nacionalidades) atrapalhado e tímido quando o assunto são garotas. Para muitos, Love Hina conseguiu resgatar o gênero que foi “definido” na década de 70 com Urusei Yatsura (de Rumiko Takahashi, autora de InuYasha), e alguns anos antes por Go Nagai em Harenchi Gakuen. Claro que muitas obras existiram antes (como Tenchi Muyo, por exemplo), mas dificilmente alguma marcou tanto quanto o mangá de Ken Akamatsu.

6O conceito de harém impresso em Love Hina é algo comum aos olhos do leitor de hoje: uma tsundere, uma “tarada”, uma garota mais jovem, uma inocente, uma maluca, e um garoto retardado no meio. Mas a execução da obra é o que a destaca. Apesar de desde o começo ficar claro quem é a garota do passado de Keitaro, o autor consegue prender o leitor com a vida dos personagens e com as situações que em alguns momentos envolvem dramas, em outros constrangimentos, em outros lições de vida e em outros maluquices que só japoneses conseguem pensar – para os que nunca leram, aguardem muitas surpresas da Su.

10Com um traço simples mas agradável, muitas insinuações de nudez (algumas até claras demais), Love Hina também apresenta defeitos. Apesar de apenas 14 volumes, a obra poderia ter sido concluída em menos. Com o passar do tempo algumas situações podem se tornar repetitivas e cansar a leitura. Além disso, em alguns momentos a carga de ecchi pode incomodar bastante os leitores que não são familiarizados ou não gostam do gênero. Um exemplo é o fato de Akamatsu se utilizar de garotas menores (como a Shinobu) em situações bem embaraçosas. Isso rendeu muitas discussões na época – inclusive em Negima, a outra obra do autor. Qual o limite da insinuação na comédia romântica? Para os que levam aquilo apenas como uma leitura de descontração não existem problemas. Mas sempre teremos alguém que vai se incomodar e isso não é “criticar à toa”, afinal temos que analisar a obra como um todo. Além disso, como disse, Love Hina pode parecer “comum” para aqueles que lerem a obra depois de tantas coisas semelhantes no mercado hoje em dia e ser facilmente reconhecido apenas pela nostalgia. São os riscos.

12Mas não há como negar que o primeiro volume é acolhedor e tem um carisma próprio para prender o expectador. De alguma forma você consegue se identificar em algum momento com Keitaro e seus problemas ou simplesmente consegue entender o que passa pela cabeça do rapaz. Akamatsu consegue dosar de forma agradável as cenas de tons mais dramáticos com as engraçadas, fazendo a leitura não se tornar pesada ou desagradável. Diria que essa dinâmica e narrativa são os grandes trunfos do autor, uma vez que seu traço pode ser considerado “comum” e também não possa ser chamado do mestre do enquadramento. Love Hina conquista por ser simples.

7Considerações Técnicas – A versão JBC

Love Hina foi publicado originalmente pela editora JBC em 2002, rendendo 28 volumes sendo que eram os 14 volumes divididos em 2, como era costuma na época. Agora em 2013 a editora resolveu investir no relançamento da série assim como fez com Sakura e Rurouni Kenshin. A coleção atual contará com os 14 volumes integrais, papel offset e revisão de falas e tradução, dando a oportunidade para aqueles que não conseguiram acompanhar o mangá na época e também para os que não conheceram a obra do autor.

Ao ser anunciado, a editora havia dito que o mangá teria “algumas páginas coloridas”, o que me causou certa estranheza tendo em vista que não existem na publicação original – com exceção do último volume. Como o esperado, as tais páginas coloridas não são nada demais, sendo uma o freetalk, uma ilustração avulsa da Naru (originalmente usada na capa interna da edição japonesa) e duas com palavras da editora sobre a série. O preço cobrado é de R$14,50, pouca coisa mais caro do que o volume de Rurouni Kenshin. Não me incomodo em pagar os 60 centavos a mais pela boa qualidade do material impresso, mas também não me incomodaria em ter o mangá por R$13,90 sem as dispensáveis páginas coloridas. Lembrando que a coleção é mensal.

11Quanto a tradução e adaptação não há muito o que ser dito. Love Hina não é um mangá com grandes termos e divergências (no máximo algumas pessoas comentaram a troca de “senpai” por “veterano”, o que na minha opinião é totalmente cabível dentro do contexto – principalmente porque é uma palavra que usamos no Brasil) e até agora não vimos nenhuma “piadinha” ou adaptação estranha como vemos na edição nacional da editora em Fairy Tail, por exemplo. A tradução ficou por conta do já experiente Arnaldo Massato Oka.

O “charme” da coleção é o fato das duas capas serem diferentes. A primeira é a mesma da edição original e a segunda é a mesma que foi usada na edição 2 dos meio tanko em 2002. O resultado é bem interessante. A editora também escolheu por um logotipo e uma fonte mais arredondada para a nova coleção, o que deu uma cara mais minimalista e bonita para a capa. Felizmente não usaram nada do tipo “Edição Especial” como em Sakura e assim como em Kenshin, temos um bom material gráfico em mãos, ótimo para quem quer guardar na sua prateleira por não ter a coleção antiga (ou mesmo para substituí-la). Um trabalho agradável da JBC para os colecionadores de plantão, mostrando o carinho que a própria editora tem pela coleção.

3Comentários Gerais

Eis a sua chance para ter em mãos a tão famigerada obra de Ken Akamatsu. Love Hina marcou uma época e conquistou o carinho de uma geração com as cenas na pensão Hinata. Como disse, é um título que dificilmente fará com que você não dê risada em algum volume, mesmo nos mais focados nos problemas pessoais dos personagens. Se você gosta do gênero ecchi vai adorar a obra e perceber muitas coisas que são figurinhas carimbadas nos títulos de hoje em dia. Da mesma forma que se você se incomoda com coisas mais “insinuosas” poderá rejeitar o mangá com facilidade (vale a nota que a classificação do mangá é de 16 anos).

8Particularmente acho uma leitura agradável. Mesmo lendo a obra pela trilionésima vez é fácil se apegar a Love Hina novamente. Com apenas 14 volumes – pouco mais de 1 ano de coleção – é uma coleção que com certeza vai te deixar com saudades após a leitura do último volume. Dê a sua chance e  descubra também se a doce e violenta Narusegawa vai conseguir conquistar o seu coração.

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.