Review – ‘Shimanami Tasogare’: descobrindo quem é o seu verdadeiro eu

Entendendo um pouco mais de um universo diferente.

Nesse ano eu estou passando por uma fase um tanto diferente da minha vida. Por causa do meu trabalho eu acabo tendo algumas horas sem nada para fazer e acabei transformando meu tempo livre em algo mais “produtivo” com a leitura de livros e mangás. Desde o começo do ano tenho lido sem parar e, consequentemente, tenho conhecido muita coisa boa que não vejo ser comentada por aqui. Mas aos poucos esses materiais vão aparecer, tanto que o próprio post de Whole New World sobre Console Wars veio desse meu novo hábito.

Shimanami Tasogare foi um desses casos em que nunca tinha ouvido falar e acabei lendo por acaso, se mostrando uma ótima surpresa e um belo complemento para um outro review que fiz aqui. Vocês podem pensar que é um exagero meu lançar uma resenha de um mangá com apenas 13 capítulos, mas sinceramente posso afirmar que a experiência que tive com esses poucos capítulos foi forte o suficiente para transformá-lo em um post.

A HISTÓRIA

A vida de Tasuku Kaname acabou. Seus amigos do colégio descobriram no celular dele que, em algum momento, o garoto acessou pornografia de conteúdo homossexual, fazendo com que tudo nunca mais volte ao normal. Seu desespero some após ver uma mulher se jogar da janela em uma aparente tentativa de suicídio. Tasuku corre até a casa da qual a mulher se jogou, descobrindo que ali é um lugar em que são feitas reuniões para um certo público e que aquela senhora era a dona do lugar.  Tasuku em meio à confusão tenta dar a notícia sobre a possível morte, mas a moça passa por ele sem nenhum ferimento.

Mal sabia ele que esse encontro traria à tona uma série de descobertas sobre si mesmo, além de respostas para os seus sentimentos e se aquilo realmente era realmente o fim. Por fim, ele também descobre que os frequentadores do lugar tem problemas similares aos seus e que, aos poucos, transformaram o local em um porto seguro.

COMENTÁRIOS GERAIS

Yuhki Kamatani – autor de mangás como Nabari no Ou e Shounen Note  passa por um momento um tanto turbulento com Shimanami Tasogare. O mangá era publicado na revista Hibana, da editora Shogakukan, só que essa antoligia acabou sendo cancelada e agora a série está sendo publicada digitalmente através do aplicativo Manga One. O maior problema para nós, ocidentais, é conseguir acompanhar tantas séries diferentes de forma legal (o próprio Manga One não tem tradução), por isso, acabamos recorrendo aos meios “ilícitos”. No caso de Shimanami, temos basicamente apenas um volume por ano, mesmo em meios alternativos. Pouco, não é? Então você deve imaginar que é uma loucura recomendar algo que ainda está saindo, com tão pouco lançado e que provavelmente só vamos ver mais no ano que vem e bem… claro que é, mas vale a pena.

Otouto no Otto, um outro mangá que fiz review aqui no ChuNan, tinha uma história que falava sobre os problemas enfrentados pelos gays nos tempos atuais, mas do ponto de vista de um cara com preconceito velado em relação ao assunto. Shimanami Tasogare tem uma temática extremamente parecida, mas com um twist que muda muito a visão do leitor quando se tenta comparar as duas obras, afinal de contas, agora estamos vendo um garoto descobrindo sua verdadeira sexualidade e tentando lidar com a situação enquanto precisa esconder da sua família e amigos. Otouto no Otto me fez refletir internamente, sobre o preconceito que tinha e como venho tentando melhorar, enquanto Shimanami me prendeu porque me fez ter conhecimento sobre problemas que não fazia ideia, o que torna a série extremamente interessante!

Achei que não me importaria tanto com os personagens no início, porém me peguei triste no final do último capitulo lido por não poder conhecer ainda mais de cada membro grupo. O protagonista se torna bem instigante com o passar do tempo, aprendendo aos poucos como lidar com si e com os outros, o que inicialmente pode ser complicado ainda mais por ele não conhecer aquele universo, chegando ao ponto de arranjar uma briga feia após uma tentativa de elogio. Depois do protagonista, Haruko Daichi é a personagem mais bem trabalhada; ela é do tipo que sempre sorri, consegue se enturmar todos e é sincera em relação a sua opção sexual, gerando pequenos atritos com Saki, sua esposa, que ainda não se sente confortável com o assunto e prefere que tudo fique em segredo.  Temos também Shuuji Misora, que, de todos os personagens apresentados, é o que mais gostei e talvez o mais complexo; ele é um garoto que está na sexta série e gosta de se vestir de mulher, mas apenas naquele lugar, também possuindo diversos questionamentos sobre o próprio gênero. Além deles, existe a abordagem sobre outro personagem que descobrimos ser trans – e eu sinceramente não esperava por aquilo.

Talvez meu maior problema seja o clima um tanto sobrenatural em volta da Annonnymous, a dona do lugar; não consigo entender o porquê de alguns momentos ela parecer estar voando, se teleportando e coisas do tipo. É o momento em que não dá para diferenciar se está realmente acontecendo ou não.

Todos esses personagens que citei são complexos. O autor possui um cuidado enorme para dizer ao leitor sobre o que eles passaram e estão passando e sem parecer forçado, pelo menos para o protagonista, Tasuku. Nem ao menos consigo imaginar como deve ser difícil conseguir tais informações e amparo em um país tão fechado como o Japão, mesmo no Brasil já é complicado, sendo que somos mais liberais nesse sentido. É difícil procurar algo na mídia que trate do assunto de uma forma realista, fazendo com que esse tipo de história seja intrigante e ao mesmo tempo chocante.  Chocante? Sim! Ele não economiza em mostrar a realidade, em mostrar personagens sendo extremamente escrotos com o grupo e logo depois dizendo que não tinha a intenção, que estavam apenas sendo gentis – coisas que provavelmente já falei sem intenção de machucar e que, ao ler o mangá, me fez sentir incomodado.

Yuhki Kamatani sabe muito bem como expressar certos sentimentos através dos desenhos, ele já se expressava muito bem em Shounen Note, onde precisava mostrar a emoção que o coral passava através de suas canções, e aqui não é diferente. Muitas vezes me senti apreensivo, nervoso e até mesmo com um sentimento claustrofóbico. O traço dele é lindo e o design é incrível, além disso, dou destaque para as capas que são maravilhosas.

CONCLUINDO

Acabei me perguntando se valia a pena escrever um review antes desse post ser criado. Pensei em fazer algo como fiz em Chi no Wadachi, com um post curto sobre o mangá, mas achei tão cativante que preferi espalhar a palavra através de uma resenha. É bonito e delicado, sendo mais uma história que nos apresenta um universo desconhecido e que, muitas vezes, por causa da ignorância das pessoas acaba sofrendo. Todos na obra são humanizados. Para o leitor, está sendo divertido saber mais sobre o próprio grupo retratado na obra está, em como nos aprofundamos bem em 2 personagens e como seus caminhos se cruzam, cada um com seus problemas e lições de vida.

Também fica a dica para Otouto no Otto, um mangá que trata do mesmo assunto só que do ponto de vista de um hétero que precisa combater os seus próprios demônios para conviver com o marido do seu irmão e orientar sua filha para não seguir o seu caminho. Os dois se completam e conversam muito, apesar de serem de dois mangakás diferentes e em revistas diferentes, mas que provavelmente passaram pelos mesmos problemas.

Luk

Eu juro que gosto de animes, apesar de todo o meu haterismo.