Um shoujo com harém reverso.
Para falar de Mairunovich preciso voltar a alguns aninhos. Antes lia muitos shoujos, maratonava títulos atrás de títulos e conseguia acompanhar tudo direitinho. Nessa mesma época conheci a história da Mairu, a garota cogumelo. Lembro que só tinha lido alguns capítulos, dez ou vinte talvez, e julgava aquele mangá como o meu preferido; porém, fui mudando minha rotina, fazendo isso, aquilo e, de repente, não havia tempo para mais nada. Não, esse não é um post sobre como larguei minha vida de otaquinha, e sim, de como tomei vergonha na cara para voltar a ler esse maravilhoso mangá e por que ele merece a atenção dos que, assim como eu, vão e voltam com as leituras. Sem mais enrolações, vamos à review!
A HISTÓRIA
Kinoshita Mairu tem um nome bonito, mas ela pede desculpas para ele. Uma pessoa tão feia com um nome tão bonito. Na verdade, ela pede desculpas para sua própria existência, porque ela não é bonita. Seus colegas de classe a chamam de “Cogumelo Venenoso” pelas suas costas, e até mesmo seu próprio irmão a trata com desdém. No entanto, tudo isso está prestes a mudar com a ajuda de seu mentora transsexual e vizinha, Fuwari-chan, e o “rei da escola”, Kumada Tenyuu!
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Mairunovich foi um mangá shoujo publicado na revista Margaret, da Shueisha, de 2010 até 2013. No total, a série de Sato Zakuri teve 12 volumes encadernados.
Por que se interessar por esse mangá? Nesse caso, me interessei por Mairunovich por causa de sua temática. Fui conquistada por esse clichê no estilo “Beth, a feia” onde a protagonista se cansa de ser esmagada pelas pessoas e mostra do que realmente é capaz, de como aquela personagem fragilizada e insegura consegue ser firme em suas decisões, deixando a história tomar um rumo divertido e ao mesmo tempo relaxante.
Nossa personagem principal, quando se trata de relações, não segue o rumo de suas “irmãs” da demografia. Algo que podemos destacar é o fato de Mairu começar um romance com um personagem que ela gosta – que ela realmente gosta, mas não com aquele “macho secundário” que foi chutado o mangá inteiro e depois implorou para ficar com a garota – e como esse relacionamento acaba se desenvolvendo (ou não). O que sempre se vê em shoujos é a “heroína” lutando para ficar com seu amor e… Fim. “Viveram felizes para sempre.” Mas mesmo Mairu estando com alguém que é apaixonada, ela descobre desafios, descobre que nem tudo são flores e que o amor é um verdadeiro campo de guerra (que frase clichê, é) e, pode até não ser, mas encaro isso como uma crítica da autora em relação a tantas histórias de romance por aí, como se ela quisesse dizer: “Você acha que só porque as pessoas se apaixonam que o relacionamento precisa dar certo?”. Essa mistura de fantasia, com um pequeno toque de realidade, deixam a obra ainda mais viciante e, de quebra, consegue se destacar em meio a tantos genéricos que existem.
A protagonista tem vários relacionamentos amorosos. A autora sabe trabalhar parte deles até um ponto do mangá, mas acredito que depois de certo “arco” se torna algo desnecessário; é nesse momento em que você pensa que a história está chata e poderia dropar fácil. Isso foi algo que me irritou, admito. A Sato Zakuri praticamente “jogou” alguns personagens, enquanto outros ela criou no começo, deixou de lado e depois lembrou que eles existiam e os colocou no enredo de novo. Sinceramente, ainda não li a obra atual dela, mas se Mairunovich teve um erro, esse erro foi o excesso de personagens e a falta de desenvolvimento deles.
Os dois personagens masculinos principais são Tenyuu e Narutou. Tenyuu é… Incrível. E não estou falando isso só pelo lado fã girl (mas amo ele demais) e sim pelo fato dele auxiliar a Mairu. Ao mesmo tempo em que ele dá um choque de realidade nela, ele a conforta; porém, ele não faz isso de imediato. Ele espera ela mesma perceber que o que está fazendo é estupidez e depois a ajuda. Já Narutou consegue ser o oposto. Ele conforta a Mairu imediatamente, mas ao mesmo tempo em que conforta, não ouve o que ela realmente tem pra dizer, como se não quisesse ver os defeitos que há entre eles. Ou seja, Tenyuu superior.
O traço da autora não é um dos mais bonitos, confesso. Ele não consegue chegar ao pés de um Hibi Chouchou, por exemplo, mas ela consegue se superar quando o assunto é desenhar momentos mais cômicos. Se na resenha sobre AohaRaido havíamos dito que os personagens de Sakisaka Io são todos bonitos, nos de Mairunovich eles conseguem ser exatamente o oposto. “Oh, wait. Não há personagens bonitos?”. Há, porém, a autora mostra os defeitos estéticos (de propósito) até mesmo de seus personagens principais – principalmente nas mulheres – e muitas vezes coloca personagens bizarros que contribuem ainda mais para o quesito humor. Acredito que essa seja outra crítica da autora. Ela não está expondo os defeitos de seus personagens apenas para efeito de humor, e sim para mostrar que todos tem defeitos, seja em personalidade ou forma física.
COMENTÁRIOS FINAIS
Apesar de ter uma parte bem “dropável”, isso muda conforme a quantidade de plot twists que vão aparecendo no decorrer da obra. Já li outros trabalhos da autora, não por completo, mas posso dizer que esse foi um dos melhores. Ela conseguiu evoluir em certos pontos, mas algo que me irritou foi o excesso de personagens masculinos e, inclusive, espero que ela não faça isso em seu próximo mangá (atualmente em publicação sob o nome de Taihen Yoku Dekimashita, também na revista Margaret).
Mairunovich me conquistou e a maior prova disso é o fato de estar escrevendo essa review que, sinceramente, considero uma das minhas melhores desde Heroine Shikkaku. E sabe o que faz uma pessoa escrever bem, modéstia à parte, em um post? O fato de gostar demais ou odiar demais. Mairu se encaixa na primeira opção. Então… Recomendo o mangá para aqueles que querem algo diferente e não só pelo fato dessa redatora falar em suas resenhas que as obras são diferentes, mas por realmente ser assim! Ser cativante, emocionante, que te faz chorar e rir em um único capítulo e, mesmo em uma parte chata, te faz querer mais! Mairu é tudo isso e volta, de novo, para o meu top (imaginário) de mangás shoujo que mais gostei.