Review – Planetes, de Makoto Yukimura (Volume 1)

Review - PlanetesNão existe limites para a vontade no espaço sideral.

Esse é um review dedicado a versão nacional de Planetes. Uma outra opinião sobre a obra pode ser encontrada clicando no link abaixo.


Na segunda quinzena de março a editora Panini revelou seu mais novo título para o ano de 2015 – após o vazamento em uma loja online -, o mangá futurista ambientado no espaço, Planetes. A obra, em uma edição para lá de caprichada, começou a circular na segunda quinzena de maio em distribuição nacional.

O mangá é de autoria de Makoto Yukimura, o mesmo autor de Vinland Saga, e foi serializado na revista seinen Morning de 1999 até 2004. O título também teve um anime de 26 episódios exibidos entre o final de 2003 e começo de 2004, com sua conclusão após o término do mangá.

planetes1A HISTÓRIA

Planetes começa sua história no ano de 2068, onde a humanidade já desenvolveu meios de transporte mais avançados que incluem o espaço em voos pela órbita terreste, sendo possível atravessar continentes e oceanos em pouco tempo. Porém a exploração espacial, que permitiu o avanço de tal maneira, deixou um custo: o lixo espacial. Oriundo de foguetes, satélites e outros materiais espaciais tais partículas estão orbitando o planeta e, caso não forem recolhidas, acidentes terríveis podem acontecer e é com o acidente da nave Alnail-8, em belas páginas coloridas, que Planetes começa.

Seis anos após o acidente somos apresentados à nave Toy Box e sua tripulação, que trabalham na coleta de detritos espaciais na órbita terrestre, nas mais diversas altitudes, para evitar que novos acidentes com voos orbitais e estações espaciais aconteçam.

A tripulação é comandada pela piloto americana Fee Carmichael e seus dois companheiros especialista em coleta de lixo espacial, Hachirota Hoshino, o Hachimaki, um jovem astronauta japonês que tem como objetivo ter sua própria nave e do russo Yuri Mihalkov, um dos sobreviventes do acidente da Alnail-8.

planetes2CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

O primeiro capítulo de Planetes é importante por apresentar os personagens. Enquanto Fee e Hachimaki são fáceis de se afeiçoar e compreender (pelo menos inicialmente), o mistério do motivo da frieza de Yuri é o maior foco do capítulo, onde descobre-se que o motivo dele estar trabalhando como um “lixeiro espacial’ é buscar por vestígios (uma lembrança) da esposa que perdeu na tragédia da Alnail-8, a ponto de arriscar a vida para conseguir em uma das mais belas sequência de páginas, isso tudo ainda no primeiro capítulo.

A partir do segundo capítulo percebemos que, mesmo possuindo uma trama que liga todos os fatos, Planetes é um mangá episódico, mas que no início a ordem dos capítulos apresenta o universo do mangá muito bem. O modo como a sociedade do futuro, sobretudo no espaço, se organiza é apresentado ao mostrar que a Lua também é um lar para os humanos terráqueos e os poucos humanos nascidos na Lua, os Lunarianos, sendo um importante posto de reabastecimento para as diversas naves de limpeza orbital, de viagem espacial além de servir de centro de pesquisa e de exploração para novas fontes de energia.

Mesmo em um futuro desenvolvido após os humanos conseguirem parar seus conflitos e avançarem como um só, tecnologicamente e socialmente, a habilidade humana de deixar que muita coisa se perca é mostrada, passasse anos e humanos ainda continuam deturpando e estragando o que existe. Desde o imbecil ato de fumar no espaço, onde o ar já é rarefeito, até a substituição da fonte de energia explorada até o esgotamento, fazem surgir conflitos, como um longo discurso antitabagista até ataques terroristas e ameças de que o lugar dos humanos nunca foi o espaço.

planetes3O enredo da história vai sendo moldado de modo que mostra a capacidade humana de sobreviver e fazer as coisas mais incríveis e memoráveis, mas que no fundo tem um objetivo simples, até mesmo estúpido. O sentimento principal que a história traz não é só a interessante exploração do desconhecido além do nosso confortável globo azul quentinho, mas a capacidade humana de superação de obstáculos e de nunca desistir dos seus sonhos, por mais que riam da sua cara ou falem que é impossível.

Os personagens de Planetes não são difíceis de se afeiçoar e gostar, são muito carismáticos. Fee é a líder que une os companheiros, uma verdadeira conselheira e guia; Yuri tem seu jeito calado, mas com o tempo se entende a razão dele ser assim e a sua dura luto de superar um evento traumático que lhe tirou alguém importante; Hachimaki completa o trio de protagonistas e é nele que as pessoas com objetivos e sonhos se veem e se imaginam, pelo menos um pouco. O irmão mais novo de Hachimaki, Kyutarou, talvez seja mais próximo do público, pois ele também quer trabalhar com o espaço, mas ser mais do que seu pai e irmão foram e estão sendo, o objetivo dele é alcançar e ultrapassar os exemplos que tem contato.

A arte de Planetes é ótima para se perceber a capacidade de evolução da arte de um mangaká, como já tivemos contato com uma obra posterior do autor é possível comparar, Vinland Saga é a obra seguinte do autor e que ainda está em publicação. A maior diferença está nos personagens humanos, principalmente nos dois primeiros capítulos que possuem rostos mais arredondados e cabelos diferentes, mas cuja mudança a parte do capítulo 3 devido aos acontecimentos do capítulo 2 são aceitáveis e entendíveis, como se tivesse ocorrido uma passagem de tempo. Os cenários das cidades, naves e o céu estrelado são espetaculares, a habilidade do autor em trabalhar com tantos cenários diversos, do espaço até a época dos vikings, mostra uma habilidade artísticas e de pesquisa muito rica e desperta a curiosidade de como é o one-shot com história de samurais Sayonara ga Chikai no de.

planetes4COMENTÁRIOS FINAIS

Planetes é aquele tipo de mangá que não está restrito ao nicho de fãs de mangás e animes, com alguns recentes filmes e notícias sobre o espaço o interesse no assunto tem crescido sendo um ótimo título para indicar ou presentear. Além da interessante história a crítica ao modo como tratamos o espaço como uma lixeira e aponta para um problema que está literalmente sobre nossas cabeças, em altitude que começam em 130 km e vão além do 36 mil km, pois na órbita terrestre existe muito restos de satélites, naves que nunca foram recolhidos e que algum dia podem atrapalhar o planeta, é realmente de se pensar.

A edição de Panini está muito boa, até o momento é, sem dúvida alguma, o melhor lançamento do ano, em qualidade editorial e gráfica. Editorialmente falando só há uma coisa que me incomoda, na verdade sempre me incomodou nos mangás da Panini, que é a ordem do glossário, que está no sentido ocidental de leitura e após toda uma leitura no sentido oriental mudar fica estranho, ainda mais com 4 páginas de muita informação interessante que me fez ir atrás sobre várias coisas depois, um glossário tão bom te faz buscar mais informação.

Já na qualidade gráfica esse mangá me fez gostar do papel offset, papel que normalmente acho ruim para mangás, pois o mangá está em qualidade que muito livro de literatura de editoras com experiência nesse nicho deixa a desejar. O volume 1 ainda conta com páginas de abertura colorida em quase todos os capítulos, exceto no capítulo 2 que não possui originalmente no encadernado, mas as páginas não estão no tradicional couchê em páginas coloridas de mangás, usa offset o que é uma experiência interessante pois mantêm a mesma textura ao segurar o papel e não compromete a impressão.. A capa fosca com verniz, as orelhas funcionais, com o índice e o texto do autor e o marca página para todos que compraram só ajudam a passar essa sensação, mas que não correspondem ao preço normalmente visto nesse tipo de livro, pela qualidade apresentada o mais impressionante é o preço.

O título é mais um daqueles que é uma grata surpresa, não tanta pois o trabalho do autor já é conhecido por Vinland Saga, vale o dinheiro gasto. Makoto Yukimura segue passos de Naoki Urasawa, não de dominar a arte do mangá, mas a arte sequencial dos quadrinhos.

planetes5


FICHA TÉCNICA

Planetes#1_covers

Título: Planetes
( プラネテス)

Autor: Makoto Yukimura
Editora: Panini
Total de volumes: 4 (concluído)
Periodicidade: Bimestral
Valor: R$ 18,90

Pontos Positivos

  • Enredo incrível e crítico;
  • Personagens carismáticos;
  • Interesse no tema espacial que a obra desperta;
  • A ótima relação preço/qualidade.

Pontos Negativos

  • A forma como o título foi “divulgado” através de uma loja online;
  • A ordem de leitura do glossário;

Nota Volume 1: ★★★★★

Asevedo

Designer editorial e leitor de história em quadrinhos de diversos países. Assisto animes de forma esporádica. Sempre estou no Twitter.