Uma nova fase!
Eu e o Dih estávamos totalmente empolgados no começo do Chuva de Nanquim. Era algo novo e tínhamos ideias para colunas novas o tempo todo, sendo que muitas dessas permanecem até hoje e algumas foram sumindo ou mudando com o passar do tempo. Uma delas é a coluna Cenas Marcantes. Eram posts que eu adorava escrever, mas acabavam sempre dando problema depois que o YouTube derrubava os vídeos e eu tinha que caçar uma outra versão para deixar funcionando um post que não recebia mais tanta visitas. Era um trabalho que nunca acabava e eram textos demorados demais de se fazer.
Foi então que eu resolvi fazer algo mais casual e misturar a ideia da coluna antiga de comentar cenas que me marcaram durante todos esses anos, com a casualidade dos posts semanais do Music Monday. Resolvi escolher uma cena bem especial para mim para começar essa nova fase. Talvez ela seja um dos maiores motivos para eu estar aqui, sentado no meu quarto escrevendo sobre animes e compartilhando minhas experiências com vocês. Essa cena é o final de Chrno Crusade.
Mais uma vez lembramos que o ‘Cenas Marcantes’ é uma zona repleta de spoilers!
Epílogo
Rosette é uma freira que fez um pacto com um demônio chamado Chrno para ajudá-la a encontrar seu irmão, que tinha sido raptado por um demônio chamado Aion. Nessa busca os dois acabam se aventurando pelo mundo e encontrando vários problemas que precisam ser resolvido com a ajuda dos poderes de Chrno, só que o pacto faz com que a vida de Rosette seja diminuída no mesmo instante que ele ativa-los.
Um amigo no colegial veio até mim todo animado, me entregou 8 caixinhas de CD e disse que eu iria adorar os desenhos que tinham neles, apesar de tudo estar em japonês. Chrno Crusade estava no meio desses CDs repletos de episódios em rmvb de Naruto e Bleach, sendo que ele foi a minha primeira experiência em assistir um anime com a dublagem original do começo ao fim. (Parando pra pensar, por que raios Chrno Crusade estava no meio? Ele não foi um daqueles animes tão populares a ponto de um garoto colegial no fim do mundo saber sobre.) Foram 24 episódios de ação que na época me divertiram bastante, mas que hoje em dia eu nem tenho coragem de assistir para não estragar as minhas lembranças com algo que eu sei que não era tão bom.
Apesar de tudo, a cena mais importante do anime continua sendo cada vez mais impactante a cada dia que passa.
A sinopse já explicou que Rosette e Chrno compartilham um vínculo único e a vida da freira vai diminuindo cada vez mais ao longo dos 24 episódios por motivos óbvios – afinal de contas é um anime de ação e precisa de lutas legais, sendo que nas últimas batalhas os dois acabam precisando ir ao limite para vencer seus adversários e desafios. Normalmente o que aconteceria em qualquer história é que ao finalizar o problema final teríamos um epílogo feliz, mostrando como todos estão depois de alguns. Talvez, no máximo, revelando a lápide da Rosette.
Bem, não foi exatamente isso que aconteceu…
A cena mostra os últimos minutos de vida dos dois personagens principais. Rosette começando a se desesperar vendo que sua hora está chegando e gritando a plenos pulmões que queria viver. UMA CENA PARA MOSTRAS AS CONSEQUÊNCIAS DE TUDO O QUE ELA PASSOU!!!
Existe uma filosofia em quadrinhos e desenhos, normalmente nos voltados para um público mais infantil, onde a história de cada episódio é feita para criar uma ilusão que o Status Quo está sofrendo uma mudança, que a partir daquele ponto nada vai ser como era antes, mas que no final tudo acaba se revertendo e voltando para a mesma situação que estava no início do episódio. É só lembrar como heróis de HQs americanas continuam com o mesmo tipo de roteiro, enfrentando os mesmos vilões, morrendo e revivendo, ficando pobres e voltando a ser ricos, casando e separando até hoje. Tudo isso apesar de ter 30 ou 40 anos de edições mensais e sem sinal de que um dia essa fórmula vai acabar. Também posso citar He-man, Caverna do Dragão, Dragon Ball e ir até mesmo para animações atuais como Naruto com sua saga do Pain – que na minha opinião teve um final bem covarde.
O fato de poder ver as consequências das escolhas dos personagens torna essa cena muito forte e especial pra mim. Os últimos minutos de vida dos dois personagens foram muito bem trabalhados por todos do estúdio Gonzo, começando pela direção e roteiro primorosos. Vale lembrar que os últimos arcos foram criados especialmente para o anime, somados a uma trilha sonora que combina muito com a melancolia que a cena está tentando passar. Além, claro de um trabalho incrível da seiyuu Tomoko Kawakami que transmitiu muito bem todo o conflito interno e desespero que Rosette está passando.
Foram necessários apenas 5 minutos para eu perceber que animes eram realmente uma experiência totalmente diferente de tudo o que eu tinha visto até aquele momento. E até hoje essa cena me deixa com um nó bem no fundo da garganta…