Baseado no sucesso do filme que quase concorreu ao Oscar, conheça Summer Wars. Será que esse é só mais uma péssima adaptação de uma animação para os mangás?
Sei que o mangá de Summer Wars já saiu em nosso país a pouco mais de 1 mês, e que diversas pessoas já demonstraram a sua opinião quanto ao título. Mas sei também que junto de Astral Project (que também ganhará um post especial em breve) foi um dos títulos que comprei “por impulso” e que acabei me surpreendendo.
Antes de falar do mangá, vamos conhecer um pouquinho de suas origens. Summer Wars foi uma animação original do cinema japonês. Criada pelo estúdio Madhouse e com história e roteiro de Mamoru Hosoda (diretor que carrega no curriculo os filmes de Digimon Bokura no War Game – que lembra bastante o próprio Summer Wars -, o sexto filme de One Piece e o lindo Toki O Kakeru Shoujo), Summer Wars foi criado no ano de 2009 e devido ao grande sucesso do filme anterior do diretor (no caso Toki O Kakeru Shoujo, ou The Girl Who Leapt Through Time) foi muito aguardado pela população japonesa. O filme conseguiu mais de 1 milhão de dólares no primeiro final de semana no Japão, e foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Nova Iorque e diversos outros festivais, como em Portugal, Austrália, Inglaterra, Suiça, Alemanha e ganhou diversos prêmios e indicações. Foi inclusive cogitado para a disputa do Oscar 2011, mas não conseguiu a nomeação.
Como todo bom sucesso, Summer Wars gerou produtos e entre eles um mangá de 3 volumes e um spin-off de mais 1 volume. Os mangás venderam super bem em terras nipônicas, alcançando a incrível marca de mais de 50.000 volumes vendidos na primeira semana, algo difícil se desconsiderarmos os títulos da Shonen Jump ou da Shonen Magazine, por exemplo. O character design dos personagens no mangá ficou a cargo de Yoshiyuki Sadamoto, o autor
preguiçoso do mangá Evangelion, e os desenhos ficaram por conta de Iqura Sugimoto, que tem no passado o mangá Variante, talvez o mais conhecido de seus trabalhos.
A editora JBC, aparentemente tentando seguir a idéia de 1 título diferente por mês durante 10 meses, lançou no mês de Fevereiro o mangá Summer Wars por aqui. Não existem notícias que a editora publicará também o spin-off, mas eu não duvidaria uma vez que publicaram até um spin-off obscuro do horrendo Blue Dragon. A tradução ficou por conta da minha amiga Karen Kazumi e o mangá segue os padrões da editora atualmente, com o volume em tankobon (cerca de 200 páginas), sem páginas coloridas, sem contra capa bonitinha nem nada do tipo. Mas como não pretendo aqui entrar nos méritos técnicos do título…
A história
Kenji Koiso é um estudante que não é bom em nada, mas que possui facilidade com a matemática. Ele e seu amigo Takashi Sakuma são moderadores de um jogo de realidade virtual que chama-se OZ (uma espécie de Second Life) onde as pessoas fazem suas vidas, adquirem produtos e fazem negócios exatamente como no mundo real com personagens que são chamados de “avatares”.
Logo após ser reprovado em uma competição de matemática, o garoto pensa que sua vida não faz mais sentido, uma vez que não lhe resta mais nada em que ele pudesse ser útil. Até que um dia, a garota Natsuki Shinohara lhe convida para ir com ela ao aniversário de 90 anos de sua avó Sakae. Kenji que aceita o convite logo após seu amigo Takashi ter recusado, ao chegar ao local onde a família de Natsuki está reunida, é apresentado como namorado da garota! Assustado com a idéia, Kenji “resolve” ajudá-la e continuar se fingindo para a família.
Uma noite, Kenji recebe um SMS com vários números e tenta decifrá-los. No dia segiunte o garoto descobre que o Love Machine, uma Inteligência Artifical presente no jogo, havia roubado sua conta para invadir o sistema, tornando-o um foragido da polícia. Agora Kenji com a ajuda de seu amigo Sakuma, da complicada Natsuki e do primo da garota, Kazuma Ikezawa (e seu poderoso avatar King Kazma), tentam resolver a situação lutando com o Love Machine e tentando restabelecer a normalidade em OZ.
No decorrer da história, vemos a interação da vovó Sakae com os outros personagens, os mistérios que rondam o estranho tio Wabisuki e a forma como a amizade entre os garotos vai se fortalecendo. Além é claro da presença da ilustre família Shinohara, que a todo instante serve como alívio comico do mangá.
E que atire a primeira pedra quem não torce desde o começo para que a Natsuki fique com o Kenji no final…
Considerações Técnicas
Como eu disse no começo do post, Summer Wars foi uma grata surpresa para mim. Nem ao menos havia cogitado adquirir o mangá, mas um dia ao ir até uma livraria aqui de São Paulo meu pai acabou me perguntando se queria algo e peguei o mangá por curiosidade. Algumas pessoas já haviam me falado bem dele e resolvi dar uma chance.
É preciso deixar claro que eu não assisti o filme ainda, e agora não pretendo fazer isso até o fim do mangá, portanto não posso afirmar se a adaptação ficou fiel (embora veja muitos comentários afirmando isso).
Em compensação, como primeiro contato com o título, posso garantir que o mangá ao contrário de outros animes que foram para o papel, me deixou extremamente empolgado! É um título leve, com uma história bem amarrada, com personagens bem construídos e uma arte muito bonita. É engraçado como acontece o desenvolvimento do enredo pois mesmo sendo em poucos volumes, ele não ocorre de uma forma corrida, fluindo naturalmente e fazendo a leitura ser rápida e deixando um gostinho de “quero mais” no bom sentido. Os personagens são bem apresentados, a relação deles com seus avatares (que dariam um ótimo plot para uma temporada ou filme de Digimon) e até mesmo a extensa família de Natsuki consegue ser bem colocada durante os capítulos.
Achei interessante um paradoxo que pode ser feito com o título, sugerindo a imagem das pessoas dependendo e investindo em um mundo virtual e deixando um pouco de lado o convívio familiar como acontece com o protagonista. A família reunida, a forma como todos são encorajados pela avó, e a cooperação de todos são uma forma do mangá mostrar que apesar da vida na rede, valores tradicionais não podem ser deixados de lado. O ambiente em que todos se encontram – o campo – é outra antítese interessante ao assunto. Talvez Hosoda tenha indiretamente feito uma crítica a sociedade atual japonesa (e até mesmo mundial).
Comentários gerais
Ponto para a JBC: você não vai se arrepender de comprar Summer Wars. Não posso garantir que quem já tenha visto o filme vá se empolgar com o mangá, mas posso dizer que ele não vai se decepcionar. Não é genial, mas é gostoso de se ler. Me lembrou bastante em alguns momentos A Viagem de Chihiro, não pela história ou algo assim, mas pela forma como o enredo consegue cativar o público.
Não leia se você estiver esperando um shounen com porradas desenfreadas, nem um shoujo romântico ou um slice of life. Leia sem se importar com demografias ou gêneros pois é isso que Summer Wars é: algo feito para todos e que pode conquistar qualquer um pela sua simplicidade e competência. Talvez isso explique o sucesso do filme e do mangá pelo mundo afora, só não explica não ter saído em nossos cinemas ou nem mesmo no mercado de home video ainda…
por Dih