As guerreiras lunares ainda tem alguma chance de se dar bem no nosso país? Na verdade, é mais difícil do que os fãs acham…
Antes de começar esse texto, quero deixar bem claro algumas coisas. Em primeiro lugar, não desvalorizo o trabalho de ninguém, muito menos do grupo SOS Sailor Moon, que eu sei que sempre se esforçou para a retomada da marca no Brasil. Em segundo, eu prefiro estar trabalhando com o bom senso do que com a paixão por uma série. Em terceiro, eu gosto do anime de Sailor Moon (e sim, acho o mangá muito ruim), isso não me impede de observar fatos e deixar os olhos abertos para a realidade brasileira em relação aos animes.
Agora vamos ao que temos. Sailor Moon, para quem não conhece, é uma série que fez relativo sucesso na Manchete na época “de ouro” dos animes no Brasil. E sim, foi somente relativo, convenhamos. Seu sucesso não foi o mesmo de Cavaleiros dos Zodíaco ou Yu Yu Hakusho. Mas temos que concordar que teve seu sucesso, criou sua base de fãs e comparado com outras séries, manteve uma exibição satisfatória.
A série voltou à televisão nos anos 2000 ao canal Cartoon Network, dessa vez deixando de lado a saga clássica (a que havia sido exibida na Manchete) e começou a exibição a partir de sua segunda temporada, Sailor Moon R. Em seguida, vieram as continuações Sailor Moon S, Sailor Moon Super S e Sailor Moon Stars. Foram alguns anos ocupando o horário das 16 horas no Cartoon junto com outros animes como Sakura, Kaleido Star, Corrector Yui e outros. A série não chegou a ser um sucesso intocável no canal, mas novamente a exibição de vários animes na época e os fãs fiéis da série ajudaram ao Cartoon exibirem ela na integra.
Nos mesmos anos 2000, Sailor Moon voltou a TV aberta, dessa vez na Rede Record que buscava uma “companhia” para seu sucesso Pokémon na época. E Sailor Moon falhou. Muito. Mesmo com campanhas pesadas em eventos, com a Eliana como garota propaganda e até música dedicada, Sailor Moon foi um fiasco de exibição na Record e não durou muito na programação do canal. Era usado hora ou outro para tampar algum buraco nas manhãs do canal, revezando com os Action Comics do Thor e outros desenhos bizarros da emissora.
A série R ainda foi jogada em DVD em nosso mercado, com volumes com 3 episódios cada, mas que eram difíceis de encontrar, com uma qualidade precária e que não saíram de 3 volumes em uma época que estava na moda jogar animes em revistas de bancas de jornal.
Sailor Moon marcou pelo seu saudosismo, pelo carisma das personagens (principalmente da Serena, que sempre manteve seu jeito “inocente” durante toda a série), pela boa dublagem (principalmente na versão da Gota Mágica da Manchete, que marcou tanto quanto a dublagem de Yu Yu da época) e apesar de alguns deslizes encontrados pelos fãs, cumpriu seu papel.
Alguns fãs, não se contentaram, e resolveram tentar tirar esse saudosismo do baú e trazer a série de volta para o Brasil. Como já disse no começo do post, o SOS Sailor Moon em um trabalho elogiável foi o “grande responsável” pelo anúncio do retorno da série ao Brasil em 2010, mesmo ano em que a Toei resolveu “reviver” a série no mundo.
A licensiadora Angelotti, responsável por séries como Dragon Ball, Cavaleiros e recentemente Bleach, cedeu os direitos do anime para a desconhecida (porque pouco conhecida é um elogio) e que me passa pouca segurança empresa CD&DVD Factory. Além disso, a empresa do senhor Márcio S. Reginnette (que cedeu entrevistas ao pessoal do ANMTV, JBox e do Mais de Oito Mil) será responsável pela distribuição somente da fase S do anime. Isso mesmo, somente a terceira temporada da série. Aparentemente, uma decisão da Toei, mas enfim.
A questão é: qual o fôlego de Sailor Moon em nosso mercado? Realmente o nosso mercado é favorável para o lançamento de uma série dessa forma? Até que ponto a Toei foi realmente a responsável pelo lançamento somente da fase S aqui?
Primeiro quero dizer alguns detalhes sobre o diretor da empresa em questão. Ao ler as duas entrevistas cedidas pelo rapaz, mesmo a do Mais de Oito Mil sendo mais “cômica”, tive a impressão de que ele realmente sabe se desviar muito bem das perguntas que lhes são feitas. Alguns vão dizer que foram todas respostas “objetivas”, mas vamos concordar que na verdade ele não falou muita coisa que os sites da vida não fossem divulgar cedo ou tarde.
Muita falação, poucas atitudes. A empresa pretende lançar no primeiro instante DVDs avulsos, e depois começar a veicular os boxes e edições especiais. Mas um momento: não disseram que o produto seria destinado especialmente aos fãs formados da série? Então para que esses DVDs avulsos no começo? Não disseram que o forte da empresa juntamente com a Angelotti traçaria uma estratégia boa para o mercado? Até agora não me pareceu isso. Ou agora o público alvo mudou e eles vão tentar alcançar pessoas que não tem nem ao menos a série sendo exibida na TV?
O nosso mercado de home vídeo é complicado, temos um público distinto e que apesar dos comentários “Vou comprar!” sabemos que não é assim. A PlayArte e a Focus são exemplos (negativos ou positivos, dependendo do ponto de vista) disso. A primeira, com dezenas de DVD’s de Cavaleiros e Yu Yu, que por conta do péssimo planejamento, não se encontram mais em boxes, somente a versão avulsa. Além de encalhes como Kamen Rider Cavaleiro Dragão e o péssimo DVD lançado de Dragon Ball em 2010. A segunda, com o fiasco de qualidade nos DVDs finais de Fullmetal, nos tokusatsus e não esqueçamos das séries canceladas como Super Campeões, Hunter x Hunter e outros. Agora vão me dizer que essas séries não possuem são fandom formado também?
Entro as vezes até em pensamento se houve algum mínimo esforço das empresas para realmente querer lançar as fases anteriores por aqui. Lançar a partir de uma terceira temporada é no mínimo estranho, e só os cegos de amor pela série não conseguem ver isso.
Agora vamos analisar: DVDs comprados avulsos, sem uma certeza de que a série vai terminar realmente, traumas de outros animes no Brasil, preços absurdos… Quantos fatores as empresas precisam ver antes de soltar algo em nosso país? Ou ela realmente acha que os otakus ou consumidores brasileiros tenham o mesmo costume dos americanos de colecionar boxes de séries originais? Basta ver em eventos de anime pelo Brasil afora, onde enquanto a stand da PlayArte está as moscas, as lojinhas da vida dão risada a toa vendendo rios de DVDs com séries fansubadas.
Sinceramente, não me venham com o papo de “temos que comprar para ajudar a divulgação do produto no Brasil” porque não acontece dessa forma. Chegamos a um patamar de mercado onde as próprias empresas de home video perderam o cartaz no lançamentos de animes. Porque elas não aprendem com uma Warner Home Video que lança DVDs de séries americanas com preços justos e alta qualidade? Ou melhor: porque não dão satisfação clara e simples para seus consumidores?
Como disse no começo da matéria, gosto de Sailor Moon, e quem vai comprar a série (que estava prevista para março, foi adiada para abril e agora deve ir para maio, mostrando um planejamento perfeito da empresa) espero que fique contente com o produto. Eu vou passar. Não quero correr mais um risco de ter um anime incompleto na minha coleção apenas para encher os cofres de terceiros. Prefiro me fazer valer da praticidade atual de importar e adquirir boxes de qualidade superior e completos fora do país. Enquanto aqui você gasta 50 reais em um box com 13 episódios, lá fora você adquire uma série de 26 episódios por menos de 50 dólares com direito a box, brindes e extras nos DVDs.
Nesse barco todo, me resta ser justo e parabenizar mais uma vez a equipe do SOS Sailor Moon. Se os DVDs vierem com extras e com uma redublagem bem dirigida, podem ter certeza que haverá o dedo desse pessoal lá. Também acho válida a iniciativa de um evento para o lançamento dos DVDs, mas não sei se esse é o tipo de marketing que Sailor Moon precisa nesse momento. E não adianta falarem do relançamento mundial da marca que vem dando certo pois em primeiro lugar, não vivo lá fora para saber, e em segundo, enquanto o Brasil lança DVDs da terceira temporada, Portugal adquire todos os 200 episódios para serem exibidos novamente. Pequena diferença na balança não?
Está na hora dos fãs de Serena e companhia se conscientizarem que nem só de felicidade vive o consumidor. Ele deve criticar, levantar dúvidas e fazer valer seu direito e não só aceitar o que lhe é imposto de boca fechada, gastando seu dinheiro ou de seus pais sem uma garantia de retorno.
Estranho mesmo é comentar de tudo isso justo no Dia do Consumidor…