Primeiras impressões: Nichijou, A-Channel e [C]

Mas já aviso que o nome desse post poderia ser facilmente: “Como se decepcionar com séries superestimadas?”

O mal do superestimar. Acho que é isso que mais define alguns dos animes dessa temporada (e de outras também, porque não?). Nós que acompanhamos diariamente as notícias sobre os animes e ficamos sabendo de anúncios e lançamentos de algumas séries antes do público “casual” (aquele que geralmente pega um completo para assistir em um fim de semana vago) temos uma certa mania de criar uma expectativa muito maior sobre determinadas séries. São discussões em fóruns, previews, trailers, sites relacionados, pesquisas e referências à estúdios, dubladores, adaptações. O problema é: e quando esses animes não correspondem às nossas expectativas? Qual a reação do público ao ver que sua aguardada série não conseguiu atingir o que de fato era esperado dela?

Entra em cheque a grande questão: Qual o verdadeiro problema? As séries? As nossas pretensões? Ou as duas coisas juntas? Bem, vamos conhecer um pouco das séries que resolvi utilizar de 3 lançamentos para exemplificar esse post.

Nichijou

Nessa temporada eu particularmente tive alguns problemas assim. Talvez o principal tenha sido com Nichijou. Vi trailers, pesquisei fontes na internet, vi a equipe de produção e realmente me empolguei. Vi nele a tentativa de resgatar o humor que não via em um anime desde Azumanga Daioh. E não foi bem essa a recepção que acabou chegando a mim.

Nichijou é baseado em um mangá de Arawi Keiichi, atualmente com 5 volumes e publicado na revista Shonen Ace. Na verdade, não espere uma história linear em Nichijou. Na verdade, não espere nada de Nichijou! Desligue o cérebro, ele é feito pra isso. Assim como seus irmãos do gênero, o anime é composto de diversas situações “soltas”, que são entendidas (ou não) como atitudes do cotidiano de algumas garotas. No caso, a história possui vários focos em diversos personagens, desde estudantes de um colégio, até uma robô que quer se tornar humana. Plágio da novela da Globo, claro.

Vou ser bem direto: não consegui soltar uma risada durante todo o primeiro episódio. Senti as piadas totalmente fora de sentido, sem contexto, jogadas ao telespectador como se eu estivesse te contando uma piada de livrinho de banca de jornal. O pior é ver que tais piadas realmente não me surtiram efeito. Mas aí começa uma das minhas considerações: será que os animes que tenho como base desse gênero (Azumanga e Lucky Star) me fizeram achar Nichijou apenas “mais do mesmo”? Ou será que realmente a fórmula certa foi executada da maneira errada?

Eu senti muito a segunda opção, mas não nego que a primeira também tenha sua parcela de “culpa”. A ótima animação da série (excelente OP, por sinal), os PVs e a imagem de “protagonistas atrapalhadas” acabaram sendo apenas uma forma de buscar em Nichijou aqueles animes non-senses que fazem falta nos dias de hoje. Isso me fez superestima-lo. Mas ao mesmo tempo, afirmo ao dizer que o anime não é engraçado. A desconstrução da série chega a ser confusa (descontrução confusa… olha o nível), as personagens tentam ser impostas como “ícones”, lançar novos “memes”, mas tudo que conseguem para mim é serem comparadas com séries antigas e se enterrarem na mesmice, na falta de carisma e na falha tentativa de conquistar o público.

Posso estar sendo duro com a série e até pretendo dar uma chance para os próximos episódios, mas sem esperar demais. Não é algo que recomendaria. Fique com os bons e velhos Daioh e Star, ou veja algo como Mitsudomoe.

A-Channel

Quem viu A-Channel desde seu anúncio sendo comparado como o “novo Lucky Star”? No final, acabei assistindo e até agora estou procurando a tal semelhança com a série ou os pontos que foram colocados em cheque para isso.

A-Channel por sua vez não segue os mesmos caminhos de Nichijou. A história é mais uma do dia-a-dia de quatro garotas simpáticas (ou não) que encaram a simples vida de estudantes comuns. E é esse o foco do anime: a simplicidade. Sua principal atração não é o humor (que é presente na série, mas de uma forma mais leve) e sim a relação entre as garotas. A história também não parece que contará com “início, meio e fim”, mas ao menos possui uma linearidade aparente.

Não consigo encarar esse anime como uma série de comédia, e talvez esse seja o motivo para a reclamação de alguns sobre ela. Também não vejo nele algo como “o novo K-On” porque ainda lhe falta muito carisma para chegar lá.

Nesse caso, realmente o pior inimigo de A-Channel foram as comparações, porque a série não se compara com nenhuma outra! A série é calma (até demais, quase me fez dormir), tem seus personagens próprios (clichês, mas próprios) e as situações cotidianas conseguem ao mesmo tempo ser entrelaçadas em um enredo simples e efetivo: a união das garotas. E me taque a cabeça na parede quem disser que por esse motivo o anime é uma “cópia” de seus antecessores Lucky Star ou K-On. Formações com “quatro” garotas não são de hoje, muito menos surgiram com os exemplos anteriores e é nisso que quero entrar: não adianta utilizar aquilo que você conhece como padrão para comparações. Alguém pode te surpreender dizendo que seu anime favorito também é “cópia” de outro.

A animação em alguns momentos me causou uma sensação estranha, os traços as vezes parecem tortos e mal desenhados, mas no geral ela não é ruim. As vezes utiliza de alguns cenários em 3D, mas nada em especial e nem compromete.

A-Channel vale? Sinceramente não sei. Mas de uma coisa tenho certeza: ela não é o “novo” nada. Se a série não vingar será por seus próprios erros e não por tentar imitar ou ser como outras. Para isso precisaríamos entrar na discussão da tal da saturação do gênero (não só desse, e sim de vários outros) e parar pra pensar se realmente ainda teremos algo diferente nesse quesito, que consiga nos surpreender e nos empolgar como tantas outras já fizeram. Por enquanto, A-Channel é mais do mesmo e cai no próprio “ponto fraco” de tentar reconstruir aquilo que já não tem mais para onde correr na industria da animação.

[C]

Me atire a primeira pedra aquele que não esperava desse anime o maior “hype” da temporada. Claro que haverão divergências, mas na minha opinião todo comentário, as expectativas e as discussões em torno de um tema interessante fez parecer de [C] algo que pelo seu primeiro episódio não confere.

[C] é um caso especial. A história gira em torno do jovem Kimimaro, um garoto que diferente da grande maioria dos outros jovens tem uma grande vontade de se consagrar financeiramente na vida e conseguir viver de maneira estável em uma sociedade corrompida pelo poder do dinheiro e a influência exercida por ele na vida das pessoas. Nesse contexto somos inseridos no mundo paralelo conhecido como “Distrito Financeiro”, um local surreal onde são feitas apostas através de cartões em busca de dinheiro em troca de um valioso item: a vida. Kimimaro agora será atraído para esse mundo e terá que conviver com o peso das apostas. Será que ele resistirá as tentações?

Agora queria dar destaque para uma palavra que escrevi ali atrás: surreal. Essa foi a imagem que o anime me passou, de algo fantasioso (demais) com elementos “coloridos” a la Tim Burton e uma trama um tanto quanto “mágica”. Isso torna [C] ruim? Não, não o torna. O que o torna “ruim” na visão de alguns é a forma como imaginaram que seria a ambientação do anime: algo “real” e humano, onde o foco fosse a corrupção da sociedade e um jogo inteligente para burlar esse sistema. Algo no estilo de Kaiji, talvez mas sem os personagens narigudos.

[C] decepcionou justamente por esse motivo de direcionar as coisas para um lado que ninguém imaginaria que seria levado: um anime “de poderes especiais” (ou como diria meu amigo, um “Shounen de lutinhas”) e com o famigerado “card battle”, embora eu acredite que a trama com os cards vá se tornar mais complexa do que aparenta. Ou pelo menos espero.

Apesar disso, gostei de [C], mas algo que realmente me incomodou foi sua animação. Os personagens parecem mal desenhados, o character design largado, o uso do 3D em alguns momentos inconvenientes ou mal colocado (algumas passagens de cenário ficaram extremamente confusas). Aparentemente na visão do “Distrito Financeiro’, o anime tenta reforçar ainda mais essa idéia de surrealismo com esses cenários pesados e com uma animação que chega a se diferenciar bastante da outra parte ambientada no mundo real.

Mas como disse anteriormente, no geral gostei da estréia. [C] possui bons personagens a serem trabalhados (a personalidade do protagonista será um grande mistério daqui pra frente com suas escolhas) além de acreditar muito no potencial da série graças a presença de pessoas envolvidas em Baccano! e Durarara no meio da direção. E olha eu cometendo o mesmo erro de esperar demais dinovo…

Observações gerais

Quero deixar claro que tudo aqui reflete da minha opinião, e garanto que muitos irão concordar, como muitos irão discordar. Busquem outras opiniões como a dos meus amigos do Gyabbo!, do NETOIN! ou do Subete Animes, por exemplo. Cada um possui um ponto de vista diferente para cada coisa e garanto que tal diferença será notável nos primeiros minutos de leitura.

Realmente acho que esperar demais de algumas séries pode ser prejudicial para o andamento da mesma. Com excessão de Nichijou que eu realmente não gostei, outros animes sofreram muito desse mal pelo que pude perceber. Muitos se decepcionam e acabam analisando a série friamente, com base daquilo que lhe foi passado inicialmente (a chamada “Primeira impressão é a que fica”) e se recusa a olhar para o material que tem em mãos por si só. E isso não é de hoje. Superestimei Yumekui Merry na temporada passada, assim como foi com Gosick e tantos outros animes que já se foram.

A questão é: comparar é ruim? Não! Claro que não! Em qualquer que seja o contexto, utilizar um material de qualidade como ponto de referência é extremamente válido. A única coisa que deve-se existir é a noção de que nem sempre a comparação deve ser usada como parâmetro, pois nessa idéia acabamos colocando junto (inconscientemente, ou não) o chamado “lado emotivo”. Nada que seja “errado” também, mas que só comprova cada vez mais que o mercado saturou e está saturando ou que a mente do telespectador anda trabalhando rápida demais. Ou os dois. O que se destaca, é lucro.

A solução que encontro? Selecione melhor suas séries, espere as primeiras opiniões de pessoas que têm um ponto de vista semelhante com o seu e depois tire suas próprias conclusões. Não deixe uma série passar batida, assim como não deixe a “parte técnica” ou a “semelhança com outra” te indicar tudo que você deve ver ou não. Adquira seus próprios critérios e conceitos e a partir daí as decepções podem ser menores com o passar do tempo. (Ou não…)

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.