Um protagonista que vai fazer você tampar os tímpanos.
Depois de muita espera finalmente chegaram às bancas do Brasil pela editora Panini o aguardado sucesso de Deadman Wonderland. Publicado desde 2007 na revista Shonen Ace e com o término no volume 13 no ano de 2013, o mangá é de autoria de uma dupla já conhecida do público brasileiro: Jinsei Kataoka nos roteiros e Kazuma Kondou nos desenhos, a mesma dupla do mangá Eureka Seven, já publicado aqui no Brasil também.
Porém, mesmo com o mangá sendo um sucesso na internet através dos scanlators, muitos nunca realmente se interessaram pelo título e não sabem bem do que se trata. Impulsionado por um anime de 2011 que divide opiniões (os que gostam de muito sangue jorrando e os que preferem uma boa história), Deadman Wonderland chega com credenciais ao país tentando provar que ação, drama, psicológico e uma trama bem elaborada podem fazer parte de um mesmo título. Mas será que isso realmente é possível?
A história
Deadman Wonderland conta a história de um garoto comum chamado Ganta Igarashi. Estudante de 14 anos como qualquer outro e morador de uma cidade de Nagano futurista, Ganta está prestes a visitar sua terra natal, Tóquio, em uma excursão da escola junto com seus amigos. Porém ele não parece tão empolgado assim, contando apenas com a presença de seus amigos para se animar. A viajem os levará para um parque de diversões chamado Deadman Wonderland, que é um pouco diferente dos parques que conhecemos por aí. Lá prisioneiros são os funcionários e trabalham para diminuir suas penas e sentenças.
O que Ganta não contava é que um acontecimento fatídico fosse acontecer e um estranho ser vestido de vermelho fosse aparecer flutuando no andar de sua sala de aula. Em questão de instantes, o “Homem de Vermelho” faz um massacre horrível e mata todos os alunos da sala… menos Ganta, que recebe uma estranha pedra implantada em seu peito sem deixar cicatrizes. Por ser o único sobrevivente, Ganta acaba sendo acusado do assassinato de seus amigos e condenado à pena de morte à ser cumprida onde nossa história começou: na Deadman Wonderland.
Lá dentro, o garoto percebe que nem tudo era o que realmente parecia, e ele terá que lutar pela sua sobrevivência. Isso mesmo, lutar. Mesmo com a pena de morte, Ganta poderá sobreviver à menos que mantenha sua “coleira” alimentada por um “Candy”, espécie de doce que lhe dá o direito de continuar vivendo antes dos 3 dias, tempo limite para a explosão do equipamento e da sua cabeça junto.
Mas ele não estará sozinho. Dentro da prisão ele encontra a estranha garota de cabelos brancos Shiro, que diz ser sua amiga e começa a proteger o garoto em diversas situações. Além disso, Ganta perceberá que a pedra que o Homem de Vermelho havia colocado em seu peito era muito mais do que um simples “golpe”, lhe dando poderes estrondosos que deverão ser dominados com o tempo. Ele agora terá que se tornar parte do circo dos horrores da Deadman Wonderland e se arriscar em desafios e lutas perigosas que ele jamais imaginaria para poder conseguir os candys e manter-se vivo. De quebra, tentar provar sua inocência com um diretor penitenciário louco no seu pé. Vida fácil a do garoto, não?
Considerações Técnicas
Sejamos rápidos sobre a versão da Panini: eficiente. Acabamento comum da editora, capas iguais às originais, um logotipo mais bonito que o americano e uma tradução mais uma vez bem feita pela Drik Sada. O que vejo alguns questionando por aí é a tal da adaptação da editora. O vocabulário de Deadman Wonderland muitas vezes é recheado de gírias e palavrões à torto e direita, próprio do mangá. A Panini deu uma maneirada em muitos pontos em relação a isso, mas isso não fez com que a série ficasse descaracterizada. Os personagens continuam dando a entender seus modos grosseiros ou “coitadinhos” perfeitamente. Meus amigos, que tipo de mídia hoje não “suaviza” expressões nas adaptações? É algo totalmente comum.
Pode-se reclamar? Claro, a vontade. Mas não acho que tenha comprometido o mangá. Não houveram expressões inventadas como na JBC e quem acompanha Black Lagoon ou MPD Psycho pela editora sabem que ela não tem problemas em adaptar títulos “fortes”. Na minha avaliação, foi coerente e não comprometeu. Também vale dizer que no final do volume existem alguns extras como tirinhas e curiosidades da prisão da história, uma espécie de roteiro. Além da capa interna colorida que é sempre o grande charme da editora.
Agora quanto a história. Deadman Wonderland é um mangá muito bom! Muito “hypado”, mas mesmo assim muito bom! Para quem já leu o mangá na internet sabe que esse primeiro volume foi apenas uma introdução à história e como o diretor da prisão diz no final do volume “Bem vindo à verdadeira Deadman Wonderland” que chegará a partir do volume 2.
O roteiro que parece um mix de Battle Royalle com Elfen Lied é muito bem amarrado, e a dupla de autores tem a chance de mostrar suas habilidades que ficaram reprimidas na adaptação do mangá de Eureka Seven. Os desenhos são claros e ajudam a entender perfeitamente as situações, além de personagens que à todo instante conseguem demonstrar todo o sentimento da cena que se encontram. E tudo isso sem apelar para o fanservice pornográfico, o que já conta muitos pontos comigo.
Aliás, os personagens são o grande charme desse mangá. Esqueça o anime se você o viu! Ganta não é aquele garotinho irritante e chorão durante a série inteira. No mangá é possível ver claramente o crescimento do personagem em relação à situação que ele se encontra. Não há como julgar um garoto de 14 anos de “chato” sendo que ele está preso em um verdadeiro circo dos horrores com um bando de lunáticos dispostos à matar todo mundo. Se alguém encontrar um garoto de 14 anos que agiria normalmente nessa situação, CORRA! Mas ele vai aos poucos se adaptando à situação e percebendo que deve usar seu poder para dar a volta em toda essa situação. É algo muito nítido com o passar do tempo.
Da mesma forma que os personagens ao redor dele também vão se revelando ótimos no quesito “psicológico”. Shiro é uma garota totalmente misteriosa e que não dá pra dizer muito sem estragar a história. Da mesma forma que o “amigo” Yo também tem todo um pano de fundo para cobrir suas atitudes mesquinhas e interesseiras com Ganta. Como disse antes, os autores sabem explorar muito bem todo o lado “humano” dos personagens. Lembrando sempre que eles estão dentro de uma prisão, prestes à serem mortos e todos movidos por algum motivo. Não é um “vou lutar pra salvar a Terra porque sou legal”. É um “eu preciso sobreviver e isso aqui não é brincadeira”.
Comentários gerais
Não espere por personagens carismáticos em Deadman Wonderland. Pelo contrário. Em alguns momentos a série pode apresentar situações que te fará ter pena, raiva e compaixão de alguns personagens. E isso é um grande ponto positivo do mangá. Deadman Wonderland tenta passar para seu leitor todo o sofrimento dos prisioneiros de uma forma fria, regada a violência e com cenas para quem tem estômago. Não é um mangá para todos. É forte e usa desse artifício para prender os leitores.
Se você não se incomodar com isso, vá em frente. Deadman não é a última bolacha do pacote e como é um mangá em andamento pode queimar nossa língua à qualquer momento. Mas garanto que diversão você terá por muito tempo. Como falei, esqueça o anime e veja o mangá como uma nova série. Existem outros personagens, outras situações, todas servindo de complemento para o ótimo roteiro da série que se estende até hoje. Leitura recomendada para os fãs de um bom shounen “que lembra um seinen”. Existe sim muito “hype” da série, como já falei. Mas desde quando isso é motivo para não ler algo? O que faz sucesso também pode ser bom.
E vocês? Prontos para fazerem uma visita ao circo dos horrores?
por Dih