Review – Bleach: O fim de um anime escrito na história durante 8 anos

Uma homenagem com 366 episódios de atraso.

Estreava no dia 5 de outubro de 2004, um dos animes que viriam a ser o maior sucesso dos últimos tempos. Talvez não em números de ibope, talvez não em vendas, mas provavelmente na legião de fãs que foram atraídos por aquela série de um garoto que podia ver fantasmas, lutar contra eles, e tudo com espadas, poderes sobrenaturais. Era demais! Hoje, dia 27 de março de 2012, Bleach chega ao seu fim na televisão. Talvez não seja um fim definitivo, mas não podemos afirmar com certeza se essa história terminou aqui sua escrita. O mangá continua – mesmo com sua saga final anunciada pelo autor – e não duvidaria se posteriormente tivéssemos o anúncio de um OAD ou até mesmo de uma nova série de Ichigo e cia.

Enquanto isso, a saudade vai bater. Uma saudade de um anime que muitos acompanharam semanalmente durante 8 longos anos e que teve personagens que marcaram uns e outros. Independente da história, esse sempre foi o grande ponto chave de Bleach: personagens que cativaram seu público. Talvez um defeito e uma qualidade ao mesmo tempo, por que não? Mas pelo menos todo mundo vai lembrar das expressões “nulas” de Ichigo, dos estridentes “Kurosaki-kuuuuun!” da Inoue, do chapéu listrado de Urahara ou dos olhos apertados de Gin.

Bleach marcou uma época, e negar isso é besteira, haterismo puro. Cumpriu sua missão e será lembrado durante muito tempo. Construiu uma história duradoura e um anime que dificilmente envelhecerá durante os próximos 5, talvez 10 anos. São poucas as séries da Shonen Jump que conseguem alcançar essa marca de episódios nos dias de hoje, e isso é louvável.

Essa é apenas uma pequena homenagem de um redator que um dia já foi muito mais fã de Bleach, mas que não esquece dos bons e divertidos momentos com a série. Sem comparações com One Piece, com Naruto, com Reborn ou o que quer que seja. Hoje é o dia de Bleach. Ou pelo menos de seu anime (sim, nada do que for dito aqui terá relação com o mangá que continua em publicação no Japão e é lançado no Brasil pela editora Panini).

A história

Kurosaki Ichigo é um garoto totalmente diferente das pessoas de sua idade. E não é pelo fato de ver fantasmas, e sim pelo seu cabelo ser laranja. Por esse motivo, Ichigo é visto por muitos como um garoto “rebelde”, quando na verdade ele é um filho comum (com um pai estranho) que toma conta de suas irmãs e ainda tem que conviver com seu destino de ver os tais fantasmas. Mas isso é o de menos perto de seu cabelo, claro.

Um dia sua vida muda radicalmente quando uma garota aparece e se apresenta como Kuchiki Rukia, uma Shinigami vinda do outro mundo conhecido como Soul Society, uma espécie de “mundo dos espíritos”. De cara, Ichigo não acredita muito na história da garota mesmo tendo-a levado para seu quarto (danadinho) mas acaba se rendendo a tudo que ouve quando um monstro enorme ataca ele e a garota. Ela acaba ficando muito fraca e por esse motivo ele terá que cumprir o papel que seria da detetive espiritual Botan: ele se torna um shinigami substituto, e com o poder de uma zampakutou (uma espada gigante) ele terá que ajudar a menina até ela recuperar os seus poderes.

Ajudar com o que? Bem fácil: só derrotar os monstros gigantes conhecidos como Hollows quando eles invadirem a Terra. Tudo até que começa a parecer fácil, até que o outro mundo começa a marcar presença na vida de Ichigo. Agora com os poderes de Shinigami e com a ajuda de vários amigos com poderes sobrenaturais, Ichigo terá que lutar por sua pele, pela de seus entes queridos, amigos e principalmente pelo mundo dos humanos. Será que ele dá conta do recado?

Considerações Técnicas

Vamos deixar claro novamente antes de mais nada: Estamos falando do anime. Esqueçam o mangá nesse post. Aliás, estou tendo o cuidado de não mencionar spoilers por aqui, para a segurança daqueles que lerem esse post daqui alguns anos ou meses procurando saber o que é Bleach. Como disse anteriormente, Bleach marcou uma geração. As pessoas sempre viam nele um anime com elementos que fazem muitos se apegarem a história: porrada, poderes, personagens agradáveis e é isso aí. A verdade é que eu guardo um carinho especial por Bleach e não preciso esconder isso. O anime sempre atendeu as minhas expectativas em relação a lutas e a uma animação totalmente cativante. As cenas de ação da série são ótimas, a trilha sonora é um mix de eletrônico com hip-hop e alternando com BGM’s “básicas”.

Digo sempre que em maior parte dos momentos o anime de Bleach é muito superior ao próprio mangá, conseguindo passar com muito mais clareza as sensações e agilidades das cenas que hora se tornam cansativas nas páginas em preto e branco. Um dos trabalhos mais memoráveis do estúdio Pierrot entregue nas mãos do diretor Noriyuki Abe, que por acaso foi o mesmo de uma série bem “semelhante” anos antes: Yu Yu Hakusho – isso sem falar em Flame of Recca e Great Teacher Onizuka, todos com uma temática “bad boy”. Abe soube conduzir com maestria todos os 366 episódios da série, e isso não há o que se discutir.

E sim, estou incluindo aqui os fillers cansativos, mas com começo, meio e fim de Bleach. Fillers que podem ser descartáveis em uma possível futura “coletânea” da série, mas que sempre mantiveram o aspecto do anime em sua essência. Mesmo ocupando praticamente metade do anime e sendo alvo de xingamentos por parte dos fãs, não podemos dizer que esses episódios foram simplesmente “largados” pelo estúdio. O canon (filler escrito pelo próprio autor Tite Kubo) sobre as zampakutous possui uma das melhores animações de toda a série, com a responsabilidade de ter fatos relevantes para a história.

Mas independente disso, Bleach possui furos na história. Furos que foram se tornando mais constantes com o fim do arco da Soul Society e no começo da saga Aizen, e escancarados no fim da mesma. Soul Society é o ponto alto de Bleach e acho que ninguém se atreve a dizer o contrário. Ali a história possui uma dinâmica muito melhor, e não é a toa que até hoje os personagens dessa fase são os mais queridos entre o fandom, como Hitsugaya, Gin, Kenpachi e o próprio Aizen. Ali Bleach construiu sua identidade em batalhas épicas como Kenpachi e Byakuya.

A saga de Hueco Mundo ainda conseguiu manter o mesmo clima da Soul Society, mas sem a mesma empolgação. Mais uma vez os personagens foram os responsáveis por manter o público e os arrancares e espadas conseguiram continuar com a mesma carga carismática, mesmo com o empurrãozinho dos shinigamis em sua história. Aizen se firmou como um dois maiores e melhores vilões da história (mesmo com um “final” tão bobo) e é em Hueco Mundo que temos um dos melhores flashbacks que já vi: o famoso “Turn Back The Pendulum”, onde são mostrados os passados de diversos arrancares e capitães.

Veio a saga do Fullbrings e é ali que vimos a queda de qualidade na história da série. Personagens tentando simular outros de sucesso e até mesmo a famigerada comparação com a saga Sensui de Yu Yu Hakusho. Ginjou e Tsukishima não convenceram e apesar dos apesares, os fãs concordam que foi o mais fraco dos arcos de Bleach – tanto que foi a partir dele a queda vertiginosa da popularidade de Bleach pelo mundo.

Porém, apesar de Bleach passar longe de ser genial, ele é o que se propõe a ser: divertido, e nesse aspecto não há o que se negar. As lutas do anime são empolgantes e em alguns episódios a animação se destaca entre muitos animes que temos por aí. Além disso, os episódios de “dias normais” de Bleach sempre acabam tendo situações engraçadas e cômicas, auxiliadas pelas ótimas expressões dos personagens. O anime é impecável ao mostrar esse lado “moleque” da série, que a todo instante oferece um produto de entretenimento puro para seus telespectadores.

Auxiliados por trilhas de cantores como UVERworld, Yui, Orange Range e Asian Kung-Fu Generation, o anime de Bleach possui uma das melhores composições se pensarmos para séries com mais de 200 episódios. Um mix excelente de animação, som, direção e desenvolvimento, fazendo muitas vezes o próprio Tite Kubo sentir um pouco de inveja, provavelmente. Um índice de aproveitamento estupidamente alto para uma série tão longa e semanal.

Foram-se 8 anos que com certeza servirão de exemplo para as futuras gerações de animações que tentarem chegar a essa marca. Em quanto tempo a Shonen Jump conseguirá colocar na mídia um anime assim novamente? Seja Ishida e seu sangue Quincy, Inoue e seus dotes saltitantes, Chad e suas partes do corpo mexicanas do demônio, Rukia e seu jeito explosivo ou Ichigo com seus momentos de protagonista irritante. Não importa como, de alguma forma esses personagens estarão marcados para todos que acompanharam esse anime, talvez de uma forma diferente do mangá, afinal a cada semana você sentirá falta daquela música de abertura, daquela voz de um dublador. Bleach se despediu da TV de cabeça erguida, essa é a verdade.

Comentários Finais

Bleach acabou. Deixou para trás 366 episódios, 3 especiais da Jump Festa e 4 filmes lançado para os cinemas. O mangá continua e talvez o anime retorne um dia, assim como acontece com InuYasha e Gintama por exemplo. Mas fica até aqui a sensação de “missão cumprida”. O anime de Bleach serviu durante como muitos anos como principal produto da série pelo mundo – e uma pena ter sido recusado na TV aberta e recebido um trabalho tão “porco” por parte do nosso falido Animax. Como o título da postagem diz, foram quase 8 anos de estrada, mesmo com seus tropeços na história e com os fillers irritantes.

Um fato é que o dinamismo do anime de Bleach é satisfatório, empolga, e isso o fez alcançar a fama nos dias de hoje. Muitos fãs da série estão espalhados pelo mundo, alguns ainda achando que o “fim” é só um boato que se espalhou. Mas não, Bleach acabou. E escreveu sua história nesse pequeno mundo dos animes, queiram alguns ou não.

Em uma época em que ser “mainstream” e “infinito” é um “crime”, Bleach é uma série recomendada para os fãs de um bom shounen de ação – contanto que você tenha muito tempo para isso. Passe reto pelos fillers, ou pelo menos por sua maioria. São desnecessários e você com certeza não sentirá falta de nada por lá. Mesmo terminando sem um “final”, seu caminho lógico será abandonar a história no anime ou correr para o mangá. Quase certeza que se você for fã do gênero, optará pela segunda opção, mesmo que sinta muita diferença nessa “transição”.

Digo e reafirmo: o anime de Bleach é melhor que sua série em quadrinhos. Não sou hater, muito pelo contrário. Por esse motivo posso criticar sem me sentir culpado. A série é um ótimo entretenimento e é vendida como tal. Não tente assistir procurando Códigos Da Vinci ou buscando “brigas” com outros fandoms por quem é melhor ou pior. Isso é desnecessário. Quer lutas, boa animação e personagens que com certeza você irá guardar de alguma forma? Não perca tempo e dê uma chance para a série.

Não adianta ser hipócrita e agora tentar falar que vi o que nunca aconteceu em Bleach. Dizer que Bleach tem uma história profunda, psicológica e densa? Que besteira. Um anime pra mim não precisa ser assim. Não vejo a mesma necessidade de ter em um anime o que eu quero no mangá, muito pelo contrário. Ainda vejo em alguns animes uma forma muito mais maleável de entretenimento, para um público muto mais abrangente, diferente da leitura de um quadrinho.

Mas independente disso, prefiro comentar aqui como fã dos momentos engraçados e divertidos que esse anime me fez passar. Fará falta, mas será lembrado, e não há como negar. Até logo, Bleach. Obrigado por esses 8 anos de companhia. “Te vemos” algum dia desses.

por Dih

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.