Review – A fantasia assustadora de Hollow Fields

O que esperar de um mangá australiano?

Meu contato com Hollow Fields deve-se à minha namorada, que achou as capas bonitinhas e ficou curiosa para ler (espero não morrer depois disso xD). Depois de ela tanto falar bem, e mudar totalmente a minha ideia sobre a história, eu realmente fiquei curioso para ler. Pela capa, pelos traços, temos a impressão de ser uma história bem infantil, o que está relativamente certo em partes, mas enganam-se os que acreditam ser apenas isso, pois contém um conteúdo deveras sombrio.

Primeiramente, devo dizer que, apesar de ser considerado um mangá, Hollow Fields é uma série de três volumes, escrito e desenhado pela australiana formada em Belas Artes, Madeleine Rosca (acreditem, minha força de vontade para não fazer piadas esteve por um triz), entre os anos de 2007 e 2009, e lançado originalmente pela editora estadunidense Seven Seas. Até aqui beleza, mas o que faz essa história, lançada num país sem nenhuma tradição em mangás, ser publicado aqui, e ainda mais como sendo um legítimo mangá? A resposta é que os próprios japoneses reconheceram o valor da obra, e o Ministério do Exterior Japonês concedeu o prêmio Shorei de Excelência (dado para os melhores mangás não-japoneses ao redor do mundo [também não tinha ideia de que isso existia]). Agora, a história é boa? Confiram abaixo e tirem suas próprias conclusões! 😛

A História

Lucy Neve Snow é uma garotinha comum, que chega ao vilarejo de Nullsivlle, ansiosa por seu primeiro dia de aula, no Colégio Feminino Saint Galbat. Como não conhece o local, pede instruções de como chegar à escola, e acaba escolhendo o caminho mais curto, porém mais perigoso, que passava por uma floresta, ignorando o alerta de que não deveria ir por lá. Obviamente, ela se perde no caminho, e seu único companheiro é seu dinossauro de pelúcia, porém acaba encontrando um caminho e chega no que acredita ser sua escola, mas logo acaba percebendo que o local se assemelhava mais a um hospital, ainda que estivesse deserto.

Entreanto, Lucy é atacada por um robô, que dizia que “invasores deviam ser removidos a força”. Durante sua fuga do robô assassino, a garota acaba dizendo a palavra “escola”, e o robô acredita que Lucy é uma estudante nova de Hollow Fields (sim, é uma escola). O robô, que se apresenta como Senhorita Notch, diz para a menina que há um quarto à sua espera, além de um jantar quentinho, por isso, apesar de não estar matriculada ali, Lucy acaba aceitando, pensando que depois disso daria um meio de sair de lá. Ao adentrar na parte interior de Hollow Fields, Lucy depara-se com um monte de engrenagens e alta tecnologia, mas percebe que os outros alunos estavam cochichando a sua volta, o que acaba esquecendo ao adentrar o que seria seu quarto: um ambiente amplo, com seu próprio banheiro e livros para estudos, além de receber a notícia: não teria que pagar nada por aquilo tudo. Sabendo disso, a garota assina o contrato de Hollow Fields, e decide permanecer por ali.

Logo depois, em seu jantar, Lucy acaba percebendo que os alunos de lá são pouco receptivos, e demora a encontrar uma mesa onde se sentar, mas acaba conseguindo, numa onde só havia um garoto, chamado Simon. Então, a diretora (Senhora Weaver) aparece na mesa dos professores, e faz um anúncio, que os outros estudantes de Hollow Fields já sabem: era sexta feira, e toda sexta feira, o estudante com a menor nota era mandado para a detenção. Até ai, nenhum problema, mas, enquanto Simon ia explicar para Lucy o porquê do pânico que todos sentiam, a diretora chama o nome do próprio Simon para ir à detenção. O garoto tenta fugir a todo custo, mas é capturado, e grita para Lucy antes de ser levado: todos que foram para a detenção, nunca mais voltaram.

A garota fica horrorizada com o que ocorreu, e tenta fugir após o jantar, mas a Senhorita Notch aparece em sua frente, e lhe diz que o contrato assinado por Lucy dizia que ela não poderia sair da escola até sua formatura, no final do ano seguinte, e que por isso mesmo ela deveria prestar e ler tudo antes de assinar qualquer coisa. Resignada, a menina volta para seu quarto, e decide então se dedicar às aulas, até que percebe o tipo de matéria que teria: construção de robôs assassinos, transplante interespécies, roubo de túmulos. Então entende que aquela era uma escola onde os cientistas famosos do submundo mandavam seus próprios filhos para dedicarem-se à mesma ciência obscura a qual se dedicavam, a fim de torna-los também gênios do mal. Em meio a isso, Lucy Snow não vê outra saída que não seja tentar dar o melhor de si nas aulas para tentar manter-se viva e sem ser mandada para a detenção, o que aparentemente resultaria na mesma coisa.

Considerações Técnicas

Esse mangá me mostrou que nem sempre traços bonitinhos podem trazer uma história infantil. Em minha opinião, a autora trabalhou muito bem essa ideia, de dar um clima sombrio, sem tornar seu traço sujo, ou mais sombrio, com a maioria dos mangakas desse gênero costumam fazer. Acredito que grande parte do que me fez gostar da série foi justamente esse casamento entre “terror” e “comédia”, pois é possível encontrarmos situações de uma e de outra, bem como de ambas numa mesma página. Tudo isso se mistura na imagem do steampunk que Madeleine Rosca consegue introduzir no mangá sem o fazer parecer uma história pesada e necessariamente pitoresca. Apesar da fórmula steampunk estar sendo bastante utilizada por N tipo de séries ultimamente, Hollow Fields consegue transmitir isso de forma extremamente bonita, sem perder toda a magia da obra.

O local onde se passa a história, o desenho dos cenários é um espetáculo à parte, pois mostram como seria uma escola (ou uma cidade até, devido às proporções grandiosas de Hollow Fields), para não dizer um mundo, onde o aperfeiçoamento tecnológico chegou a tal ponto que tudo acaba sendo controlado por engrenagens. E a própria autora parece ter se divertido muito enquanto criava este mundo, pois além de mostrar esboços de como foram suas criações nas páginas finais do mangá, ainda criou cômodos que não aparecem na história, como os quartos e salas de alguns dos professores, e detalhou o que havia no lugar.

Quanto ao desenvolvimento do enredo, não tenho o que criticar, pois a autora aparenta ter desenvolvido a história no ritmo em que queria, e, apesar de serem apenas três volumes, não deixou pontas soltas. É claramente perceptível um “começo, meio e fim”, que corresponde a cada um dos três volumes do mangá, mostrando o desenvolvimento da personagem principal enquanto se aprofundava na história, o que tornou a narrativa muito gostosa de acompanhar.

Comentários Gerais

Hollow Fields me foi uma grata surpresa. Apesar de ter sido reconhecido seu mérito pelos próprios japoneses, é diferente de você mesmo ler, ver que é bom e gostar. Essa atmosfera sombria, aliada ao bom humor, foi muito impressionante, pois são dois gêneros que poucas vezes vi assim reunidos numa única história, é algo que raramente dá um bom resultado.

Desde o início, quando Lucy percebe onde está, o que a escola a aguarda, passando por seus medos, até sua vontade de se superar e tentar escapar do lugar passam muitos sentimentos, e acredito que a autora conseguiu com maestria passar o sentimento dos personagens.

É interessante também pensar: será que não existe alguma escola do mesmo formato em algum lugar do mundo? Num planeta tão deturpado em que vivemos, no qual muitas vezes os valores são trocados, não creio que seja impossível. Claro que acho que uma escola onde se aprendesse uma ciência avançada, que fosse utilizada para o bem, e não para fins obscuros, assim como no mangá, seria muito interessante, além de bem vinda, mas não para mim, que gosto da área de humanas.

Recomendo a todos a leitura de Hollow Fields, que é uma história cativante, e acredito que isso em muito se deve ao fato de a autora conseguir aliar a ficção científica, com uma boa dosagem de terror, e sem esquecer a comédia, o que deu um toque diferenciado e surpreendente bom à história.

por César 

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