Chega ao fim um dos candidatos a melhor anime do ano.
No final de 2011, havia escrito um texto sobre a reação das pessoas contra aquilo que chamamos de “modinha”. Mal sabia naquele texto que enfrentaríamos alguns outros surtos como Sword Art Online, Magi, Kuroko no Basket e nesse ano, Shingeki no Kyojin. A série que conta a batalha do ser humano contra os titãs acabou se tornando o anime mais comentado do ano e quiçá dos últimos como um todo. No dia 28 de setembro de 2013 chegou ao fim os 25 episódios de Shingeki no Kyojin e assim, concluiu-se a primeira temporada da série. Primeira temporada pois uma segunda deve ser questão de “tempo” (muito tempo, no caso) já que comercialmente não há como dizer que o anime não foi um sucesso. Mas afinal, como foi a adaptação de Shingeki no Kyojin?
A história
Shingeki no Kyojin (Atack on Titan / Ataque dos Titãs) gira em torno de uma humanidade que vem sendo exterminada por gigantes ao decorrer dos anos e vive confinada atrás de “muralhas” capazes de conter seus ataques. Ao menos é o que eles pensam. Divididos em exércitos, alguns seres humanos estão dispostos a mudar história e formar um exército de ataque aos seres assassinos. Descobrir a verdade sobre sua origem e tentar acabar de vez com o perigo que cerca a humanidade. É assim que entra Eren, nosso protagonista, que após ver sua mãe ser devorada por um gigante decide que não deixará nenhum deles vivo e buscará sua vingança completa. Ao lado da garota Mikasa, de seu amigo Armin e de diversos outros jovens garotos que se “aventuram” nesse mundo, Eren descobrirá que o segredo dos titãs é maior do que qualquer coisa que o homem já viu antes.
Considerações Técnicas
Criado por Isayama Hajime no ano de 2009, Shingeki no Kyojin é um mangá de publicação mensal na Bessatsu Shounen Magazine que conta atualmente com 11 volumes encadernados. O título é muito conhecido por ter sido rejeitado na famosa Shounen Jump e se mudado para uma das suas “concorrentes” e se destacado no mercado. Em abril de 2013 a adaptação animada começou pelas mãos do Wit Studio, um dos braços do Production I.G. A direção da série ficou a cargo de Tetsuro Araki (Death Note) e roteiros de Yasuko Kobayashi (Casshern Sins), a adaptação de Shingeki no Kyojin já cheirava a sucesso desde as linhas de produção.
O fato é que Shingeki no Kyojin sofreu do grande problema da falta de verba. Ao assistir a série é possível notar a grande preocupação com as cenas de ação e a enorme quantidade de quadros estáticos, sendo banhado por cenas em que o narrador comentava algo acompanhado de uma imagem “parada” que durava segundos ao som de efeitos sonoros (cavalgadas que o digam). Todo o investimento no começo parecia focado nas cenas em que os equipamentos do exército era utilizado. E deu certo. O grande atrativo da série era conseguir manter-se empolgante quando necessário e “cortar as despesas” quando possível. Por isso não é difícil dizer que o sucesso do anime se deve principalmente pela boa direção do mesmo. Nos episódios finais, quando se fez necessário e o dinheiro havia “entrado” no projeto, vimos dois episódios conclusivos (24 e 25) realmente bem animados, nos deixando na esperança de uma segunda temporada com uma qualidade maior.
Mas deixando um pouco o quesito de produção de lado, falemos da história em si.
Há algum tempo havia dito que, de longe, Shingeki no Kyojin tinha em 2013 o seu grande ano de destaque. Mangá, anime, games, cinema. Tudo parecia ao seu favor. E apesar de muitos não concordarem, é fato que a história do anime, seus personagens e desenvolvimento foram armas necessárias para conquistar boa parte do público que fez dos Titãs um sucesso. Não é a toa que hoje você vê pessoas de todas as faixas etárias desfrutando do anime como visto com poucos. Provavelmente porque a série tem esse poder de abranger desde os sonhos de ver um anime de “batalha” por uma criança, pela sede de “sangue” dos adolescentes, ou pela busca de algo com uma boa dose de suspense e tensão pelos adultos.
Não é de hoje que franquias que envolvam a sobrevivência do ser humano em uma batalha contra uma raça desconhecida faça sucesso. Aliens, deuses, monstros, animais mutantes. O cinema é cheio de coisas do gênero. O mérito de Shingeki no Kyojin foi ter trabalhado esse assunto com um “protagonista” não tão utilizados assim em nossa história, os Titãs. E claro que o auxílio da mídia audiovisual foi indispensável para chegar a esse tipo de resultado – não à toa sendo a responsável pela ascensão dos quadrinhos. A intensidade que o anime de Shingeki no Kyojin consegue transmitir é o diferencial para prender o telespectador em seus episódios. Somados aos grandes cliffhangers que cada capítulo era finalizado, tivemos um anime que simulou os grandes blockbusters dos cinemas na linguagem dos desenhos animados orientais. O que acontece quando a humanidade tem um grande e desconhecido inimigo para enfrentar? E a melhor parte: O que acontece quando você possui, de fato, uma arma para combater esse inimigo? Será que a razão ainda toma conta de sua mente? O que você faria se tivesse que abandonar sua humanidade e se tornar “um monstro”?
“Grandes poderes exigem grandes responsabilidades.”
Óbvio que os personagens esteriótipos de animes estão presentes aqui também. Eren, o protagonista que quer vencer os inimigos mas que tem seus momentos de chatice. Mikasa, a garota apaixonada pelo amigo de infância e que possui um instinto assassino quando o assunto é protegê-lo. Armin, aquele que ninguém dá a mínima mas que possui uma inteligência acima do comum. Levi, o baddass que todo mundo gosta porque é legal. Ou mesmo Jean, o personagem que só quer sair do meio de tudo aquilo mas que cada vez mais se vê envolvido no caos. Nomes como Marina Inoue, Yuuki Kaji, Hiroshi Kamiya e Daisuke Ono foram essenciais para uma caracterização exata de tudo aquilo que imaginávamos antes de termos a versão animada dos personagens.
Se prestarmos atenção com cuidado, Shingeki no Kyojin é apenas mais um battle shounen do bem contra o mal. E esse não é problema nenhum, uma vez que o autor parece saber perfeitamente como envolver isso com a temática escolhida, além de explorar os sentimentos humanos como o medo, a tristeza, o amor. O anime colabora ainda mais com essas sensações quando temos uma trilha sonora afiada de Hiroyuki Sawano (Guilty Crown, Gundam UNICORN) que simplesmente explora ao máximo as cenas em que essas explosões de sentimentos ou a tensão da batalha são os destaques. Isso sem falar no character design de Kyojin Asano (PSYCHO-PASS) que melhora em 500% o traço original do mangá e que melhora em muito a experiência da série animada em relação a sua versão em papel.
É fácil dizer também que Shingeki no Kyojin possui uma das melhores adaptações de mangás recentes pelo fato de saber costurar bem todos os capítulos, tendo em mente o ponto exato para encerrar um episódio ou para fazer uma revelação no timing certo. As diferenças das duas versões até aqui são mínimas, mas com escolhas que não interferem em nada na história e que conseguiram atrair os fãs que nunca tiveram o contato com o original e também os que já a conheciam – algo que não é das mais fáceis missões.
Pra finalizar, como não comentar as aberturas sensacionais do grupo Linked Horizon e a direção dos mesmos? E apesar do grande “boom” causado pela primeira abertura e todas as suas paródias espalhadas pela internet, é a segunda – ‘Jiyuu no Tsubasa’ – que possui uma direção de Masashi Ishihama (responsável por algumas aberturas de Bleach) ainda mais afiada e contextualizada com o anime (e uma pequena dose de spoiler, se pararmos para pensar). Os encerramentos também fazem sua parte e dão um charme a parte para a animação.
Comentários Gerais
Como dito no começo do texto, Shingeki é um dos candidatos a melhor anime do ano. Provavelmente no quesito popular ele já se enquadre nessa classificação.
Não, Shingeki no Kyojin não é nada espetacular, de outro mundo ou fora de série. Mas é um blockbuster pronto para ser consumido na mídia animada por um abrangente público. Para quem busca um battle shounen diferente, mas que não foge de suas “origens”, provavelmente temos aqui um anime pronto para você. Apesar da primeira temporada terminar inconclusiva e com um gancho pronto para a segunda temporada daqui um ano e meio ou dois (sim, tudo isso), é o tipo de coisa que você não se arrepende por não ter “continuação” (por enquanto, pelo menos). Pelo contrário, só te dá ainda mais vontade de partir para a mídia original e superar o asco pelos garranchos do autor. Se você ainda vai assistir a série, recomendo os posts semanais do Elfen Lied Brasil e as discussões nos comentários do mesmo.
Se você não for exigente, não notará os problemas técnicos de animação na série e a falta de verba na mesma. Se divertirá e terá realmente uma boa série de 25 episódios em suas mãos. O anime cobre aproximadamente até o capítulo 33 do mangá (volume 8 do mangá). Se você quiser ler a partir desse ponto como ressaltado por alguns, é recomendável que leia o capítulo 32 antes. Também vale a pena começar desde o 1 para avaliar as pequenas modificações do anime em relação ao mangá. Lembrando que o mangá será lançado pela editora Panini em novembro no Brasil sob o título de “Ataque dos Titãs”.
(Quem sabe os Titãs não sejam uma ameaça tão grande assim quando você enfrentar o traço do autor?)