Review – Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário (2014)

lenda do santuárioNão dá pra ficar pior? Olha que dá.

Cavaleiros do Zodíaco é uma das grandes séries que muitos brasileiros da minha geração guardam com carinho até hoje, e também um dos grandes responsáveis pela popularização de animes e mangás no nosso país. Tirando o fator nostalgia, todos sabemos a quantidade absurda de defeitos, seja em roteiro ou em arte, e toda as limitações que o seu criador, Masami Kurumada, possui.  Chega a ser engraçado perceber que as coisas realmente boas vindo da mitologia dos cavaleiros não são escritas por ele e sim por pessoas realmente competentes, como é o caso de Cavaleiros do Zodíaco Episódio G e Lost Canvas.

Aproveitando a empolgação com a bilheteria do filme de Dragon Ball Z em 2013, foi anunciado que o novo filme de Cavaleiros iria também passar nos cinemas brasileiros e os trailers até pareciam interessantes, muito mais por ser uma animação em 3D.  Por causa de problemas com tempo, seja por causa do trabalho ou da faculdade, acabei não podendo ir ao cinema assistir e só fui ver esses dias em casa com o lançamento no Netflix. Mas então, esse filme presta? É mais uma história de qualidade diferente do roteiro original?

Lenda do Santuário (3)A HISTÓRIA

Em uma remota era mitológica, existiam os defensores de Atena. Quando as forças do mal ameaçavam o mundo, estes guerreiros da esperança sempre apareciam. Atualmente, após um longo período de guerra, Saori Kido, preocupada devido aos misteriosos poderes que possuía, foi inesperadamente atacada e salva por quatro cavaleiros de bronze. Desde então, Saori, que começou a entender e descobrir seu destino como a reencarnação de Atena, junto com Seiya e seus companheiros, decidiram se dirigir ao Santuário. Porém ali, eles precisarão atravessar as 12 casas e enfrentar cada um dos 12 cavaleiros de Ouro e se confrontar com o terrível Mestre do Santuário.

Lenda do Santuário (6)CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário foi lançado nos cinemas nacionais no dia 11 de Setembro de 2014, menos de 3 meses depois de sua estreia no Japão, e contou com a maioria dos dubladores originais que nós aprendemos a amar. Com a direção de Keiichi Satou (Tiger & Bunny) e roteiro de Tomohiro Suzuki e história original de Masami Kurumada, o filme não se saiu tão bem em bilheteria, estreou mal no Japão e aqui no Brasil não fez tanto sucesso quanto se esperava, tanto que sua bilheteria foi apenas o 5° em sua estreia no Japão e no Brasil ele não conseguiu tirar o filme do Hércules da liderança. É claro que todos já sabem que no Japão a franquia não é tão importante quanto foi para o público de alguns países no exterior, mas mesmo assim o que teve tão de errado no filme?

Primeiro gostaria de comentar a única coisa boa desse filme antes das reclamações. Toda a parte do visual desse filme é impressionante e de saltar os olhos em alguns momentos. Um trabalho realmente incrível da Toei com esse visual 3D. As cenas de ação estão realmente incríveis com o uso de um slow motion muito interessante, mostrando a “velocidade da luz” que alguns cavaleiros de ouro atingiam. Eles também reimaginaram o visual da maioria dos cavaleiros, alguns estão piores, como o pobre Miro, que por algum motivo virou uma mulher nesse universo, e alguns ficaram realmente melhores em relação a aqueles rabiscos do Kurumada, como por exemplo todos os cavaleiros de bronze que estão diferentes do original. Achei que ficaram excelentes. As armaduras em sua maioria estão mais detalhadas e modificadas, uma adição que gostei bastante foi o fato do capacete se fechar durante as batalhas, assim o rosto finalmente não ficaria desprotegido contra os ataques.

Lenda do Santuário (2)Só que todo esse visual não vale de nada se o roteiro estiver bem ruim e…  Nossa, eles se esforçaram dessa vez, porque não é possível que não tenha sido de propósito. Todo mundo que é fã ou que conhece um pouco sobre cavaleiros sabia que condensar todo o inicio até a saga das 12 casas seria uma tarefa quase impossível de se fazer, afinal de contas eram 73 episódios de 20 minutos para serem colocados em 90 minutos de filme.  As adaptações e cortes foram de péssima escolha; cenas, lutas, desenvolvimento de personagens e explicações importantes para o mínimo de conhecimento de alguém que nunca tinha assistido um episódio do anime original. Você pode até argumentar comigo que era um filme para fãs e não para um novo público, mas retruco dizendo que provavelmente nenhum fã da obra pode ter conseguido gostar do que fizeram. As OSTs clássicas não estão presentes e mal consigo me lembrar se mesmo a Pegasus Fantasy foi usada – tudo por problemas com direitos autorais.

O filme é um espécie de remake, então temos uma série de reimaginações na trama e nos personagens, que em sua maioria foram bem modificados em personalidade. Começando com os cavaleiros de bronze, temos um Seiya que consegue ser mais irritante que o original, cheio de energia e piadinhas bobas, um Shiryu que virou muito mais um alivio cômico que um personagem de verdade, o Shun que perdeu toda aquela personalidade sobre odiar lutas e sempre tentar evitá-las, um Hyoga que passa totalmente em branco e um Ikki que tem, mais ou menos, um minuto de tela, que dá um esporro absurdo no irmão e apanha como criança na única luta válida em que ele participa. Os cavaleiros de ouro mal são desenvolvidos e os que são, estão todos estragados, como maior exemplo o Máscara da Morte, que de um vilão demoníaco que colecionava as cabeças dos seus inimigos passou a ser uma das coisas mais vergonhosas que eu já assisti, cantando, dançando, dando gritinhos e fazendo explosões a cada frase de efeito. O Afrodite de Peixes é um coitado, que aparece durante 10 segundos e morre da maneira mais patética de todos os tempos.

Lenda do Santuário (15)Já na parte dos diálogos (que já não era essas coisas no original) temos algumas conversas totalmente sem sentido, redundantes e as vezes até mesmo mal escritas. Já no começo podemos ouvir uma das famosas repetições de frases de Saint Seiya.
– Você é um cavaleiro???
– Sim sou o cavaleiro de pégaso, meu nome é Seiya!
– Ele é um cavaleiro???”

Ou uma conversa ótima entre o Hyoga e o Shun.
– Shun, o Ikki não entrou entrou em contato com você?
– Ah ainda não, mas eu sinto que ele está aqui.
– Então tá bom.

…e a cena acaba assim!  Todas as conversas pareciam ser apressadas, as resoluções acontecem por acontecer (temos que ir pro santuário porque sim) e algumas coisas não são nem ao menos explicadas como o sétimo sentido. O Aldebaran mostra o básico, mas depois disso nem ao menos parece que eles conseguiram atingi-lo.

Lenda do Santuário (17)As lutas foram refeitas, e algumas de extrema importância para alguns personagens nem ao menos acontecem, como Shaka vs Ikki, Aioria vs Seiya, Shiryu vs Shura e Shun vs Afrodite. E outras foram modificadas a ponto de perderem toda a emoção que tinha por trás, como a do Hyoga vs Kamus, em que no anime era uma das mais emocionantes, mas no filme parece jogada e quase sem nenhum background.  A batalha final é um show de horrores, chegando ao ponto de termos um Saga chefão de Final Fantasy, com uma transformação em monstro gigante, contra um Seiya usando a armadura de sagitário que o deixou parecido com um centauro, sendo que ela não tinha essa aparência quando o Aioros usava. Qualquer fã de cavaleiros se revoltaria com a luta entre o Shiryu e Máscara da Morte, inclusive a cada gritinho que o cavaleiro de ouro dava.

O roteiro é péssimo. Comparando em história com Lost Canvas, onde podemos ver todo o respeito do autor a obra original, nesse filme parece que o roteirista olhou o mangá, deu um lida por cima, só tirando a ideia base que eram garotos mais fracos vencendo supostas pessoas mais fortes. Temos um flashback no início mostrando que o Seiya e a Saori já se conheciam e que nunca mais é citado ou mencionado. A relação entre alguns personagens é só citada por citar, como o Shiryu dizendo que foi treinado por um cavaleiro de ouro… e nada mais é desenvolvido nem ao menos com o Hyoga. A ida da Saori para o santuário é estranha, a flecha dourada some e toda a questão deles correrem contra o tempo não parece mais tão relevante.  O filme acaba mais ou menos fechado e provavelmente não deve haver uma continuação. Ou assim espero.

Lenda do Santuário (19)COMENTÁRIOS FINAIS

Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário erra em todos os aspectos possíveis em questões de roteiro, com personagens descaracterizados e sem personalidade, lutas fracas e que duram pouco tempo, diálogos péssimos, adaptações questionáveis e resoluções para problemas rasas. Não dá para entender direito o que o diretor queria ao fazer esse filme, porque ele só ofende os fãs da obra original e deixa confuso quem não era. Imagino essas pessoas saindo do cinema e pensando se era realmente dessa porcaria que tantas pessoas falavam sobre. É um desperdício ver esse roteiro com uma animação tão linda e impressionante. Eu imagino esse pessoal que trabalhou no filme fazendo toda a parte visual dos 3 filmes de Berserk Golden Age, aí sim eu conseguiria ter vontade de voltar a assisti-lo.

Lenda do Santuário (20)Ainda assim é um tanto animador ver que ainda está saindo filmes de animes aqui no Brasil, apesar de terem sido apenas dos mais populares, gostaria de poder ter visto os filmes de Evangelion (menos o terceiro) em um poltrona e comendo uma bela pipoca. É esperar para ver se mais iniciativas assim acontecerão e se terão resultado.

Luk

Eu juro que gosto de animes, apesar de todo o meu haterismo.