Durante o Anime Friends de 2015, em um dia que podemos chamar de #Fateday, a editora NewPOP anunciou a light novel de Fate/Zero. O livro é derivado da famosa franquia de jogos, animes e colecionáveis de Fate/Stay Night.
A light novel é de autoria de Gen Urobuchi com ilustrações de Takashi Takeuchi, tendo sido publicado originalmente em 4 volumes de forma independente para lojas de doujinshi em 2006. A publicação de forma oficial através de uma editora ocorreu apenas após o lançamento do anime em 2011 e 2012, sendo revisada e reorganizada em 6 volumes. Até o lançamento do anime o autor tinha o desejo de que a história de Zero chegasse apenas naqueles que realmente conheciam a franquia, mas com a popularização da saga muito mais pessoas queriam ter acesso ao material original, chegando agora ao Brasil.
A HISTÓRIA
Fate/Zero contra a história da Quarta Guerra do Santo Graal – o quarto duelo supremo travado entre sete grandes magos que invocam seus Espíritos Heroicos para disputar um artefato de poder inimaginável, capaz de realizar qualquer desejo do vencedor. A guerra acontece a cada 60 anos e já teve sua conclusão adiada por três vezes. A cidade Fuyuki recebe os setes magos para mais uma vez decidir quem obterá o cálice onipotente. O cálice foi criado originalmente pelas famílias Eizbern, Tohsaka e Matoh (antiga Makiri) séculos atrás, mas durante as três guerras anteriores não chegou a uma conclusão. Com o objetivo de conseguirem o cálice, cada qual com seus próprios objetivos, as famílias fundadoras, os demais magos participantes e até mesmo a Igreja, que tem o papel de supervisão da guerra, se lançam dos mais diversos estratagemas e alianças para alcançarem o sucesso da batalha. A guerra começou!
Cronologicamente essa história se passa antes de Fate/Stay Night, material lançado no formato mangá pela editora Panini. Mas não se preocupe: conferir Zero antes de Stay Night é quase como conferir a segunda trilogia de Star Wars antes da antiga, ou seja, a forma cronológica da história, mas não a de lançamento. Você também pode acompanhar ambos simultaneamente, já que as histórias se ligam em diversos pontos e revelam acontecimentos da outra com relativa frequência.
Fate/Zero começa com um prólogo de 8 anos antes do início das batalhas da quarta guerra, mas mesmo tanto tempo antes já se relaciona com Stay Night ao apresentar o nascimento de Illyasviel von Einzbern, filha de Irisviel von Eiznbern e Kiritsugu Emiya, que viria a ser o pai adotativo de Shirou Emiya, protagonista de Stay Night. Parece até maluquice pensar que em Stay Night Illyasviel já tem 18 anos dada a sua aparência, mas como sua mãe era uma homúnculo dos Eiznbern seu amadurecimento é diferente, nem se sabe se ela chegará a ser adulta algum dia. Devido ao nascimento de Illyasviel, Kiritsugu está em uma batalha interna pois, como uma assassino de mago, não sabe se conseguirá destruir qualquer um que ameaçar a paz dos outros e manter o amor que encontrou ao se aliar aos Einzbern para obter o cálice.
As maquinações da guerra não estão apenas na casa dos Eiznbern, pois nesse período que antecede a guerra o padre Kirei Kotomine recebe as chagas dos Feitiços de Comando, marcas que lhe permitem participar da guerra invocando um servo. Como filho de Risei Kotomine, o supervisor da Igreja para a guerra, ele fica em uma posição que entraria em conflito com a associação de magos, mas acaba recebendo a ajuda de Tokiomi Tohsaka, o poderoso patriarca da família Tohsaka e pai de Rin Tohsaka, que o recebe como seu discípulo. Tokiomi também é um dos magos participantes da guerra e viu nessa aliança com um participante da Igreja uma oportunidade para ter vantagem na disputa.
A casa dos Matoh também participa da guerra, mas encontra-se em um grave crise, pois os herdeiros de Zouken Matoh não estão aptos para participarem da guerra e uma das famílias fundadoras acabaria ficando apenas como vigia da disputa. Zouken é forçando a procurar os Tohsaka para fazer valer um antigo acordo de ceder uma criança para a adoção dos Matoh, no caso Sakura Tohsaka, irmã de Rin, passou a ser conhecida como Sakura Matoh para que no futuro gere uma criança com grande poder mágico para a família. Indignado com tal atitude por forçar uma criança Kariya Matoh, o filho de Zouken que havia abandonado a família, decide passar pelo tratamento dos “Vermes Marcados”, que forçariam seu poder mágico deixando-o apto para ser o participante dos Matoh da guerra, com o objetivo de acabar com essa loucura.
Saindo das famílias fundadoras e da Igreja somos apresentados a mais uma face dos participantes da guerra, que são os participantes externos, oriundos da Associação dos Magos da Torre do Relógio, que inicialmente teria a participação de Kayneth El-Melloi Archibald, o herdeiro da família Archibald e um poderoso mago e instrutor da associação. Porém, o jovem Wever Velvet em busca de reconhecimento descobre a história do cálice e acaba por furtar o item que o Lorde Archibald usaria para invocar seu servo e parte para Fuyuki para ser um dos participantes. Além dos dois magos um terceiro participante externo, o psicopata Ryunosuke Iryu, acaba entrando na guerra, por acaso do destino ou um capricho do cálice, e invocando um poderoso servo.
Os servos não tem grande foco no primeiro volume. Lorde Archibald aparece pouco, seu servo, o Lancer, sequer é apresentado. A invocação da classe Berserker pelos Matoh nos ensina que é possível moldar o feitiço para escolher a classe do servo para compensar a falta de poder do mestre. O Assassin, servo de Kirei e único participante de todas as guerras do cálice até ali, é melhor explorado no material original, pois seus poderes e as motivações são melhores apresentados. Caster é pouco explorado, mas a sua aparição e o tipo de mestre que possui já é de se esperar que muita coisa ruim virá dessa dupla.
A tríade de reis, Saber, Archer e Rider, é a que melhor apresenta o ritual de invocação dos servos, de uma forma até mesmo didática e que mostra as diferenças dos seus mestres. A invocação de Saber pelos Einzbern é dotado de um ar nobre e puro na terra gelada da família. Tokiomi invoca Archer de uma maneira que mistura mistérios medievais com o luxo da nobreza ao utilizar suas poderosas joias. Já Wever invoca o carismático Rider de uma maneira primitiva e até inacreditável para o jovem mago. É na invocação deles e do Berserker que se pode contar como o início da guerra.
Grande parte do primeiro volume é criar o alicerce para as batalhas que virão, mas o grande ponto é que Gen Urobuchi traz todas as dores e pensamentos dos personagens, fazendo deles muitos reais, palpáveis e verídicos. As disputas de poderes, as alianças políticas e os desejos dos personagens só fazem com que se crie empatia e afeição a eles de um modo que sempre se quer saber o que irá ocorrer. Te prende e te segura na leitura de uma forma muito forte.
Muito interessante é o posfácio do autor que fala muito das motivações de não ter feito uma publicação de grande circulação, pois na livraria a capa de um livro pode vender muito bem, mas ele queria que aqueles que conhecessem mesmo o universo de Fate tivessem acesso ao material, que revelou ter as próprias pernas. Quem também percebeu isso foi a autora de Fate/Stay Night, Kinoko Nasu, ao ver onde a obra estava chegando.
A publicação de Fate/Zero vem em uma boa hora para a franquia no país. No mesmo dia em que a NewPOP anunciou a light novel a Panini havia anunciado o mangá de Fate/Stay Night. No primeiro momento foi uma notícia estranha e de certo receio, pois são obras de uma mesma franquia saindo por editoras diferentes. Foi aí que um sinal de maturidade e bom diálogo aconteceu: as duas editoras conversaram para entrar em acordo da melhor forma para adaptar vários termos recorrentes nos títulos da franquia acontecesse. É claro que acontecem diferença, como a guera ser referenciada na light novel como “do Santo Graal” e no mangá como “do Cálice Sagrado”, mas como a primeira está mais ligada a questão tradicional da guerra, um termo mais ligado à Igreja está em melhor sintonia.
A tradução do material está de um nível muito bom. Esse cuidado e refinamento entre as editoras contribui para isso mesmo que não seja o mesmo tradutor nos dois materiais. Um termo que poderia muito bem ser traduzido é o “Noble Phantasm”, Hougu no original, que fica nesse estrangeirismo desnecessário, a tradução para “Fantasma Nobre” não ficaria ruim. Uma pena é não poder dizer o mesmo para a revisão da NewPOP que melhorou muito em relação a outros materiais da mesma, mas ainda apresenta problemas. Em alguns momentos de conjugação verbal, preposições e plurais, em outros parecem haver espaços duplos e erros de aplicação de itálico, sobretudo na classe dos servos. O pior erro mesmo é a falha de revisão do nome de Illyasviel, que aparece mais vezes com letras trocadas do que na grafia correta.
As características físicas do material são muito semelhantes aos das light novels de No Game No Life, o formato pocket (10,6 x 14,8 cm) é prático para carregar e o papel avena deixa a leitura muito confortável, sem cansar os olhos. Não sou um grande fã do formato, o de Number Six (12,8 x 18,7 cm) é mais confortável e talvez poderia ficar mais vistoso e com um pouco mais de arejamento, não que seja um fator que afaste a leitura, tem sido prático carregar o livro para sempre dar uma relida. A capa é um forte atrativo, para quem conhece a figura da Saber a atenção é imediata, mas também chama quem não conhece o título, uma pena é ser um título que não vai para as bancas.
Fate/Zero contribui muito para o já grande universo de Fate ao explicar como muita coisa surgiu. Não entra em todos os intricados problemas das guerras passadas, nem mesmo a questão de supervisão da igreja vai muito a fundo. Com o sucesso retumbante que é o universo de Fate não seria surpresa se um dia a TYPE-MOON decidisse por explorar o passado, seja na forma de jogos, mangás, livros, animes etc.
O fato de estar sendo lançado com o mangá de Fate/Stay Night no país, e o cuidado que as duas editoras tiveram, é importante para que se crie e aumente as bases de fãs da franquia. É uma obra curta, o número de páginas dos volumes é bem variável, mas que deve levar quase todo o período de lançamento do mangá para ser publicada.
Para quem já acompanha o universo de Fate é uma leitura obrigatória, por melhor que tenha sido o anime é na light novel que tudo se originou. Quem já acompanhou outras obras de Gen Urobuchi, como os animes de Adnoah. Zero, Mahou Shoujo Madoka Magika e Psycho Pass, a novel de Black Lagoon e a série de tokusatsu Kamen Rider Gaim é um convite que leia Fate/Zero, foi aqui que Urobuchi começou a moldar seu peculiar estilo narrativo.
A NewPOP tem sido a editora que mais tem se arriscado em trazer light novels ao país, algumas fechadas, como Fate/Zero, já outras em aberto, como No Game No Life. A importância da publicação de Fate/Zero é marcar a importância da editora em inovar e trazer materiais diferentes para o mercado. Fate/Zero é o ponto de origem da franquia de Fate, mas para o mercado nacional é um dos marcos para o crescente mercado de light novels, que os caminhos traçados pela Guerra do Santo Graal sejam o prelúdio para uma guerra por mais light novels.
FICHA TÉCNICA
Título: Fate/Zero
Autor: Gen Urobuchi
Editora: NewPOP
Total de volumes: 6 (concluído)
Periodicidade: Bimestral
Valor: R$ 24,90
Pontos Positivos
- Adaptação e padronização de termos;
- Personagens altamente carismáticos;
- Leitura agradável;
- Papel do miolo.
Pontos Negativos
- Termos que poderiam ser traduzidos e não foram;
- Revisão com problemas;
- Poucas ilustrações internas.
Nota Volume 1: ★★★★★