De longe, a melhor webcomic lida nesse ano.
Por mais irônico que soe, não sou uma pessoa que coloca o gênero romance no topo das preferências, longe disso. Raramente – beirando ao “nunca” – encontro um filme de romance que tenha interesse e, apesar de ler N títulos shoujo e josei, torço o nariz sem nenhum arrependimento quando vejo que a melosidade de uma história ultrapassa o limite do que consigo aguentar. Porém, eu tenho um ponto fraco, o tipo que me torna outra pessoa quando leio ou assisto obras o contendo, e esse ponto fraco se chama… Romances de melhores amigos! Na categoria de melhores amigos, tenho um favorito para todo o tipo de mídia, como por exemplo… Filme? Simplesmente Acontece. Drama coreano? The Time We Were Not in Love. Mangá? Hachimitsu ni Hatsukoi. E agora na divisão dos manhwas eu finalmente achei um xodó: Something About Us.
A HISTÓRIA
Apesar de estarmos próximos, há uma barreira que não pode ser atravessada. Nossa incerta relação – calorosa como as cores em tons pastel, mas que é incapaz de queimar ardentemente como as cores primárias. Do Gayoung e Han Woojin se consideram melhores amigos, mas há algo no relacionamento deles que é difícil de descrever. Os outro sempre os veem como “algo mais”, apesar de ambos sempre negarem. O que acontecerá com essa “amizade”?
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Something About Us (Our Relationship Is; 우리사이느은) é um manhwa de Lee Yun Ji que começou a ser publicado em 2014 pelo site de webcomics Lezhin – uma plataforma muito semelhante ao Line Webtoon, porém paga. Em 2015 a série ganhou sua tradução oficial em inglês também pelo Lezhin, que desta vez abria as portas para o mercado digital americano. A obra está em andamento e conta com dois volumes e cerca de novento capítulos publicados até o momento.
Sendo leitora assídua da subcategoria, posso dizer que o mais irritante é ficar torcendo o tempo todo por uma declaração porque “eles claramente se gostam”, só que nessa história em específico… não é bem assim. O personagem masculino principal, Han Woojin, não dá sinal nenhum de que ele goste de sua melhor amiga, a não ser como “sua irmã mais nova”, algo que ele diz o tempo todo na série. Essa é a parte que confunde tanto a Do Gayoung quanto o próprio leitor; não há como cobrar uma declaração partindo da heroína sendo que o pior pesadelo da mesma seria perder a amizade do primeiro e melhor amigo. Aliás, é conflitante tomar essa iniciativa quando a trama é repleta de flash backs mostrando cada passo da relação deles, desde o momento em que meramente não são davam bem até a condição atual.
Uma outra característica que consigo diferenciar facilmente de outras obras que já li é o fato da autora não restringir sua narrativa, seus pensamentos, somente para a protagonista. Mesmo sendo minoria, ela ainda inclui capítulos direcionados aos antagonistas, mostrando acontecimentos que o leitor já viu no começo da obra só que com uma visão diferente, ou ainda conta algo inédito, bem voltado para o pessoal do personagem – como acontece com a rival da Do Gayoung, Oh Yoojin, onde em certo capítulo é narrado sobre o relacionamento passado dela. O engraçado é que o leitor consegue ter uma noção ampla do que se passa na cabeça de diversos personagens, porém essa condição se torna limitada para aquele que o mesmo tem mais curiosidade: Han Woojin.
A característica que com certeza me chamou a atenção logo de primeira foi o traço da autora. Há quase dois anos explorando os quadrinhos coreanos, esse, sem dúvida, é um dos mais bonitos que já vi. Lee Yun Ji mantém um traço minimalista, simples, que fica bem evidente ao desenhar os olhos e os cabelos dos personagens – e também perceptível na protagonista, Do Gayoung -; são desenhos sem tantos detalhes ou traçados e que ao invés de deixarem a impressão de uma arte “desleixada”, acaba optendo o resultado contrário, dando um toque leve para as ilustrações. Além disso, a autora é quase uma Yamamori Mika quando se trata de roupas, sempre vestindo seus personagens com trajes dignos de idols e modelos coreanos – mesmo os personagens secundários são estilosos.
“Seria cômico, se não fosse trágico”. Essa frase define o modo como Lee Yun Ji insere os rivais em Something About Us. Fico me questionando o que pode ser considerado mais revoltante e frustrante: alguém surgir do nada e se declarar, ou ao invés disso, estar presente na vida do personagem, mesmo sem marcar tanta presença, e se confessar. Pois é justamente com essa segunda opção que a autora joga; ela prepara o terreno, conta relatos, te distrai, para no momento certo mostrar que aquilo ia acontecer mesmo que fosse de baixo de seu nariz. Me sinto em uma batalha de amor e ódio com a construção de trama que ela faz.
O que amo, de verdade, nessa webcomic é a protagonista. A Do Gayoung, ao mesmo tempo em que ela tem um melhor amigo, é como se estivesse lutando sozinha para manter tudo intacto, para que tudo dê certo para as pessoas ao seu redor, apesar disso significar sacrificar a própria felicidade. Ao contrário de protagonistas de séries do gênero, não há como pressioná-la para se declarar, como disse anteriormente. Ela tem todos os motivos do mundo para se manter na defensiva. Para piorar, a autora judia dela de n formas, desde os flashbacks do ensino médio – que não tem conexão com Han Woojin e sim com seus próprios traumas – até o momento em que ela se vê rodeada de pessoas que só querem seu mal. A autora faz uma narrativa tão incrível que o leitor realmente sente dó da Do Gayoung, eu mesma só queria poder abraçá-la, colocar no potinho e mimar com cafunés. Ela é a vítima na qual os outros enxergam como criminosa. Mas o incrível, o que faz com que me apaixone pela heroína, é que ela não abaixa a cabeça na maior das dificuldades.
Enquanto tenho uma relação de puro amor com Do Gayoung, não consigo me sentir da mesma forma com Han Woojin. Por mais que torça para que ele seja o personagem que terminará com a protagonista, é como se ele não fosse realmente o melhor amigo dela. Ele a defende quando ouve coisas vulgares sobre ela, sempre procura estar ao lado da amiga, mas é graças a ele que a Do Gayoung passa por dificuldades – o que é irônico, pois em um momento anterior ele é justamente aquele que “a salva”. Ele a faz mal na medida que a faz bem.
Talvez o único defeito de Something About Us se deva pelo fato de que no começo, a história é um pouco parada, demora até realmente aparecer algo interessante. Confesso que não foi na primeira tentativa que levei as dezenas de capítulos nas costas e sim em uma segunda, semanas após ter começado a acompanhar a obra.
COMENTÁRIOS GERAIS
Preciso destacar uma coisa: sim, eu adorei a obra, mas é justamente por ser apaixonada pelo tema; se você não gosta desse tipo de história, duvido que vá passar a gostar necessariamente por causa dessa. Apesar de tudo, acabei escrevendo algumas coisas que são diferenciadas entre os genéricos que existem por aí, talvez, na tentativa de levar mais pessoas a conhecer meu novo xodó.
O manhwa me cativou completamente. Depois da leitura ele entrou para a lista de webcomics favoritas, só perdendo para The Stories of Those Around Me – que já teve resenha no site e você pode conferir AQUI. Como se trata de uma série ainda em andamento, devo dizer que tenho receio de que a autora acabe criando conflitos desnecessários entre os personagens. Para esse tipo de história não há segredo, a proposta desta já foi entregue faz tempo, ela precisa ser cumprida antes que se torne maçante.