Não. Nem todo shoujo é igual.
Minha história com Skip Beat não é de hoje. Tenho uma irmã mais velha que fala da obra há pelo menos cinco anos. E ela é, somente, a maior fã de Skip Beat que conheço; perdi a conta de quantas vezes viu o anime ou quantas vezes releu o mangá – que até o fechamento desse post beirava os seus quase 250 capítulos! Peguei todos os “spoilers” possíveis, mas até então nunca tinha visto nada por vontade própria.
Produzido pelo estúdio Hal Film Maker (que posteriormente se converteu no estúdio TYO Animations) , em outubro de 2008, Skip Beat contou apenas com uma temporada composta de 25 episódios, com Sayama Kiyoko como diretora – coincidentemente quase o mesmo nome da protagonista. A série cobriu cerca de 11 volumes do mangá de Yoshiki Nakamura (que hoje conta com 40 encadernados) e rapidamente se tornou um sucesso. E sinceramente? Me pergunto o porquê de ter demorado tanto para começar a assistir esse anime.
A HISTÓRIA
A jovem Kyoko dedicou toda sua vida ao seu amor, Shotaro. Quando Shotaro chegou a Tóquio para estrear como cantor, ela o seguiu e trabalhou para ajudá-lo no que fosse possível. Mas um dia, Kyoko ouve Sho dizendo ao gerente que sua namorada não significa nada para ele. Ela é apenas conveniente, uma governanta. Isso deixa Kyoko furiosa, e ela promete se vingar de Shotaro. Mas o cafageste apenas ri dela, dizendo que não será capaz de tocá-lo porque ele é agora um cantor popular e ela não é ninguém.
E é então que Kyoko decide entrar no showbiz e tornar-se ainda mais popular que Shotaro para humilhá-lo. Infelizmente, ele destruiu a habilidade de Kyoko de amar, e ela descobre que este é um pré-requisito para sua estréia na empresa escolhida, LME. O presidente da LME coloca-a em uma nova seção feita para aqueles que chamaram sua atenção mas que ele havia esquecido o nome: Love Me Section. No caminho para se tornar uma atriz profissional, ela conhece novas pessoas como Kanae Kotonami, Maria Takarada, Yukihito Yashiro e a pessoa mais importante nesta história – Ren Tsuruga.
COMENTÁRIOS GERAIS
Primeiramente, as vezes acho a trama de Skip Beat madura demais quando comparada a tantos outros títulos shoujo.
Apesar de todo humor presente nos episódios, ela aborda o assunto vingança de um jeitinho peculiar: o incrível aqui é destacar o modo como a autora explora o assunto, porque a protagonista não busca uma vingança baseada em prejudicar a outra pessoa fisicamente, a questão é atingir o propósito através do esforço próprio. Com o tempo são abordados questionamentos sobre ser “certo ou não“, mas particularmente, admiro a Kyoko que a autora Yoshiki Nakamura criou, o motivo dela pode ser considerado ruim mas foi graças a ele que ela decide fazer algo por si mesma, que ela decide evoluir de alguma forma.
Kyoko Mogami é uma protagonista que no começo tinha o certificado de trouxa estampado na testa; tudo que fazia era em prol de Sho Fuwa. A típica idiota apaixonada. Para a felicidade de muitos, a minha inclusa, esse papel de trouxa não dura muito e logo ela se transforma em uma protagonista autossuficiente e decidida – e as vezes a louca que quer vingança. Tem uma personalidade bem feita, humanizado, e ver que ela sai da posição de bobinha para uma protagonista forte só faz com a trama melhore. Outra, ela ainda é a representação do humor no anime; em um momento ela está feliz e no segundo seguinte está com a aura demoníaca. Sem contar que ela tem “anjos” (?) do bem e do mau que ficam influenciando nas decisões dela, contribuindo ainda mais para as cenas de humor. Tsuruga Ren é um ator que trabalha na mesma empresa que a Kyoko, mas ao contrário dela, é experiente e famoso. O ouro da agência, por assim dizer. Apesar de ser bom em seu trabalho, o anime ainda trata de conflitos relacionados a sua carreira. E por fim, Sho… aqui, meus amigos, temos o maior idiota de todos. Narcisista, egocêntrico e o metido que trata a Kyoko como lixo. Personagem a se odiar, sim senhor.
Recentemente li um mangá shoujo chamado “Ano Ko no, Toriko.“, que também explora o universo do show business. No começo fiquei bem animada, afinal de contas, parecia que a história exploraria as dificuldades que os personagens teriam de passar para ingressar nesse mundo. Acontece que, para minha desagradável surpresa, a narrativa dava preferência para o romance e não tanto para a carreira dos protagonistas, fazendo com que eles conseguissem papéis de maneira fácil e rápida, tudo isso sem mostrar os verdadeiros processos.
Ao contrário do título que citei acima, ele dá uma ênfase muito maior para a carreira da Kyoko e para a sua ideia de vingança. A história não facilita para a garota somente por ela ser protagonista e o expectador percebe isso através do que ela precisa fazer para conseguir um simples trabalho – para se ter uma breve noção, em um dos serviços que a garota pega ela precisa se fantasiar de galinha para um show de variedades. O anime mostra o processo passo a passo: testes de audição, competição entre atores, a dificuldade de interpretar um personagem e até mesmo a questão de ter que “incorporar” o mesmo. Aqui o romance pode não estar sob os holofotes, mas também não faz falta; a todo momento há uma situação em que prende a atenção de quem assiste.
Preciso ressaltar duas coisas que são aspectos somente presentes no anime e que, mesmo básicos, me chamaram a atenção. O primeiro é o fato da trilha sonora estar sempre presente e ser marcante, se não me engano cada personagem tem uma música tema instrumental – e que contribui muito nos momentos mais “tensos”. O segundo aspecto e o melhor, é a dubladora da Kyoko, Marina Inoue. Sinceramente, não entendo de dublagem, mas sei que apesar do rosto do seiyuu não aparecer ele também precisa “atuar“, por assim dizer, e interpretar a protagonista é em um momento estar com a voz super fofinha e, segundos depois, tentar invocar a voz do demônio. Só a nota de curiosidade: ela também dá vida a voz do Armin Arlert, de Shingeki no Kyojin.
O surpreendente no anime é o modo as situações em que a protagonista se insere são imprevisíveis para o telespectador. Seja atuando ou tentando conseguir um papel, a criatividade da trama chega a outro patamar; por exemplo, em um determinado episódio a protagonista junto de uma amiga fazem um teste para conseguirem estrear em um comercial, porém um dos desafios que o diretor sugere é de que as competidoras bolem uma propaganda para o produto especificado e, daí, surgem plotwists incríveis!
Pensamentos de “como a Yoshiki Nakamura bolou tudo isso?!” são frequentes. Essa é a característica que me faz acreditar que além de sensacional, Skip Beat não é só uma série restrita para o público feminino. Ele tem o poder de entreter a todos.
Se tivesse que colocar defeito em algo, com certeza seria o traço terrível que a série tem. O anime em comparação com o mangá ainda consegue “avaliar” essa questão na parte estética, porém ainda sim é um aspecto bem notável. Mesmo quem é fã tem consciência de a arte não é o que faz a obra brilhar, mas, olha, em pleno 2017 as pessoas ainda acham que o melhor traço define a melhor história? Aham. Sono.
CONCLUINDO
Ver o anime de Skip Beat foi apenas o empurrão que me faltava para embarcar de vez nessa trama toda. Sou uma leitura assídua de shoujo e de mangá, e quando se acompanha muito de um único gênero ou demografia, começa a se tornar raro ver algo que seja original e que, ainda assim, seja interessante. A série com certeza é daquele tipo que quem está dentro do nicho deveria sentir orgulho de mostrar que entre tantos genéricos, ele é diferenciado.
Se você busca um anime com uma personagem principal forte e diferente de outros shoujo, não deixe passar. Skip Beat é o título certo para você. E, aliás, ouso a dizer que não existem pessoas que não gostam de Skip Beat; ou é mentira ou então a pessoa nunca viu o anime.