Review – Uma opinião impopular sobre ‘Hibi Chouchou’

Mangá não recomendado para diabéticos.

Minha história com Hibi Chouchou não é de hoje. Há quatro anos atrás tive meu primeiro contato com o mangá – época em que lia mangás com a maior facilidade e rapidez dessa vida – mas depois de alguns capítulos, era como se não estivesse entusiasmada o suficiente para levá-lo para frente. Conforme o tempo foi passando pude notar que meus preciosos mangás shoujo não eram mais tão “lentos”, beijar já não era algo que se deixava para o final da história, os casais principais se aproximavam muito rápido e… eu comecei a sentir falta daquilo. Em 2016 finalmente terminei o que  chamam de “Kimi ni Todoke genérico”. Mas o que esperar dele?

Talvez algumas pessoas me critiquem, porém, tenho um acordo comigo mesma de só escrever o que realmente penso – tanto que em certas obras lidas me poupei de falar algo porque sabia que minha opinião seria, claramente, vista como “hater” mesmo tendo motivos. Entenda, não tenho nenhuma birra com Morishita Suu ou com essa obra em si, se tivesse nunca destacaria as qualidades que há nesse shoujo ou não estaria acompanhando seu trabalho atual, Short Cake Cake – série que gosto e tenho até volume físico! -, mas acontece que minha lista de pontos negativos foi maior que o de positivos. E não ocultarei isso.

A HISTÓRIA

Ao entrar no ensino médio, a muito tranquila, mas extremamente bonita Suiren se torna o centro das atenções imediatas entre os meninos. Com seus longos cabelos, seu jeito meigo e o olhar penetrante, Suiren rapidamente passa a chamar a atenção de todos ao seu redor. Mas um menino em especial parece não olhar em sua direção, evitando-a constantemente. Kawasumi, assim como Suiren, é um garoto bonito, com ótimas notas e um verdadeiro exemplo de pessoa. Exceto por um motivo: sua timidez, tema até entre seus amigos da escola. O destino está traçado e o mais improvável acontece: a história de uma menina quieta e um menino quieto que se apaixonam sem nem ao menos trocar uma palavra. Uma verdadeira pura história de amor.

COMENTÁRIOS GERAIS

Publicado na revista Margaret, da Shueisha, Hibi Chouchou é um mangá shoujo de autoria de Morishita Suu. A série foi concluída em 2015 no Japão, somando ao todo 12 volumes encadernados. No meio do caminho, a obra ainda ganhou um crossover com Hirunaka no Ryuusei, e foi um dos grandes destaques da antologia por muito tempo. No fim, o apelido que a série conseguiu foi o de ‘Kimi ni Todoke genérico’.

Mas…

…no final das contas, Kimi ni Todoke e Hibi Chouchou não são tão iguais quanto pensava, porém não pude deixar de associá-los em um ponto – o pior ponto possível – que era no conflito existente com o casal principal. Sou fã de Kimi ni Todoke, o considero e muito pois ele foi o “primeiro shoujo” – ou o que considero que seja – a entrar na minha coleção física de mangás, mas para mim ele terminou no volume 18. Por que estou comentando sobre? Porque o que acontece após o encadernado é uma série de discussões e momentos de frustração sem sentido que poderiam ser consertadas facilmente com… comunicação! É nisso que a trama de Hibi Chouchou se apoia, exatamente na parte chata de seu comparativo que ele pode ser inserido, porém nessa obra a situação é ainda mais complicada já que os protagonistas simplesmente… não se falam.

Não tive acessos de fúria, não joguei tudo para o alto, não xinguei os personagens ou a autora, mas o que li na maioria das vezes também não me deixava satisfeita. Posso chamar isso de “frustração” e essa se deve principalmente em como Suiren e Kawasumi lidam com o relacionamento de ambos conforme o mangá vai passando. Entendo perfeitamente que seus traumas são um verdadeiro empecilho na comunicação, mas as atitudes como casal eram as piores; o que eu via era um protagonista masculino egoísta que tomava decisões sem saber o que sua parceira pensava, enquanto ainda observava uma protagonista que não expressava o que realmente sentia e se “deixava levar” pelo que era proposto. Esse conflito se estende por todo o mangá e é um dos pontos que não pude deixar de notar e marcar como negativo.

Apesar disso, considero os protagonistas maduros. Morishita Suu não soube me agradar ao criar suas personalidades, mas na hora em que os problemas entram em cena, sábias decisões são feitas; uma, aliás, é a que não vi em mangá algum até agora e, sinceramente, acredito que essa seria uma ótima solução para Kimi ni Todoke. A autora realmente mostra que não está criando intrigas só por criar e quando arranja uma solução, faz isso de forma consciente, chegando no resultado de que aquilo foi feito para o casal se desenvolver não só como uma dupla, mas como também de forma individual. Seus personagens são novatos no amor, porém contornam certas adversidades como adultos.

Gosto de como as soluções para os problemas são feitos, entretanto não consigo concordar com algumas conclusões jogadas na obra. A principal delas se dá pelo modo como Suiren pensa no namoro, como para ela está tudo bem se ela e o namorado tiverem segredos e viverem em mundos separados, afinal de contas, eles são diferentes. Nesse “viver em mundos separados”, ela opta por não invadir o universo de Kawasumi enquanto ele faz o mesmo. Me chame de antiquada porém achei inaceitável essa atitude, achei covarde. Espaço é importante, mas quando ela diz que está deixando os dois mundos separados, é como se estivesse conformada, só aceitando que eles não poderiam se misturar totalmente.

Ainda falando sobre problemas, mesmo quando situações são resolvidas, a fonte principal não é. Aliás, mesmo que Suiren continue pensando sobre o que aconteceu o assunto nunca volta a ser falado, deixando para si mesma colocar um ponto final sem participação de Kawasumi.

Um ponto de extrema importância é a amizade em Hibi Chouchou. Desde o início fica bem notável que o relacionamento do casal principal só se desenvolve por causa dos “empurrões” dos amigos, sempre os apoiando mesmo quando eles nem ao menos suspeitavam que gostavam de alguém. São colocados diversos personagens, mas gostaria de dar ênfase em dois: o amigo de Kawasumi, Ryosuke, e a amiga de infância de Suiren, Aya. O humor da história fica por conta dos personagens e o que mais causa esse efeito é Ryosuke; ele faz um papel descontraído no mangá, o típico garoto que ser popular e chamar a atenção das garotas mas que só sabe passar vergonha. Ele sim é a verdadeira fonte de apoio de Kawasumi em seu romance, a pessoa que percebe nos mínimos detalhes o quanto seu amigo muda conforme ele entra no ensino médio. Já a Aya… Ah, Aya! Ela é a amiga superprotetora de Suiren que desde pequena defende a protagonista de todos os garotos interesseiros que a assustam. Por assumir esse papel de “segurança” ela acaba tendo a visão de que garotos não passam de barulhentos e idiotas, se tornando indiferente perto deles – e nessas horas ela consegue fazer expressões sérias e engraçadas. Eu simplesmente me apaixonei pela Aya. Ela é uma personagem que no começo marca presença também por dar apoio a Suiren, mas a autora faz ainda mais com ela, dá um certo espaço para que o leitor conheça a fundo a garota. Realmente queria que ela estivesse ganhado mais destaque, porém acredito que esse acabou sendo limitado justamente pela enorme quantidades de personagens.

Algo que não dá para negar é como os desenhos de Morishita Suu em Hibi Chouchou são belíssimos. Sempre uso o mangá como referência na hora de falar sobre shoujos com traço bonito e, honestamente, mesmo gostando do traço da Sakisaka Io e todas as pinceladas que deixam seus personagens com um aspecto “fofo”, ainda prefiro Morishita. O leitor não passa um capítulo sem alguma cena impactante esteticamente falando. Hibi Chouchou seria aquele tipo de título que não precisaria de nada para vender, só sua capa já seria um convite e tanto para sua aquisição.

Quando terminei de ler a série, uma coisa me intrigou: desde o começo a dificuldade de Suiren de conversar com meninos é explicada, a autora destaca sua beleza ainda na maternidade e como ela só se torna ainda mais chamativa com o passar dos anos, tornando uma qualidade e um trauma ao mesmo tempo. Kawasumi também tem dificuldades de falar com garotos, seus amigos mais próximos dizem isso em voz alta, porém até o final da série isso simplesmente não é explicado. Acredito que o motivo ficou oculto justamente pela quantidade de informações que a autora acrescentou e precisou trabalhar, mas… Isso era importante! (tsc)

A timidez é a maior barreira que Suiren e Kawasumi precisam atravessar para poderem se aproximar, porém não é algo que se supera de um capítulo para outro e… Adoro isso! Mesmo que os diálogos sejam bem parados e nada empolgantes, a autora, verdadeiramente, faz com que os protagonistas evoluam não só para se comunicarem um com o outro e sim com outras pessoas também. Quantas vezes já não me deparei com um mangá que implantava um tema x, como por exemplo, a garota não gostar de romances e magicamente no final do capítulo começar a gostar?! Hibi Chouchou não traz esse tema contraditório, é uma característica que é trabalhada por todo o mangá e qualquer um poderia perceber o quanto os dois se desenvolvem até o fim.

Independente da minha avaliação final, torço pela vinda de Hibi Chouchou no Brasil. Talvez soe como ironia, mas apoio mais a vinda dele do que meus mangás favoritos! O shoujo foi publicado juntamente com Hirunaka no Ryuusei e na época eram bem recepcionados pelos leitores, mas não tiveram nenhuma adaptação, seja em filme, dorama ou anime – tanto que Hirunaka só veio a ganhar uma adaptação em filme agora, quase um ano após a Yamamori Mika começar a publicar Tsubaki-chou Lonely Planet. Eles só contavam com o marketing que a própria revista promovia que, convenhamos, infelizmente não é algo que esteja ao alcance de todos os fãs.

Digo isso justamente porque a Margaret é um revista de menos destaque comparada a Betsuma e ainda sim tem ótimas vendas de volumes. A publicação de Hibi Chouchou seria uma luz para aquelas outras obras que também não tiveram adaptações, mas mesmo assim ganharam o carinho dos fãs; esse seria o caminho para que as editoras parem de se deixar cegar apenas com títulos com animes ou escolhidas de forma “aleatória” e passem a prestar mais atenção no que seus consumidores lêem.

CONCLUINDO

Não leria a obra de novo. Pode parecer rude da minha parte, mas não entenda isso como algo “hater”. Realmente apreciei o que a série ofereceu e sei que há qualidades nela – que já foram ditas anteriormente –, porém cheguei a conclusão de que mesmo a autora não prolongando a obra e a deixando maçante, a narrativa foi confusa e não soube preencher todos os buracos que Morishita Suu criou. Independente disso, o mangá com certeza tem seu alvo.

Hibi Chouchou é um shoujo repleto de momentos fofos – eu, euzinha, a redatora, tive vários “mini” surtos com a fofura da série – e, por consequência, apresenta uma trama bem pura. E mesmo tendo toda essa ingenuidade, a história não segue os passos de Kimi ni Todoke quando se trata de declarações e características do tipo; nesse sentido, a aproximação é rápida, o que demora é o desenvolvimento do casal.

Só para finalizar, gostaria de deixar enfatizado que por não ser fã de um mangá, não significa que deixo conferir o que qualquer mangaká faz. Confesso que a motivação principal para ler Hibi Chouchou foi ter pego Short Cake Cake para acompanhar. Uma hora vou acabar escrevendo sobre ele, mas o que impressiona é o modo como Morishita não se apega a um única estereótipo de heroína – Sato Zakuri, por exemplo, não consegue desapegar de protagonistas excluídas socialmente – mostrando como há versatilidade na hora de partir para outra. Hibi Chouchou pode até ter sido uma pequena decepção para mim, porém continuo ansiosa para ver o que de promissor nos aguarda.

ChuNan News

Perfil responsável pelas notícias e informações do mundo otaku no Brasil, Japão e resto do mundo! Não deixe de acompanhar nossas redes sociais para mais informações sobre o Chuva de Nanquim!