Review – ‘Nisekoi’: em busca da chave da comédia romântica de sucesso

Muito mais que uma “cópia” de Love Hina.

Durante muito tempo estivemos em um grande dilema da falta de um bom shounen de romance nas páginas da Shounen Jump. Para se ter uma ideia, To Love-RU, que passa longe de ser uma unanimidade, era o mangá do gênero de maior sucesso e vendagem da revista. Não, não é uma piadinha. E claro que não estamos falando do que é bom ou não, que fique bem claro, mas durante tanto tempo é difícil imaginar que nada tenha feito tanto sucesso quanto Lala e companhia.

Eis que surge Naoshi Komi. Antes rejeitado por um ótimo mangá chamado “Double Arts”, o artista teve sua nova chance em “Nisekoi”, mais uma tentativa da Jump de encontrar a comédia romântica que embalasse nas páginas da revista. Logo de cara, sofrendo muito com as eventuais comparações com o clássico Love Hina, muitos não acreditavam na sobrevivência da série. Mas fomos surpreendidos novamente. Com direito a anime, presença em games e eventos, Nisekoi voou, e mesmo com seus altos e baixos, fez seu destaque chegar até o Brasil, no novo lançamento da Panini no país.

A HISTÓRIA

Raku Ichijou aparentemente é um estudante comum, porém ele é o herdeiro de um líder da Yakuza. Ele conhece Chitoge Kirisaki, uma estudante transferida e filha do líder de um grupo rival, formado por gangsters. Os dois passam a se odiar, porém a guerra das duas famílias tem aumentado as baixas para ambos os lados. Para evitar que essa guerra continue, os líderes das famílias decidem tomar uma ação para juntar os dois lados. Algo bem simples, claro: fazer com que os dois jovens se tornem noivos e fim de papo. Nada demais, não é?

COMENTÁRIOS GERAIS

Nisekoi é uma série de Naoshi Komi e considerado um dos mais vendidos mangás de comédia romântica da história da Shounen Jump. O título possui 25 volumes e a série vendeu mais de 10 milhões de exemplares no Japão, sendo publicado em diversos países do mundo todo. Ele ainda inspirou uma série animada para televisão pelo estúdio SHAFT e um OVA em 2014. A segunda temporada do anime foi exibida na temporada de abril de 2015 e um segundo OVA foi lançado com o volume 21. Sucesso, não?

Nisekoi é apenas mais um mangá de comédia romântica, e acho muito bom deixar isso claro desde o começo. Não tem super poderes, grandes reviravoltas ou algum personagem místico que vá te fazer querer ser um personagem de mangá. Muito pelo contrário, tirando o fato de existirem as máfias mais fajutas do universo, Nisekoi só te envolve com jovens colegiais tentando descobrir a promessa de um moleque que tinha um grave problema de memória na infância por não lembrar de absolutamente nada. Ele vai te conquistar de outras formas: seja por ter uma tsundere ou uma moe girl, ou por te fazer torcer até o fim por seu casal favorito mesmo tudo apontando o contrário. Ele vai te fazer sofrer. Talvez não tanto quanto um Koi to Uso ou um Kuzu no Honkai, mas vai te irritar pela demora de Haku escolher ou não o seu par de uma vez por todas. E é isso.

Se está esperando um monte de críticas ao roteiro, provavelmente não vai encontrar aqui. Isso porque se você conhece o mínimo de mangás de comédias românticas sabe que o maior problema é que o protagonista nunca parece fazer a escolha certa. Ele sempre tem a resposta no seu pé e mesmo assim vai pelo caminho mais longo por um motivo: te irritar! E sim! É exatamente por isso! A maior falha de Nisekoi é justamente ser tão longo quando tudo poderia ter sido resumido em míseros 10 ou 12 volumes. E claro que isso irrita o leitor e influencia na hora de recomendar ou não uma obra. Porém, tirando essa duração, é difícil não dizer que Nisekoi merece o posto de sucesso na história da Jump. O mangá é carismático, tem personagens muito divertidos, não apela a todo instante pra um fanservice desnecessário e não te ofende (tirando as partes da máfia, eu nem sei porque aquilo está lá). É um mangá acima da média dentro do que ele se propõe. E quando eu digo acima da média, estou falando de muitas obras, e não só dos 5 ou 6 mangás que algumas pessoas se baseiam pra falar desse tipo de obra. É óbvio que você vai detestar praticamente todas se elas não fizerem o seu estilo. Não precisa ser muito inteligente pra perceber isso.

Naoshi Komi tem algumas noções como quadrinista que nos permite curtir ainda mais a obra. Um traço muito lindinho, um enquadramento diferente do habitual e um aproveitamento muito grande e bem feito de todo o espaço em uma página. Como técnico, ele é excelente. E mostrou em Double Arts que também entende muito de uma história diferente. Sair de um mangá de “porrada” para uma comédia romântica e conseguir um sucesso logo na segunda chance, não é pra qualquer um. Sua versalidade merece ser reconhecida.

Nisekoi é um título relativamente bobo, com Chitoge e Onodera carregando o piano que Raku não dá conta – diria que, como personagem, ele é o ponto fraco dessa história. Mesmo as garotas que surgem depois conseguem ser bem inseridas nas linhas e te fazem ter um carinho com elas, por mais idiotas que pareçam suas paixões pelo protagonista. Como eu disse antes, Nisekoi não ofende, mas pode não ser a melhor escolha para quem já quer um mangá mais complexo, sério, bem definido e que faça te pensar ao menos um pouco – aqui, o máximo que vai tentar quebrar a cabeça é descobrir quem é a garota da promessa.

É como sempre digo: não é por não fazer o seu estilo que uma obra seja necessariamente ruim. Aprenda a entender que existem diversos públicos alvo e você não precisa estar nele. Nem todo mangá feito no Japão é feito pensando em você. Nisekoi é redondinho, longo, por vezes cansativo, mas pode ser a dose mensal de descontração pra quem busca algo mais simples e divertido.

EDIÇÃO NACIONAL

A Panini mais uma vez opta pelo tradicional formato tradicional, que dispensa muitos comentários. Papel jornal, capa cartão, capas internas coloridas e tudo pelo preço camarada de R$13,90. Parece bem natural que a editora escolha seguir por esse caminho para mangás muito longos e com um apelo um pouco mais popular – o público alvo não é o mesmo de um Vagabond ou Lobo Solitário, e um valor muito elevado para uma série mensal não teria muita lógica. No mais, a edição segue o trabalho já conhecido com honoríficos, uma tradução bem tranquila (já que a série não tem termos lá muito diferentões) e um linguajar que é de fácil entendimento se tratando de pessoas dessa idade.

Sobre o trabalho gráfico, a edição apresenta uma capa muito parecida com a japonesa, mas com uma capa traseira trazendo a mesma ilustração em sua totalidade, sem cortes e trazendo alguns detalhes que não são vistos na frontal. Já as capas internas são muito bonitinhas e mostram os mesmos detalhes que vemos na capa que é coberta pela “jacket” no original japonês, assim, não perdemos nenhuma arte da edição matriz. O logo é o mesmo utilizado apenas na edição mexicana do mangá – também lançada pela Panini por lá.

Apesar da “demora” para trazer o título ao Brasil, Nisekoi parece estar se saindo relativamente bem com seu público. O fato de estar disponível nas grandes lojas online ajuda muito na aquisição do mangá, mas principalmente a periodicidade mais acertada acaba prendendo o público alvo, geralmente composto de estudantes e pessoas que ainda dependem de dinheiro dos pais para suas coleções. Por não ter nenhum mangá deste gênero em publicação no momento, e com poucos shoujos disputando o posto de “romance” na editora, Nisekoi acaba abrangendo um público maior e conseguindo atingir garotos e garotas.

IMAGENS DA EDIÇÃO

Clique nas imagens para conferir alguns detalhes da edição brasileira do mangá. Agradecemos a editora Panini por ter nos enviado o volume 1 da obra para esta resenha. O volume 2 foi adquirido pela nossa equipe.

CONCLUINDO

Dificilmente encontramos um mangá que seja unanimidade, e com Nisekoi não é diferente. Alguns amam, outros odeiam, outros só odeiam porque o protagonista não termina com a garota que gosta, e outros só odeiam porque é só isso que sabem fazer. Como tudo na vida.

Nisekoi passa longe de ser brilhante e, provavelmente, não será o melhor trabalho da promissora carreira de Naoshi Komi. Mas ele entrega o que cumpre: te fazer torcer por uma personagem, dar algumas boas risadas e ficar na dúvida em quem é a diaba da escolhida da promessa de infância. O que não o abstêm de erros: ele se alonga demais, os acontecimentos que realmente importam acabam demorando muito mais do que deveriam pra acontecer, e muitas das atitudes de todos te irritam profundamente. Pois é, nada é perfeito.

Porém, é difícil não recomendar o mangá. Apesar de suas derrapadas no roteiro, a série realmente te entretêm se você gosta do gênero (não venha aqui falando que você odeia se obviamente não gosta de nada nesse estilo). Esqueça a opinião boba de que se trata somente de uma cópia de Love Hina, pois tirando uma ou outra coisa, ambas têm caminhos totalmente distintos.

Se interessou? Então aproveite. Seu maior problema será apenas os mais de 20 volumes do mangá.


NISEKOI

Autor: Naoshi Komi
Editora: Panini; Preço: R$13,90
Total de volumes: 25 volumes
Lançamento Junho/2017

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.