Mais um caça níquel? Mais uma decepção da JBC? Mais personagens de olhos e todo o resto do corpo tortos? Isso é Cavaleiros do Zodíaco.
Confesso que foi Cavaleiros do Zodíaco o responsável por hoje eu estar aqui escrevendo no Chuva de Nanquim. Foi ele que lá em 1994 me impulsionou a querer acompanhar mais e mais animes e acabar entrando nesse mundo. Posso culpá-lo pelo resto da vida, resumindo. Por esse motivo, guardo um carinho especial pela série, e mesmo hoje sabendo que ela passa longe de ser genial ainda assim costumo acompanhar o que surge por aí de novidade nessa franquia.
Com Next Dimension não foi diferente. Lembro que quando surgiram esse mangá e Lost Canvas a euforia do pessoal aqui no Brasil foi grande, e inclusive muitos esperavam muito mais de Next Dimension do que de sua irmã. Acontece que LC se sobressaiu, ganhou um anime, se manteve firme e forte e hoje mesmo com seu final já ganhou até um spin off. Já Next Dimension anda a passos muito curtos, sem nenhum desenvolvimento e causando a irritação dos fãs.
Agora a editora JBC trás a série para o Brasil em uma estratégia que envolve o relançamento da saga clássica. A grande questão é: a JBC deu o devido valor para a série? Realmente foi feito o que poderia ser feito por esse mangá? E também, será que esse título vale a pena ou busca só caçar o dinheiro dos fãs? É o que pretendo falar nas próximas linhas. E atenção: sou fã de Cavaleiros, mas não vou medir palavras por isso. Sintam-se avisados.
A história
Logo no começo do mangá vemos a mesma cena com a qual terminou a saga clássica, com Hades e Seiya se enfrentando. Rapidamente somos jogados ao passado e apresentados aos jovens Dohko e Shion que recebem do mestre do santuário as armaduras de Libra e Áries, respectivamente. O mestre diz a eles que a grande batalha estaria para começar, a temida Guerra Santa com a ressureição de Hades, grande inimigo de Athena. Dohko, explosivo como sempre, resolve partir ao encontro do jovem que seria o responsável por ser o “hospedeiro” do imperador Hades, e Shion acaba sendo obrigado a acompanhá-lo devido a amizade entre eles.
É então que surge na história Alone, um jovem de cabelos loiros e olhos claros e com a mais pura bondade em seu coração. Ele é o hospedeiro de Hades e é encontrado pelos dois cavaleiros de ouro. Enquanto o gentil garoto (ainda sem saber de seus poderes) ajudava Dohko de alguns ferimentos, Shion decide tentar matá-lo, mas é impedido pelo jovem Tenma, melhor amigo de Alone. Os dois acabam fugindo, mas no caminho Tenma percebe que havia deixado um objeto e resolve voltar para buscá-lo. O objeto se tratava nada mais nada menos do que a armadura de Pégasus, e Shion e Dohko contam para o rapaz toda a história, dizendo que ele é um cavaleiro de Athena e que seu amigo Alone seria a reencarnação de Hades.
Enquanto isso, Alone é atraído para dentro de um estranho local, onde é recepcionado por Pandora, uma mulher que diz ser sua serva. Ela revela para o garoto que ele é Hades, deixando-o estático. Eles vão para o chamado “Castelo de Hades” e é aí que tudo realmente começa. Alone se transformou e Hades despertou pronto para a batalha final ao lado de seus espectros. Agora a Guerra Santa começou e os Cavaleiros de Athena terão que usar toda sua força para vencer Hades. Como será essa batalha? Quem se sairá vencedor? E como Tenma reagirá ao ver seu amigo Alone transformado em Hades? É o que o tempo e a boa vontade de Masami Kurumada dirão… ou não.
Considerações Técnicas 1 – A história
Como o título do post sugere, Next Dimension é o mangá que faz a ponte de passado e presente, sendo continuação direta da saga clássica e dentro do período temporal da série. Para os que leram Lost Canvas saibam que existem muitas diferenças entre os mangás em questão, começando pelos papéis e nomes de alguns personagens. Talvez o único ponto realmente de semelhança seja a presença de Alone e Tenma, os mesmos protagonistas de ambas as séries. Portanto ao fazer a leitura desse mangá tenha em mente que você deve ter muito cuidado para não confundi-los.
Em primeiro lugar, já falei antes que gosto muito de Saint Seiya, mas isso não me impede de dizer que esse mangá é um tremendo caça níquel. E isso é um problema? Claro que não. Lost Canvas e Episódio G também são. O problema é que Next Dimension é extremamente mal desenvolvido como história. Os acontecimentos são todos confusos demais, tudo passa muito rápido e as mudanças “temporais” são extremamente difíceis de serem desvendadas. Elas simplesmente acontecem e se o leitor estiver um segundo desatento já estará perdidinho no mangá, tendo que voltar algumas páginas para entender tudo novamente.
Isso sem falar nos traços de Masami Kurumada. Alguém precisa falar quem foi que disse pra ele que ele sabia desenhar. E não adianta falarem “é porque é um mangá antigo, traço velho e mimimi” pois muitos mangás da mesma época de Cavaleiros eram extremamente bem desenhados e com uma dinâmica de quadros muito boas. Basta dar uma boa olhada em Hokuto no Ken, JoJo e até mesmo Dragon Ball. E os anos não parecem ter passado para o tio Kurumada. Seu traço continua inconstante e desajeitado, com linhas tortas a cada página e expressões que… não existem. Todos tem cara de Ichigo de Bleach, com aquela boca aberta de espantado. Acho que o Kubo se inspirou nele. Isso sem falar que todo mundo é igual. Basta mudar o cabelo e a armadura e pronto: você terá muitos Seiyas a sua disposição.
Acho Lost Canvas extremamente melhor do que esse mangá em todos os quesitos. A história se desenvolve melhor (só observar a diferença da transformação de Alone nos dois mangás), os personagens são muito mais bem trabalhados e nem preciso falar do traço da autora, que embora genérico para alguns, é lindo para mim. No mais, Next Dimension segue a fórmula do mangá antigo. É divertido, tem seu público e é uma leitura rápida. Rápida demais as vezes…
Considerações Técnicas 2 – A versão da JBC
JBC… Chega de errar! Por favor, eu imploro de joelhos! Um mangá que só tem 3 volumes, com uma periodicidade mais que irregular… O que custaria dar a ele uma espaçamento maior do que mensal e com uma qualidade maior? E não me venha com esse papo de que “é caro e ninguém compraria”. Cavaleiros tem uma fanbase enorme no Brasil e duvido que ele “empacaria” nas bancas, ainda mais se tratando de um material TOTALMENTE colorido e inédito. A somar que, caso o espaçamento fosse maior as pessoas teriam muito mais tempo para juntar tal dinheiro para efetuar a compra. Coisa que vende menos e que tem menos chances de fazer sucesso como um livro de Death Note aí a editora traça a faca em nossos peitos com o valor de 30 reais. Um absurdo.
A edição brasileira, que custa R$14,90 e formato padrão, conta com todas as páginas coloridas, assim como o original. A impressão é feita em papel jornal, em uma folha que aparenta ter uma gramatura abaixo do convencional da editora. Lembra muito o papel usado nos mangás “cults” recém lançados, Rei Lear e O Capital, onde a qualidade gráfica passa longe de ser boa ou ao menos regular. Ao folhear a revista você tem medo de rasgar as folhas. É mais frágil que um gibi da Turma da Mônica da década de 90. Sinceramente, fiquei muito decepcionado com a qualidade. Me senti ofendido, em partes. Eu não me incomodaria de pagar 30 reais em uma edição com acabamento bom e que passasse a sensação de que a editora realmente estivesse “preocupada” em fazer uma boa jogada de marketing com a série. Muito melhor do que esses R$14,90, que não valem o investimento.
Alguns “textos” em japonês foram mantidos e apenas a tradução foi colocada abaixo dos originais. Em parte é entendível. Em partes não. Não saberemos se foi opcional, se foi alguma cláusula da editora japonesa que impedia a reconstrução dos quadrinhos ou se foi apenas preguiça da editora de redesenhar e editar tais passagens. Não acho que a JBC vá se pronunciar quanto a isso. As onomatopéias também são as originais. Vale dizer que alguns quadrinhos saíram foscos e para quem já viu a obra original vai sentir uma diferença enorme em vê-lo impresso no papel jornal.
Como ponto positivo, temos a presença das ilustrações originais dos volumes no final do mangá, para quem curte admirar a arte do Kurumada (alguém?).
Quanto a tradução, nada do que reclamar também. Não vemos expressões estranhas (até porque alguém que não preciso citar nomes, não deixaria sua série favorita ser estragada) e a Karen Kazumi continua competente como em todos os seus trabalhos de tradução, sem puxar saco. Junto com a Drik Sada, são duas das mais experientes tradutoras em atividade. A contra-capa (não confundir com a capa interna) possui um aviso de “História Inédita” bem mal feito dentro de um balão. Também existe uma pequena frase localizada na parte superior dessa mesma capa que passa facilmente despercebida de tão mal colocada tipograficamente. Eu aviso que faltam designers nas editoras e ninguém acredita em mim.
Comentários Gerais
Não há muito o que falar sobre essa edição nacional de Next Dimension. Para mim foi um fiasco quanto ao apelo gráfico. Talvez alguns digam “eles merecem um desconto por terem trazido a série colorida para o Brasil”, mas isso não tira o meu direito de reclamar e de me sentir mal com o tratamento dado pela editora. Esperava mais, bem mais.
No mais, no que diz em relação a história, é feita para fãs da série, e isso já é um fato. É divertido e mantém todo o clima “Kurumada” de ser, o que não pode lá ser chamado de elogio por muitos. Aqueles que não leram a história clássica ficarão perdidos com essa série e tenho que isso vai ser essencial para a venda do relançamento do mangá clássico. Mas ainda prefiro Lost Canvas, me desculpe sociedade. Tirando o fato do tio Kurumada só fazer o mangá quando dar na telha. São apenas 35 capítulos compilados em 3 volumes lançados, tendo o último capítulo publicado em Janeiro de 2011! E olha que na maioria das vezes os capítulos são com menos de 20 páginas…
Só posso dizer que agora tenho muito medo do que nos aguarda na Edição Definitiva de Sakura. Edição essa que foi passada para trás por um relançamento de Cavaleiros do Zodíaco muito menos aguardado e comentado do que o da caçadora de cartas. Uma pena ver isso acontecendo. A falta de atenção, comodismo e descaso com o público vem maquiada com lançamentos e com a ausência de imprensas oficiais de relacionamento com o cliente. Eu preciso lembrar JBC e Panini que sites oficiais geralmente são usados para soltarem notas também oficiais? Sejam elas de confirmação ou esclarecimento de falsos boatos. O público merece muito mais do que um twitter que diga notícias ou que sorteie promoções. Ele merece alguém que o ouça e que ao menos responda dúvidas e sugestões. Hoje, seja o mercado que for, a voz ativa do consumidor é necessária e preciosa. Leiam a revista Super Interessante desse mês de Setembro, onde uma matéria conta como os fãs salvaram a empresa LEGO da falência e entendam o que quero dizer com isso.
Até quando seremos refêns da falta de atenção? Até quando a internet vai parar de ser encarada como um “lugar de meia dúzia de pessoas” para ser usada como amostragem para pesquisas e opiniões? Até quando você vai errar, JBC? E estamos de olho em vocês também, Panini, NewPop e afins… O consumidor evoluiu. Está na hora de vocês seguirem nossos passos.
por Dih