Review – Os limites do non-sense em Kore Wa Zombie Desu Ka

Lolis, fantasmas, vampiros, shinigamis, fadas e… não falta mais nada para esse anime.

Sinceramente: não tenho a menor ideia do porque estou escrevendo sobre esse anime. Brincadeira, acho que até tenho. Hoje mesmo estava comentando sobre animes que indicamos para as pessoas para que elas se divirtam, sem se preocupar com nada confuso demais ou mirabolante. Kore Wa Zombie Desu Ka é um desses animes. Simples, prático e básico. Mas extremamente divertido e non-sense ao extremo. Comédia para assistir sem se preocupar com absolutamente nada.

Kore Wa Zombie Desu Ka (que chamarei só de “Kore Wa” de agora em diante pra simplificar) foi o anime que mais me surpreendeu na temporada de janeiro desse ano de 2011. Não estou dizendo que ele foi o melhor de todos, longe disso. Mas com certeza foi um dos mais inusitados animes que pude ver com esses meus olhos. Tive a impressão de estar injetando drogas em minhas veias todas as vezes que assistia a um episódio novo! Como era possível tantas coisas misturadas em um só anime? Como um cara poderia ser uma mahou shoujo e não ser um travesti de Sailor Moon ao mesmo tempo?

A história

Tudo começa com um colegial normal chamado Ayumu Aikawa. Ele é como qualquer protagonista de qualquer anime colegial: não quer saber de nada com nada. A cidade em que mora sofre com um serial killer que está matando as pessoas de maneira bruta e um dia Ayumu percebe que sua vizinha pode ser uma das próximas vítimas do assassino. Porém no lugar dela é o próprio garoto que acaba morto. O que não esperávamos no entanto, é que uma necromancer (uma espécie de “morte”) fosse com a cara do rapaz e decidisse revivê-lo para ser seu escravo. Mas não reviver do jeito comum, claro. Ele teria de ser um zumbi.

E é assim que começa a vida de Ayumu ao lado de Elucliwood, a necromancer muda que passa a viver com ele em sua casa. Detalhe: ela é muda. Mas quem pensou que tudo acaba por aí, se engana. Um dia Ayumu conhece uma garota chamada Haruna, que na verdade é um guerreira mahou shoujo! O atrapalhado acaba tomando os poderes dela e agora tem que combater as mesmas criaturas até que a menina recupere seus poderes e também viva ao lado dele. E como uma desgraça nunca vem sozinha, ele ainda conhece a jovem Seraphim, uma vampira ninja (!!!) que também passa a viver ao lado dele para que possa proteger Eucliwood, a quem ela é grata por algum motivo especial para sua vila de vampiras ninjas (!!!). Como será a vida de Ayumu com as três? Não dá pra esperar muita coisa boa daí.

Considerações Técnicas

Antes de mais nada quero dizer que não consigo enquadrar essa série em nenhum gênero, mas se o tivesse de fazer, simplesmente o colocaria como uma comédia. Isso não quer dizer que isso seja tudo que você vê na série. O diretor Takaomi Kanasaki soube colocar ali elementos variados como suspense, romance e até mesmo uma pitada de drama. E isso parece ser uma característica própria do diretor que já havia feito o mesmo com outro anime de comédia, School Rumble Nigakki.

Apesar de tudo parecer meio confuso… realmente é. Mas você não se sente perdido na história porque a história é o que você menos se importa ao assistir Kore Wa! Eu não gosto muito da expressão “desligue o cérebro e assista sem preocupações” para tudo, pois parece que você está dizendo “você não tem capacidade pra entender essa série, então assiste por assistir”. Mas no caso desse anime em especial você realmente deve esquecer tudo que realmente se importa. Se você está a procura de um roteiro inteligente, personagens bem trabalhados e reviravoltas mirabolantes no enredo, mantenha-se longe de Kore Wa.

O grande sucesso da série é justamente sua simplicidade em trabalhar com os personagens. São personagens bobos, bestas e extremamente clichês, mas que são propositais! Uma série que tem como protagonista uma necromancer, uma vampira (que também é uma ninja!!!), uma mahou shoujo, um zumbi e dezenas de outros personagens “clássicos” OBVIAMENTE não está tentando ser diferente. Ela quer ser clichê e quer usar isso de uma maneira diferente! Vemos isso sendo fórmulas de sucesso em diversos livros da literatura infanto-juvenil hoje em dia, de Harry Potter a Crepúsculo. Todos eles usam personagens já existentes e adaptam para seu próprio universo de uma maneira própria e única. Kore Wa é exatamente a mesma coisa. Eles estão lá, mas possivelmente são diferentes de tudo que você já viu.

Não é em todo lugar que você vai ver um cara que é zumbi e que vai a escola de dia se escondendo atrás nas sombras. Como também não é em toda história que você vai ver o mesmo cara convivendo com 3 garotas de habilidades totalmente diferentes, todas maltratando-o e ele adorando tais atitudes. Além é claro que você nunca viu um protagonista zumbi que se veste de mahou shoujo para ser substituto de uma garotinha, fazendo sátira clara à Bleach.

Claro que não estou dizendo que o anime é perfeito. Para aqueles que assistem tudo pode parecer meio confuso uma vez que o plot inicial é praticamente esquecido por mais da metade do anime. Você assiste o primeiro episódio pensando que vai se tratar de uma série de suspense e quando está no terceiro você já conhece mais uma ‘dúzia’ de personagens. No final da série surgem personagens que você se pergunta se eles já estiveram ali antes já que foram mal explorados. Os “dramas” da série também não são o forte da coisa, já que enquanto você começa a ter pena de um personagem na cena seguinte ele já está fazendo alguma coisa totalmente non-sense pra te fazer dar risada.

Um dos grandes pontos fortes da série também é que a mesma não investe desesperadamente em ecchi. Ela tem sim seus elementos, mas não de forma abusiva e agressiva ao telespectador, lembrando muito séries do gênero dos anos 90 como Tenchi Muyo. Eu diria que ela é o ponto certo de uma animação nesse quesito, afinal, todo o fanservice que ela precisa estão nos próprios personagens com caras “inocentes” ou com os desejos super engraçados do protagonista em querer ouvir a sua companheira muda falando com vozes de dubladoras consagradas. Ou até mesmo nas cenas de ação, em que o sangue é marca constante do anime. Tudo é bem dosado para o telespectador.

Comentários Gerais

Como disse anteriormente: se você quer uma história boa, um roteiro consistentes e personagens com dramas pessoais próprios e extensos saia daqui e busque outros animes como Kaiji ou Slam Dunk já comentados aqui. Kore Wa é um anime honesto e que prende justamente por não se preocupar com nada disso descaradamente. Ele é desde o início uma clara referência a todos os clichês que temos hoje nos animes e faz isso de forma criativa e funcional. Não é a toa que o anime vai ganhar uma próxima temporada já em janeiro de 2012 devido ao seu sucesso.

Vale lembrar que o anime não é uma história original, tendo um mangá em andamento e que será publicado nos Estados Unidos. É uma franquia forte e que não duvidaria se chegasse por aqui em breve para dar as mãos à Blood Lad como mangás desse gênero. Seria bem vindo pois realmente faltam coisas assim para o leitor. Não adianta tentar chegar ao leitor comum oferecendo pra ele algo que ele pode encontrar em tantas outras mídias. Animes e mangás são entretenimento e devem ser lembrados como isso antes de mais nada. Se esse apelo funciona, então ele é um sucesso.

Por essas e outras que acho Kore Wa Zombie um anime dos mais bem feitos no ano de 2011. Tanto pela sua execução como por toda a parte técnica. Ele sabe aproveitar aquilo que tem em mãos e não a toa tem um “último” episódio dos mais épicos que já tive o prazer de ver, conseguindo envolver praia, shows de idols e tudo mais em um mesmo espaço de 20 minutos! Junte isso a um anime de 12 episódios com uma animação coerente e agradável do estúdio DEEN e a escolha de bons dubladores: você terá um anime legal para se curtir na sua casa com seus amigos e darem boas risadas. Além do mais, é o primeiro anime que temos uma vampira ninja!!!! Sensacional.

Que Madoka que nada! Ele pode não ser o melhor anime do ano, mas tem a melhor mahou shoujo dele!

por Dih

Dih

Criador do Chuva de Nanquim. Paulista, 31 anos, editor de mangás e comics no Brasil e fora dele também. Designer gráfico e apaixonado por futebol e NBA.