Review – Nisemonogatari: a história das Irmãs de Fogo

É isso que otaku gosta, é isso que otaku quer.

[Recomendo que leia esta review após assistir a primeira temporada, Bakemonogatari. Leia a nossa review!]

Se na adaptação para anime dos dois primeiros volumes da Série Monogatari de Nisio Isin (Bakemonogatari, Medaka Box, Katanagatari) teve-se uma amostra sutil da sátira, de um harém recheado de fanservice e de uma abordagem ousada de uma narrativa já pretensiosa, já em Nisemonogatari tem-se uma quebra parcial da sutileza e um efeito multiplicativo na ousadia, principalmente devido ao leque aberto ao estúdio em questão de orçamento e pela própria capacidade da história de Nisemonogatari em ser moldada em um formato polêmico. A narrativa de Nisemono (segundo comentários gringos, assumo que não li os dois volumes da novel) apresenta um enredo de tom mais sexual e com as entrelinhas mais amplas, abrindo enésimas (ou só uma, rs) interpretações na mente do leitor.

Adaptar uma obra como esta para anime exige um mínimo de cautela por parte da equipe envolvida na produção, mas estamos falando novamente do SHAFT e de Akiyuki Shinbo, o estúdio que gosta de causar e o diretor que não me surpreenderia se tivesse “Ousadia” como sobrenome. Então, para que a cautela? O anime entra no jogo de palavras já apresentado no título (Nisemono, “impostor, farsante”; e monogatari, “histórias”) e nos mostra aquela farsa que o público quer ver, os personagens que foram construídos em Bakemonogatari agora são expostos de forma a espantar alguns, a agradar a outros e que num tom de brincadeira séria apresenta uma história simples, um enredo recorrente e afiadíssimo em diálogos. Tudo se trata de um show.

A História

Nisemonogatari apresenta em seus 11 episódios dois arcos que contam casos sobrenaturais envolvendo as irmãs Araragi: Karen Abelha e Tsukihi Fênix. As duas histórias abordam essas estranhezas, mas boa parte do foco construtivo se baseia nas farsas dos personagens, inclusive das auto-intituladas “Irmãs de Fogo do Escola Secundária Tsuganoki”. O próprio Koyomi apresenta suas irmãs:

“A mais velha das minhas irmãs, Araragi Karen. Terceiro ano do ginásio. Completou quinze anos no final de julho. Desde criança se destacou na maioria dos esportes, mas seu talento parece ser voltado ao combate. […] Não a compararia com um homem, mas o olhar agressivo em seus olhos a faz parecer meio masculina. E a mais nova das minhas irmãs, Araragi Tsukihi. Segundo ano do ginásio. Tem quatorze anos e faz aniversário em abril. […] Seu jeito pode parecer bem feminino, mas na verdade é mais agressiva que Karen e é facilmente provocada. Seu jeito pode ser chamado de histérico.” (Araragi Koyomi)

Araragi apresenta as duas irmãs como “símbolo da justiça”, ou segundo elas próprias, elas são a própria justiça, mas no fundo são duas garotas que se envolvem em problemas complicados que movem a história. Seguindo essa linha, temos duas personagens entrando em um mundo não tão belo da justiça, envolvendo aquele que se mostra o impostor e vilão central, Kaiki Deshu. Karen adquire uma doença misteriosa e busca em Kaiki a cura, da mesma forma que as demais garotas em Bakemono foram ajudadas por Oshino Meme. Porém, em vez de termos uma resolução do problema, entramos no agravamento do mesmo acarretado pelas ações do desprezível farsante.

A trama se desenrola melhor a partir do seu terceiro episódio seguindo essa linha, e com o desenvolver da história descobre-se mais sobre o passado de Senjougahara e seu envolvimento com Kaiki até o momento que ela também é enganada e perde seu peso, entrando depois nos fatos de Bakemono. O andar da carruagem se faz mais lento e cheio de causos que não abordam as estranhezas, isso até chegarmos no arco da Tsukihi Fênix onde o ritmo do anime acelera. 

Apesar de um foco nessas duas personagens, o anime ainda aborda acontecimentos com as demais garotas do “harém Araragi”. E não se trata de aparições por motivos sobrenaturais, podemos dizer que Ararararagi-kun começa a colher os frutos do harém que plantou em Bakemonogatari e daí tira-se um conteúdo com um fanservice questionável. Parte-se de uma leve insinuação de incesto, um complexo por lolis, nudez e perversão aceitáveis pelo público comum até chegarmos em um show de cenas carregadas de insinuações e até mesmo diretamente intencionadas em esbanjar um conteúdo pervo.

Considerações técnicas

Se em Bakemonogatari o SHAFT se virou nos trinta para apresentar qualidade técnica, nessa segunda temporada da série temos uma mostra de uma bela arte na animação, afinal tudo é uma questão de dinheiro e disposição, como a segunda sempre estava presente, bastou o sucesso de vendas de Bakemono para que a bela animação se concretizasse. Se você considerava maçante os recursos como os quadros de diversas cores extremamente recorrentes em Bakemono, digo-lhe que foi reduzida as aparições, mas também digo que a animação é totalmente superior e linda. Uso de uma extensa paleta de cores, fotografia minuciosa e inteligente, character design cuidadosamente desenhado. O melhor do SHAFT que agora tem dinheiro pra gastar.

O principal destaque aos meus olhos são os cenários, o design do set do show. Os ambientes são lindos, alguns até repletos de um ar Hollywoodiano que aumenta o tom de espetáculo ao anime, como um encontro com um vilão de aparência vampiresca em um belo e assustador pôr-do-sol avermelhado. Um diálogo entre Senjougahara e Daiki em uma arena de show, em que nós somos o público que está atrás da tela assistindo os acontecimentos. Ou que tal Karen sendo enganada por Daiki em um ambiente que me levou quase a um transe hipnótico (é, exagerei), me prendendo imensamente àqueles acontecimentos surreais que a trama propõe. 

Por essas e outras coisas que o anime se faz envolvente, contando para isso os diálogos afiadíssimos do Nisio Isin e que transmitem o mesmo feeling de Bakemonogatari, mas só que agora com uma maior pretensão de ser polêmico e com um enredo mais vago. Apesar de tantos elogios de caráter técnico, Nisemonogatari se mostra um espetacular anime vazio, como um belo vaso chinês que não carrega em si uma bela planta. A história é de conteúdo fraco e somos levados mais pelos personagens e suas motivações do que pelos acontecimentos de importância na história, sendo que essas motivações nem sempre são o que se espera e temos episódios que apresentam para o espectador somente um amontoado de fanservice e quase nenhum andamento daquele arco (vou falar do episódio 8 depois, relaxem).

Assim, temos em 11 episódios apenas dois arcos completados, o primeiro em oito episódios e um segundo em três episódios. Mais do que deveria ou a medida certa? Analisar isso sobre olhos ocidentais pode ser bem cruel e eu simplesmente não consegui ignorar e assistir aquilo como só “um fanservice de qualidade para vender”, não que aos meus olhos foram cenas repugnantes ou assustadoras, mas de certa forma impressionantes e que mexeram com a minha mente inocente. Nisemono consegue pisar no calo dos mais morais utilizando um ecchi que pouco precisa de exibicionismo, joga-se para o público uma situação e fica ao cargo de sua mente pervertida de tirar as conclusões. 

A série continua com aquela qualidade musical apresentada em Bakemonogatari pelo Tsuruoka Yota e pelo Kousaki Satoru, com cenas sendo levadas por uma boa música que serve de pano de fundo para os diálogos. Uma melodia mais obscura para revelar os mistérios de Daiki, uma batida eletrônica para o desenrolar de uma cena de ação e pelo menos uma melodia simples de piano para mover os extensos diálogos do anime. As três aberturas são de um j-pop bem cativante, deu até  vontade de imitar a dancinha da Tsukihi (wow, Tsuritama feelings aqui!). O encerramento é cantado pela ClariS (cantou a abertura de Madoka Magica) e é uma combinação de pop com um rock bem simplista que fica na sua cabeça. As aberturas são cantadas pelas seiyuus das personagens principais, no mesmo estilo Bakemono.

O time de dublagem da série é maravilhoso, mas sem delongas vou direto no ponto que eu quero chegar aqui:  a entrada da Sakamoto Maaya na equipe dando a voz para Oshino Shinobu. Preciso falar o quanto a voz dela é uma música aos meus ouvidos? De como aquela pequena vampira-loli ficou mil vezes mais atrativa? Chamaria de uma loli vocalmente sexy. Toda aquela cena do banho (que uma das que apresentam muito daquela intenção de deixar o espectador completar a perversão na sua mente) deixou um sentimento tão intenso em mim, de me deixar vidrada naquilo, imaginando mil coisas, fazendo mil associações que eu não contaria para minha mãe; sendo muito desses sentimentos devidos à interpretação da Sakamoto Maaya.

Comentários Finais

Nisemonogatari se mostrou extremamente empolgante, confusamente interessante, um empasmo polêmico. Quando eu fiz a review de Bakemonogatari veio um comentário interessantíssimo (gostei muito dos comentários que recebi!) do Felipe “Kanjelani” comentando a cena inicial de Nisemono em que Senjougahara faz seu amado Araragi-kun de refém. O anime é repleto de cenas assim, com uma direção afiadíssima que se utiliza tanto de bobagens como de relevâncias para chegar em pontos memoráveis. Isso me fez pensar em como o anime é uma mistura de épico com cara-de-pau. Sim, é de imensa cara-de-pau fazer uma brincadeira dessa com o público, derrubar a quarta parede desta forma promíscua, mas nós adoramos não é? Adoramos tanto por não interpretarmos as perversões de forma passiva, precisa-se de um lampejo na mente do espectador para que a mensagem seja passada. Como no episódio oito e a cena em que Araragi-kun escova os dentes de sua irmã por um minuto.  Aquela cena é um dos maiores e mais divertidos atentados ao pudor que eu vi num anime, não por mostrar nada demais, é por abrir as entrelinhas e fazer o espectador formar toda a situação por si só, imaginar um ato incestuosa a partir de uma cena onde o irmão mais velho “escova os dentes” de sua irmã mais nova.

Já li críticas bem ríspidas sobre esse oitavo episódio de Nisemono, citando o episódio inteiro como desnecessário, como algo assustador, que o anime no seu oitavo episódio desce completamente a linha da perversão e que Koyomi se torna um ser humano aterrorizante. Mas tudo se trata de um show, um espetáculo fajuto que atinge o público em cheio bem naquele calo moralista. Sim, você é o pervertido que está imaginando coisas enquanto o herói Araragi-kun está escovando os dentes de sua irmã. Oh! E o nosso herói sendo assediado sexualmente por uma fujoshi lésbica? Você gostou de ver isso. Ah, e é por culpa de seu dinheiro que a pequena Hachikuji está mostrando sua calcinha para um lolicon. É assim que o SHAFT derruba a quarta parede.

Confuso, abstrato, insinuado, mas ainda eficiente, assim é o espetáculo proposto por Nisemonogatari. O anime predecessor tinha todo o interesse de fazer uma abordagem ousada do  cultura pop do anime japonês, já este expõe ao público o que ele mais gosta nesse pop e que não é bem visto nem pelo próprio público. O SHAFT poderia ter trabalhado em Nisemono respeitando a tal da “linha da perversão”, mas essa nunca foi a intenção da narrativa de Nisio Isin. Que impacto teria se o espectador não se sentisse incomodado, ou surpreendido, até mesmo assustado? Não sei como o “mundo oriental” absorveu Nisemono, mas as boas vendas indicam um sinal de aprovação dessa abordagem. Por essas e outras dá para notar como anime caiu como uma luva na mão do Shinbo.

Se desejas mais opiniões, leia o post da Dona Roberta Caroline no Elfen Lied Brasil, explicando o porquê de Nisemonogatari ser o  melhor anime da temporada de janeiro de 2012. 

Já que falei na Roberta, não posso excluir o fanservice para as moças.

Por Laris.

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