Um mangaká tentando sobreviver no caos.
A invasão de zumbis é um dos temas mais repetidos nos últimos anos. Eles estão em filmes como Madrugada dos Mortos, em jogos como Resident Evil, em livros como World War Z e até mesmo quadrinhos e seriados com The Walking Dead. E não foram apenas histórias com o gênero de terror que foram criadas. Temos o filme Todo Mundo Quase Morto que é uma comédia muito divertida e até mesmo um romance entre um zumbi e uma garota em Sangue Quente. (É… pasmem.)
E os nossos amigos japoneses não ficam fora dessa. Muitos já devem ter acompanhado o famoso Highschool of The Dead, mas eu nunca fui muito fã dele por causa da grande quantidade de fanservice da pior qualidade e muitas situações bizarras. Por exemplo: todos os seus amigos de colégio e talvez a sua família podem ter ido pro saco e mesmo assim as garotas tomam banho juntas e medem o tamanho dos seus seios. Mas não é só de fanservice que vive o Japão e isso é mostrado muito bem com o mangá que me foi apresentado pelo Twitter: I Am A Hero.
A história
Hideo Suzuki é um assistente de mangaká com 35 anos, que sonha em um dia conseguir ter sua própria série em uma editora. Ele demonstra que possui um grande problema mental, em alguns momentos o rapaz alucina com um garoto chamado Yajima e também possui visões atormentadoras, com rostos e mãos aparecendo a sua volta. Em meio a tudo isso ele ainda precisa lidar com o seu namoro, que não está passando por um bom momento graças ao seu ciúme com um ex-namorado de sua garota.
Enquanto todos os problemas de Hideo parecem só aumentar, algo terrível começa em todo o Japão. Pessoas doentes estão entrando em uma espécie de raiva incontrolável, atacam qualquer um que aparecem em sua frente e quem é atacado também acaba ficando infectado. Esses doentes continuam se movendo furiosamente na direção de suas presas, mesmo se estiverem com ferimentos graves. O caos vai começar a se espalhar, mas Hideo demora a perceber que aquilo é algo real e não mais uma alucinação de sua mente.
Considerações Técnicas
I Am a Hero é um mangá criado por Kengo Hanazawa, atualmente possui 10 volumes lançados e ainda está em andamento desde agosto de 2009 na revista Big Comics Spirits, da revista Shogakukan. A história segue em um ritmo bem lento no começo, que talvez afaste muito dos leitores desavisados e que teria me afastado se eu não soubesse que se trataria de uma história com zumbis. I Am a Hero só realmente mostra a sua cara no fim do primeiro volume, lá no capitulo 11. Após isso é uma loucura e você acaba ficando preso, querendo saber o que acontece, mesmo que o ritmo ainda varie bastante entre cenas rápidas de ação e cenas paradas de reflexão. E também temos algumas cenas bem pesadas e perturbadoras. (Uma cena no volume 10 me deixou até meio mal.)
O personagem principal talvez seja o meu grande problema com o mangá: eu não consigo gostar dele de maneira nenhuma. O autor consegue fazer com que o Hideo seja uma pessoal real, mas ele é tão estranho (até as vezes maluco) que me faz realmente ficar desconfortável e não me importar tanto com a vida que ele tinha. Os primeiros capítulos foram terríveis pra mim, eu só continuava em frente justamente por saber que em algum momento a “merda ia ser jogada no ventilador”. (Claro esse é um problema desse redator idiota, pode não refletir a realidade) Ele em alguns momentos chegava a me irritar, seja com a música sobre órgãos genitais femininos ou com o fato dele tentar continuar a seguir a lei mesmo com tudo indo pro saco.
Mais a frente conhecemos outros personagens secundários que acabam aparecendo bem pouco. Vale destacar uma que eu gosto bastante que é a Hiromi, apesar dela em muitas vezes acabar tendo reações meio irreais que acabam destoando em tudo que já tínhamos visto e indo um pouco contra o que presenciamos no mangá como um todo.
Bom, também tenho que destacar também a visão do autor para os zumbis, talvez uma das mais assustadoras que eu já vi. Eles são daquele tipo que correm e que possuem força física acima do comum, capazes de até mesmo arrancar metade do seu rosto com uma dentada. Eles ainda são capazes de falar algumas frases e parecem que ainda mantém os hábitos de quando ainda eram vivos.
Isso nos levanta uma questão interessante: na maioria das vezes, “especialistas” e “críticos” costumam dizer que uma boa história de zumbis não “trata de zumbis” e sim de “humanos”. E realmente é assim na maioria dos casos, tanto que os zumbis na sua maioria não possuem sentimentos, apenas agem instintivamente como animais, deixando toda a trama se desenrolar em cima da pressão psicológica entre os vivos. Porém no caso de I Am a Hero a coisa é diferente. Os personagens humanos da histórias são tão estranhos ou desequilibrados emocionalmente que você não tem mais noção se a história realmente se foca neles ou nos zumbis. A opção do autor por retratar os “seres” com gestos e ações humanas acaba levantando um debate em relação a isso, e só quem lê (ou pretende) conseguirá opinar se isso é uma verdade ou apenas uma teoria.
Voltando para a parte técnica, a arte é sensacional, temos um visual incrivelmente realista e com o passar do tempo chega a ser perturbadora. Os zumbis de Kengo Hanazawa são assustadores, a aparência com veias aparecendo na pele, olhos esbugalhados e vesgos e até mesmo larvas saindo pelos orifícios chegaram a me incomodar em alguns momentos mais do que alguns filmes clássicos. Fora os momentos que ele usa páginas inteiras parecidas e com leves diferenças para dar uma sensação de movimento inacreditável. O autor que já havia feito uma história bastante elogiada pelo desenvolvimento dos sentimentos humanos (Boys On The Run) parece colocar tudo em prática em I Am A Hero, agora com uma técnica muito maior. Inclusive alguns acreditam que seu mangá na verdade é uma crítica contra a sociedade japonesa, algo muito comum em algumas obras por lá.
Comentários Gerais
Diferente de Highschool of The Dead que segue mais para um lado “shounenzão” com altos níveis de fanservice , I Am a Hero segue mais uma linha séria e madura. Isso não quer dizer que não tenha ação, a história tem vários momentos que você lê varias páginas em minutos e quer saber logo o que vai acontecer. Você vai acompanhar a sobrevivência de um aspirante à mangaká, sem confiança e com uma sanidade questionável , no meio a um apocalipse zumbi.
Ele não foi um mangá fácil de ler no começo pra mim. O personagem principal só conseguia me dar raiva por ser tão perdedor e até mesmo insano, mas todo o meu esforço para continuar seguindo a leitura foi recompensado. A história começa a ficar ótima depois do primeiro volume e é uma excelente recomendação para os amantes do gênero zumbis. Com a alta de The Walking Dead e outros, é uma ótima oportunidade de se aventurar em uma leitura alternativa e bastante divertida e bem aproveitada. Fica a recomendação. LEIAM!