A vida e o boxe possuem um lado sombrio.
Eu estou sempre a procura de uma história nova, que ninguém tenha comentado muito. Na maioria das vezes eu acabo aceitando aqueles mangás da lista de “talvez você possa gostar de” dos sites de scans online que eu frequento e muita coisa boa acaba saindo dessas experiências. Junte essa sensação de descoberta com o meu gênero favorito e temos um mangá que imediatamente me fisgou. Rikudou é mais um em uma grande lista de mangás de esporte que eu já comentei aqui e que está envolvido em uma polêmica por causa dos seus primeiros capítulos.
A HISTÓRIA
Riku passou por uma infância traumática e cheias de tragédias que o marcariam para sempre na sua pele e alma. Depois do suicídio do seu pai, um ex-campeão de boxe que agora faz parte da Yakuza, o ensina o básico para se dar alguns socos. O que Riku e o Yakuza não esperavam é que esses ensinamentos salvariam sua vida quando o garoto precisou se defender de um traficante de drogas que resolve atacá-lo. Esse é só o início de uma série de acontecimentos que tornam Riku uma pessoa distante, que prefere não se envolver com pessoas e que vê no boxe a única saída para torná-lo forte, assim mais ninguém vai se machucar por sua causa.
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Rikudou é um mangá de ação, drama e esportes que foi criado por Toshimitsu Matsubara e é lançado na revista Young Jump desde 17 de abril de 2014, tendo sido publicados 68 capítulos até o momento.
Os primeiros três capítulos do mangá são fortes para quem não está sabendo por onde está entrando, o autor não tem o mínimo de preocupação em não te chocar com cenas onde seu queixo vai cair e, por isso, muita gente acabou o criticando por achar que aquilo era apenas um modo barato de conseguir atenção. Eu não concordo tanto com essas críticas e entendo que a intenção do autor ao mostrar a infância torturante que o protagonista passou tem como objetivo apresentar quais são as bases para as motivações e a personalidade do Riku; não questiono em nenhum momento qualquer uma das escolhas do garoto e entendo muito bem suas reações.
Passando desse início sombrio do mangá, temos um time skip e vemos toda a fase do Riku adolescente tentando se tornar um boxeador. A história se desenvolve mais voltada para que o leitor fique curioso para saber como o rapaz superou todas as suas dificuldades e traumas. Não espere uma pegada estilo Ashita no Joe ou Hajime no Ippo, não temos muitos escapes com piadinhas ou cenas engraçadas, o mangá mantem um clima mais sujo, me deixando as vezes sufocado e querendo ao menos um breve momento de alegria. E o que seria um mangá de esporte se o esporte fosse retratado de forma ruim? Rikudou não tem esse problema, apesar de que por enquanto não aconteceu uma luta importante, mas ainda assim cada uma das que foram apresentadas foram bem emocionantes e diferentes umas das outras.
Na questão de personagens temos, pelo menos, três principais. O protagonista Riku Azami que eu acho muito bem trabalhado; é interessante como não foi preciso muito tempo para que eu entendesse o que se passa pela sua cabeça e os motivos que o fazem ser daquele jeito. Yuki Naeshiro, a amiga de orfanato de Riku e que no início eu achei um tanto forçado os motivos dela desenvolver um interesse amoroso tão forte com o garoto, mas que em um flashback conhecemos sua história e acabou fazendo muito sentido, deixando a personagem muito melhor e menos irritante. E finalmente Kyousuke Tokorozawa, o último e ainda uma incógnita, ainda não compreendo qual é o papel e o porquê dele fazer o que faz, por enquanto ele serve mais como uma inspiração para o protagonista e o ajuda a seguir em frente. Outros por enquanto podem se tornar grandes mas ainda não possuem um grande destaque ou conteúdo – como o treinador Shinji Baba ou o possível rival Kaede.
A arte do Matsubara é excelente, os personagens são muito bem detalhados visualmente e não parecem tão genéricos a ponto de você achar que os viu em algum outro lugar. Durante as lutas ele torna o traço mais cru e brutal, os socos tem um impacto fortíssimo e são incrivelmente fluídos onde você não se perde e entende muito bem a movimentação de cada lutador; já no lado de fora e em momentos mais tensos, o desenho muda e conversa muito bem com a história, com sombras fortes e sem a aparência de um desenho mais “limpo” que eu estou tão acostumado a acompanhar.
COMENTÁRIOS GERAIS
Rikudou foi uma experiência divertida de se acompanhar, ainda mais porque foi um achado e não uma indicação por algum colega da otakusfera. O início é chocante, mas o mangá tende a ficar um pouco mais tranquilo com o passar dos capítulos – também não dava para ficar pior – e tem muito mais como propósito de calcar o que o protagonista vai se tornar em relação a sua personalidade e motivação. E em volta disso ainda tempos uma arte excelente e que casa muito bem com o que o autor quer passar em cada cena, com um traço que varia de acordo com a necessidade do momento.
O mangá funciona muito bem como uma história de esporte, as lutas tem uma pegada diferente do que eu estou acostumado, mas ainda assim são emocionante e muito empolgantes. Apesar de não ter tido nada de tão grandioso até o momento, o futuro parece muito promissor.