Review – Slam Dunk, o mangá atemporal e incrível de Takehiko Inoue

slam-dunk-review-cabecalhoQuase trinta anos de publicação, mas não poderia ser mais atual.

Confesso que demorei para começar a ler Slam Dunk. O volume número um ficou intacto durante vários dias, mesmo sabendo que essa seria uma “leitura obrigatória“, afinal de contas, se trata de um clássico. Nos últimos tempos tenho iniciado um projeto pessoal para corrigir certos erros na minha personalidade, nada realmente grande, mas que me impedia de expandir meus gostos por puro preconceito. Sabem, sou a mais nova de todos os redatores do ChuNan, enquanto os outros membros já estão formados e trabalhando, eu ainda estou estudando. Não peguei a época da TV Manchete, nem do Animax e também não colecionei um único mangá da Conrad. Comecei a acompanhar mangás graças a uma pessoa um ano mais velha e fui vendo o que estava em alta na época. Tudo que fosse mais antigo, que as pessoas nem comentavam, acabava rotulando como “ultrapassado” e seguia em frente. A questão é que, estou tentando recuperar o que perdi – o que realmente é bom e vale a pena – e não estou me arrependendo nenhum pouco. Aliás, o único arrependimento aqui é por não investido nisso antes.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-20Aonde quero chegar? Quero chegar no ponto onde seja “justificável” dizer que é por esse e outros motivos que demorei para ler o mangá; acreditava, por causa de um pré-julgamento bobo, a obra estaria datada, que seu tempo já teria passado e que hoje ela não alcançaria tantas pessoas. Mas não poderia estar mais errada, não é mesmo? O primeiro volume logo de cara já se mostrou uma motivação para querer ter a coleção inteira, eliminando completamente meu receio. Esperava volumes recheados de referências e piadinhas da época, porém me deparei com um protagonista que corre atrás de garotas e acaba assumindo o papel de um delinquente idiota, mantendo o bom humor da série – esse que inclusive consegue tirar risadas verdadeiras, daquelas que quem lê precisa rir em alto e bom som. Sakuragi Hanamichi não é ultrapassado, muito pelo contrário, é como se pudéssemos nos deparar com partes de sua personalidade em tantos outros personagens de tantos outros mangás shounen hoje. Nesse sentido, a obra não poderia estar mais atualizada.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-3HISTÓRIA

Sakuragi Hanamichi faz parte de uma gangue estudantil, conhecido pela sua cabeleira vermelha e pela sua altura. Ele não tem sorte com mulheres, nos seus 3 anos de ginásio ele recebeu 50 foras das meninas que ele se declarou, sendo que a ultima confessa que gostava de um rapaz do time de basquete e isso o abalou muito. Já no colegial ele ainda não podia ouvir a palavra basquete (nem palavras que lembrassem basquete). Mas um dia enquanto caminhava no corredor, uma garota linda pergunta se ele gostava do esporte e mal sabiam ambos que essa pergunta iria mudar a vida de Sakuragi.

Essa garota se chama Haruko Akagi, ela é apaixonada por basquete e pensa que o Sakuragi é um esportista por causa de seu preparo físico. Para ele, foi amor a primeira vista, até diz que é um esportista e que adora basquete. Alguns dias depois Haruko leva Sakuragi para a quadra de basquete e fala sobre uma jogada chamada Slam Dunk, quando o jogador enterra a bola na cesta com tanta força que parece que vai quebrá-la. Claro que ele resolve tentar, mas acaba errando o calculo e batendo com a testa na tabela (em uma das cenas mais hilárias do mangá). Haruko fica impressionada com o salto que ele deu, percebendo os dons que ele tem para jogar basquete. Mas só tem um probleminha: Sakuragi acaba descobrindo que ela é apaixonada por um jogador de basquete chamado Rukawa e assim ele acaba recebendo o primeiro fora no colegial…

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-7CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Slam Dunk é uma obra de Takehiko Inoue (Vagabond, REAL) e foi publicado dos anos de 1990 à 1996 na revista Shonen Jump, da editora Shueisha. A obra recebeu o prêmio na categoria shounen durante o 40th Shogakukan Manga Award em 1995. A série ainda recebeu uma adaptação em anime TV em outubro de 1993, sendo exibido até março de 1996; a adaptação transmitiu 101 episódios. Até hoje é uma das séries mais vendidas da história da Shounen Jump, tendo protagonizado um dos maiores períodos de auge da revista. No Brasil, o mangá foi inicialmente lançado pela editora Conrad, em meados dos anos 2000, com seu relançamento no ano de 2016, em novo formato simulando o kanzenban (edição definitiva), pela editora Panini.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-12Apesar de acreditar que Slam Dunk não é um mangá datado, o traço do autor entrega que a obra não é de hoje. Ele é recheado de características típicas de obras feitas nos anos 90 – desde os cabelos que misturam a cor preta com a branca para dar efeito, o modo como os olhos são desenhados, os penteados sem tanto contorno e até mesmo as roupas dizem isso – porém não desmerece de forma alguma, como o mangaká consegue desenhar e captar tão bem as jogadas de basquete. Não leio o gênero esporte tanto quanto gostaria, mas já li o suficiente para saber que há séries onde a ilustração não é fluída e nem autoexplicativa, onde quem desenha precisa tanto se prender a narrativa para explicar o movimento que, quando surge uma cena impactante, ela se parece superficial. Simplesmente não se encaixa. Mas aqui é diferente, é como se tanto a narrativa quanto a arte andassem de mãos dadas, sem conflito algum. Takehiko Inoue sabe fazer ótimos momentos de jogo que ocupam uma página inteira, assim como mostrar um movimento com um simples e pequeno quadrante. A arte do mangá é um dos pontos mais altos e, com certeza, é de deixar qualquer um de boca aberta.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-4Descreveria o romance como algo quase… Inexistente. Aliás, para ser mais exata, diria que o papel inicial deste é de fazer o humor da história acontecer, mas não, não estou falando daquela comédia romântica onde o protagonista cai em cima dos peitos da menina, saias voam e de repente surge um harém sem mais nem menos. Ao contrário dessas tramas onde o garoto tem meninas competindo por sua atenção, aqui se trata de um protagonista que é rejeitado sempre – com um pequeno recorde de 50 foras no total. Apesar de Sakuragi ter entrado para o clube de basquete afim de agradar Haruko, ele na verdade poderia ter se apaixonado por qualquer garota – sim, qualquer uma – que tivesse lhe dado o mínimo de atenção. Acredito que isso seja só mais um artifício para mostrar como o personagem principal evoluirá com o tempo, como ele não precisava se apegar a qualquer menina que passasse e sim se dedicar a algo para valer. Substituir uma paixão superficial, por algo realmente duradouro, como o amor pelo esporte.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-10Outro ponto muito atrativo no mangá é o fato do mesmo ser realista quanto a representação basquete. Longe de criticar Kuroko no Basket, mas convenhamos, ele não é a representação fiel do esporte; é um título divertido, de sucesso e interessante, porém vendia a imagem do basquete como algo mais fantasioso. Além de não acontecer isso em Slam Dunk, quem lê não precisa saber o nome de todos os movimentos, a quantidade de pontos que cada jogada tem ou coisas do tipo, assim como Sakuragi é um principiante e leigo no assunto o leitor acaba adquirindo maior facilidade em assimilar cada característica. Inicialmente, esse é outro motivo para rir com a obra: graças a personalidade inquieta de Hanamichi e sua vontade de superior em tudo, o personagem acaba se esquecendo que ele é só um novato e tenta movimentos arriscados e falhando, acontecendo de forma bem humorada. É o realismo e o cômico se fundindo, transformando os capítulos lidos ainda mais agradáveis.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-17Nesse parágrafo gostaria de falar do modo como os personagens de Inoue, porém de um forma um pouco diferente. Acompanho fielmente a Sato Zakuri, uma autora de shoujo que amo e que consumo o material produzido independentemente de ser bom ou ruim. Não faço isso por falta de mangás para ler mas porque gosto do modo como ela constrói desde a personalidade da protagonista até aqueles personagens que só vão aparecer uma ou duas vezes na obra. Achei nela uma preferência de heroína, por isso continuo devota ao lado da autora. Esse lance de como as personalidades são moldadas não é algo que aplico só para essa demografia, mas para tudo e, tenho certeza absoluta, que existem os favoritos de todo mundo. Hoje a imagem de Naruto x Sasuke pode ser o maior clichê dos mangás shounens, entretanto, há boatos de que Masashi Kishimoto teria se inspirado em Sakuragi e Rukawa ao criar os rivais preferidos do mundo contemporâneo dos mangás. Creio que ver o “original” é, no mínimo, intrigante. Recomendadíssimo para os que gostam da personalidade “briga de rato e gato” e, para os que já estão enjoados dela, confesso aqui uma pequena experiência. Alguns meses atrás peguei Black Clover, de Yuuki Tabata, e no quesito personalidade, se trata do maior clichê de shounen; resultado: não consegui levar a série para a frente. Já com a trama de Slam Dunk, aconteceu exatamente o oposto, talvez por causa da narrativa, do modo como isso é apresentado, não sei, mas sei que não parece algo superficial.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-15EDIÇÃO NACIONAL / PANINI (2016)

Fico feliz de ter esperado dois volumes até essa resenha, até porque se fosse levar em consideração somente o lançamento ia acabar me decepcionando um pouco com a edição nacional. Aliás, “decepção” não é bem a palavra, mas o que vou elogiar em um acaba não tendo o mesmo resultado em outro.

Uma das minhas maiores preocupações quando peguei a série para ler foi de me deparar com um vocabulário bem antigão; sim, eu não gosto e isso é algo meu e somente meu, porém, para minha grande surpresa a adaptação do primeiro volume estava excelente (novamente, para essa que vos fala). Tudo o que tinha no volume era o suficiente para ler hoje e entender, assim como seria possível ler daqui dez anos sem grandes complicações. Nem com expressões tão novas, nem com expressões tão velhas. Exatamente no ponto certo.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-11Acontece que, no segundo volume, a situação inverte. Os adjetivos usados no volume variam desde um simples bocó até um “cagueta”, fazendo com que o mangá esteja recheado de expressões dos anos 90. Ok, digamos que a editora queira representar a obra de maneira mais fiel ao tempo que foi lançado; é compreensível, é normal. O que me incomodou foi ver a mudança que aconteceu de uma publicação para outra, digo, se for para escolher um tipo de adaptação que ela esteja presente desde o início. Admito que fiquei contente ao ver conversas sem tantas gírias, até porque acredito que para se buscar um público novo com mangás antigos, ele também precisa estar de acordo com a era em que esses consumidores vivem. Enfim, opinião impopular sim. Não vou deixar de acompanhar a obra por um motivo tão pequeno, ainda mais por ter descoberto o quão incrível ela é, mas se pudesse pedir algo, pediria que escolhessem uma única fórmula e a seguissem até o fim.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-5Quanto a parte física não consigo colocar defeito nenhum. A série está sendo publicada em um formato de luxo que já conhecemos – presente em The Gods Lie, Planetes, Bestiarius e tantos outros – com papel off set sem transparência, orelhas e, para minha grata surpresa, páginas coloridas. Essas aliás não estão presentes somente no volume um, como também no segundo – e devo confessar que não estava esperando nesse, além de estar aguardando quietinho no final do encadernado, pensava que seria somente privilégio do primeiro mangá. O preço é o mesmo de Vagabond, R$17,90, sendo bimestral, com o formato de 13,7×20 cm, com cerca 240 páginas e concluída no Japão 24 volumes. Você pode adquirir o mangá pela Amazon brasileira.

slam-dunk-fotos-resenha-chunan-panini-14COMENTÁRIOS FINAIS

Fiz um pequeno “desabafo” no começo da resenha mas fiz para, talvez, mudar a cabeça de quem hoje pensa como eu pensava. Vejo pessoas cada vez mais jovens adentrando o mundo da cultura japonesa, sendo cada vez mais frequente encontrar alguém que tenha assistido pelo menos um anime – mesmo que seja aquele que todos do nicho conhecem. Para se ter noção, a idade mínima de leitores que acompanham a nossa página do Facebook é de 13 anos de idade! A questão é que, o mercado de mangás cresceu, o acesso a esse tipo de conteúdo também e querendo ou não n novos títulos estão disponíveis e criando possibilidades de leitura todos os dias. Acompanhar o que está no hype é legal, divertido, porém não cometa o erro de deixar clássicos para trás. Não pense que são famosos à toa. Slam Dunk pode ter quase 30 anos, mas ainda não pode ser classificado como dispensável e, sim, é leitura obrigatória.


FICHA TÉCNICA

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Título: Slam Dunk
Autor:  Takehiko Inoue
Editora: Panini
Total de volumes: 24
Periodicidade: Bimestral
Valor: R$ 17,90
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Nota Volume 1: ★★★★★

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